Fazia muito tempo que um filme de época embasado em guerras não me emocionava tanto. E "Viva a França!" ou traduzindo ao pé da letra o título original, que dá mais sentido para o filme "Em Maio, Faça o Que Quiser" é daquelas obras para se deleitar com o visual, se comover com a boa história contada, se encantar com a ótima trilha sonora, e ainda se conseguir juntar tudo isso de uma única vez na mente, sair totalmente feliz da sessão, pois embora baseado nos depoimentos reais de pessoas que abandonaram suas casas nos anos 40 na França, o filme até mostra cenas duras e fortes, mas como o trailer mesmo diz, o que o longa nos entrega é uma história com final feliz durante a França ocupada. Ou seja, um filme brilhante, com ótimas nuances dentro da história que nos mostra o quanto bons filmes podem surgir em nossa frente e nem vermos, pois jamais imaginaria com a sinopse abaixo, com o nome nacional, e sem ver o trailer que veria algo tão perfeito como foi essa ótima combinação de estilos. Ou seja, irei torcer muito para que volte comercialmente para o Brasil, pois todos que não viram no Festival Varilux merecem ver essa obra-prima do cinema francês.
O longa nos conta que em maio de 1940, as tropas alemãs estão prontas para invadir a França. Assustados com o progresso do inimigo, o povo de uma pequena vila decide desafiar as ordens do governo, fugir e desbravar rotas desconhecidas para se esconder da ameaça estrangeiras.
Longas que envolvem guerras em seu enredo costumam custar muito, afinal são explosões, inúmeros cenários, equipamento bélico aparecendo (mesmo que digital dá um trabalho imenso, mas aqui pareceu real demais), e claro que os produtores arrancam todos os cabelos quando algum diretor vem com esse estilo de proposta, pois mais que ousadia nesses quesitos que falei acima, o diretor ainda pôs uma vila inteira em movimento com cavalos, carroças, carros, milhares de apetrechos, crianças, ganso pendurado e tudo mais que você possa imaginar, e além disso, trabalhou o longa em três vértices que vão se encontrando de acordo com a velocidade de cada um, ou seja, não temos apenas uma história do reencontro do filho com seu pai preso/libertado, mas temos do prefeito comandando a fuga de todos da sua vila, e a do diretor de cinema alemão gravando a invasão completa dos alemães destruindo os exércitos pela frente. Ou seja, três histórias ótimas, num único filme, que foi trabalhado não de forma novelesca como muitos fariam, mas totalmente detalhado no melhor estilo de drama cinematográfico realista, encaixando perspectivas e trabalhando para que cada ato fosse bem encaixado para o rumo final da trama, mostrando que Christian Carion não só escreveu uma obra prima, como também a dirigiu com os rumos que desejava alcançar, um feito que muitos longas candidatos à diversos prêmios de festivais sequer conseguem passar perto, e como é baseado nos depoimentos reais das pessoas que fugiram, o diretor acabou montando cada família, cada situação com detalhes precisos que valem muito a pena detalhar numa visão mais ampla.
Como disse acima, temos basicamente três histórias que se desenrolam paralelamente, e claro que todos os atores deram seus máximos para cair bem nos seus momentos de ápice, como também quando se conectam com as outras histórias. Então é claro que August Diehl é um tremendo ator alemão que já vimos em diversos filmes americanos, ingleses e tudo mais, fala três idiomas fluentemente, e aqui com seu Hans mostrou bem sua dialética nos três, trabalhando bem com seu alemão nas cenas iniciais e finais, recaindo bem no inglês nas conversas com o soldado escocês/inglês Percy, e no restante do filme agradando com o francês com os personagens da vila, ou seja, um ator completo que além disso trabalhou bem sua performance, dando trejeitos emotivos em várias cenas, sendo dinâmico quando precisou e servindo para qualquer cena que o diretor desejasse que fizesse. Olivier Gourmet fez de seu Paul, aquele prefeito que muitos atacam, mas que também a maioria prefere seguir num momento mais crítico, claro que o ator trabalhou seu semblante muito fechado na maioria das cenas, mas quando precisou colocar paixão/emoção, ele soube fazer com precisão também. Thomas Schmauser apareceu pouco como o diretor Arriflex, mas todas as suas cenas foram tão bem encabeçadas com um humor negro duríssimo de ver, que por mais incrível que pareça Hitler gostava desse estilo de filmes promocionais feitos na medida por alguns malucos, e o ator fez caras e bocas completamente plausíveis de se ver um diretor do estilo fazendo, ou seja, um encaixe cômico e duríssimo de se ver na telona, mas muito bem