domingo, 31 de julho de 2016

Os Caça-Noivas (Mike And Dave Need Wedding Dates)

Reclamamos tanto das nossas comédias nacionais que quando vamos ver uma americana que apela tanto quanto para fazer rir, ficamos pensativos se realmente estamos vendo toda essa baixaria gratuita aonde o fruto do sucesso seja jogado de escanteio para ninguém cabecear e divertir o espectador. Digo isso de "Os Caça-Noivas", pois é difícil ir ao cinema esperando rir das boas piadas (sim, há momentos bem encaixados no roteiro), mas só ficar se divertindo mesmo nos momentos em que os personagens apelam ao máximo para tentar algo que funcione de tão absurdo que é. Ou seja, um filme de certa maneira inusitado por ser baseado em fatos reais, mas que diverte tão pouco que quase não é possível classificar ele como comédia.

Os irmãos Mike e Dave tem fama de arruinarem as festas da família. Sabendo disso, sua irmã, que está de casamento marcado, decide que eles só irão ao casório se encontrarem parceiras que os controlem. Depois de colocarem um anúncio online, duas meninas dos sonhos aparecem. O que eles nem desconfiam é que as duas são suas versões femininas - fazendo de tudo para manter a classe e ganhar uma viagem de graça para o Havaí.

Um dos problemas claros do filme além das situações exageradas, é o fato de se notar uma falta de direção mais coesa, pois os personagens parecem estar soltos durante a maioria das cenas fazendo o que der e vier na telha, de tal modo que cada ato é jogado para cima e quem pegar que interprete bem. O diretor Jake Szymanski estreou com o pé errado na direção de longas após diversos curtas, e isso com certeza vai marcar sua carreira, pois o ato de divertir o público realmente não é algo fácil de se fazer, mas lá quem faz filmes só por fazer acaba pagando preços caros e não pegando mais tantos filmes para dirigir. Não digo que o seu trabalho foi de todo ruim, mas está longe de ser um filme que gostaria de lembrar por alguma coisa que tenha me feito rir, e somente alguns momentos absurdos funcionaram justamente pela quebra de eixo. Ou seja, se queriam algo completamente absurdo e forçado que funcionasse, apelasse de vez como aconteceu em outros filmes, mas tentar trabalhar alguma mensagem romantizada junto de uma comédia bagunçada, o retorno não encaixou direito.

Sobre as atuações dos protagonistas, podemos dizer que nem Zac Efron parecia estar gostando do que estava fazendo, pois é nítido ver que seu Dave sempre está atrás de todas as cenas, com emoções e expressões sempre fracas e apáticas, o que não condiz com o que fez em outras comédias, então certamente poderia ter dado mais de si para que o personagem não ficasse tão fraco. Adam Devine é o tradicional humorista que grita e apela para que seu personagem seja ouvido, então de cada duas cenas sua, uma certamente era apelativa e forçada, de tal maneira que seu Mike acaba até fazendo o público rir, mas falta muito ainda para que ele seja um comediante que empolgue sem gritaria. Anna Kendrick conseguiu mesmo de uma forma singela, ainda ser menos apelativa nas cenas de sua Alice, claro que pra isso ela acabou ficando meio apagada, mas soube dosar com humor nos seus momentos principais, e assim sendo a jovem se mostrou preparada para o estilo que o filme pedia em segundo plano. Aubrey Plaza deu uma personalidade estranha para Tatiana, mas coerente com a personagem, só não precisaria de algumas cenas bizarras que acabou fazendo, pois diria que praticamente todas poderiam ser cortadas e ainda tudo o que fez iria condizer com a personagem. Sugar Lyn Beard até teve bons momentos com sua Jeanie, mas sua voz encaixada numa personagem esquisita é algo que certamente acabou destoando de tudo, mas ainda assim foi bem no que fez. Dos demais, a maioria foi participação no longa, porém sem dúvida alguma a cena mais bizarra do longa ficou por conta do massagista interpretado por Kumail Nanjian, que embora tenha sido algo forçadíssimo, fez o público rir ao menos.

São raras as comédias que trabalham bem a cenografia