interpretado. Matthew Rhys deu ao seu Percy trejeitos muito bem encaixados com o que necessitava para ter um bom carisma, pois se formos analisar friamente, um soldado líder de batalhão não faria uma linha tão vida mansa como foi mostrado no longa, mas é claro que o ator soube dosar as cenas mais tensas com as mais leves de forma incrível, agradando bastante no que fez. Alice Isaaz deu um tom tão meigo para sua Suzanne, que chegamos a ficar apaixonados pela liberdade artística da personagem, e que a atriz não forçou um olhar sequer que saísse da centralidade que necessitava, agradando na medida certa, fazendo caras de choque quando precisou, e que teve fechou o longa de uma forma bem linda ainda ao combinar toda expressividade que o título original lhe propôs. O jovem Joshio Marlon não só fez uma estreia brilhante nos cinemas, como colocou alma na personalidade de seu Max, fazendo cada cena ser única com sua inclusão nos diversos momentos, ou seja, um garoto que soube dominar a câmera quando essa vinha em sua direção, e que se seguir bem a linha deve chegar muito longe. Poderia falar mais de cada um da trama, pois todos saíram muito bem, mas para fechar tenho de dar destaque para a ótima comicidade das cenas de Laurent Gerra com seu Albert e a dúvida cruel de qual vinho levar de sua adega, e não bastasse essa ótima cena, nas demais sempre encontrava algo muito bem encaixado para divertir o público com muita simplicidade, ou seja, fez tudo bem.
Sobre o visual da trama como disse no início, esse estilo de filme demanda uma produção monstruosa, com diversos elementos cênicos e principalmente que tudo funcione com muita veracidade. É possível que todas as cenas com aviões tenham sido feitas digitalmente, mas fizeram de forma tão bem feita que realmente simularam o melhor de uma guerra que são os malucos dando rasantes alvejando as pessoas no meio do caminho, além disso a cena com diversos tanques passando ficou algo muito interessante de ser olhado, mostrando todo o aparato bélico que a equipe conseguiu, e não bastando isso, todos personagens estavam devidamente caracterizados como bons camponeses, cheios de carroças, animais, apetrechos e tudo mais que valorizassem o trabalho da equipe artística, ou seja, um filme cheio de minúcias, que foram muito bem destruídas, não economizaram nas cenas caras, e também não economizaram nas cenas com muito sangue, pois todos os mortos foram bem mostrados, na maior parte das cenas (uma ótima sacada foi o primeiro olhar de Suzanne não mostrar o caos, pois demandaria imagens com muitos animais, e tudo jogado aos ares, mas sim depois cada quadro separadamente, ficou bem representado e ainda chocou o público). A fotografia utilizou diversos tons durante toda a produção, trabalhando bem os dégradés de marrom para as vestimentas e cenas mais fechadas, mas sempre que possível o diretor jogava tons mais escuros ou algumas vezes bem claros para dar destaque e contraste, já que o verde tradicional das vestimentas dos alemães não poderia destoar dos demais, e claro o cinza recaindo bem para dar a grade.
Agora algo que deu um incremento monstruoso para a produção do filme, sem dúvida alguma foram as trilhas sonoras compostas por Ennio Morricone, pois esse gênio dos filmes western também sabe e faz muito bem canções melódicas para dar tom à qualquer tipo de longa que deseje criar sentimentos no público, e aqui o filme quase põe o público para dançar acompanhando as ótimas nuances de cada cena com as escalas rítmicas que acabou trabalhando. Ou seja, se o filme em si já era ótimo com tudo o que já havia apresentado, ao incorporar cada momento com uma canção bem determinada, ficou excelente.
Enfim, falta ainda um longa para conferir dos 14 que vieram com o Festival Varilux de Cinema Francês, mas dificilmente conseguirá remover o posto desse filme como o melhor do Festival, e certamente que ficará em minha mente como um excelente exemplar de filme de guerra com boas pitadas dramáticas e até uma certa comicidade no limite. Ou seja, infelizmente não sei dizer se quem não viu no Festival, verá ele tão cedo, pois a distribuidora Fenix não é tão grande e nem tem data para ser lançado ainda no Brasil, mas assim que aparecer vejam, pois valerá muito a pena o ingresso pago. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com o último longa desse ótimo Festival Varilux que tivemos na cidade, então abraços e até breve.
1 comentários:
Acho filmes de guerra um pouco cansativo,barulhento demais e parecem mais longos do que realmente são, mas Viva A França está na medida certa.Gostei muito.Recomendo.
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...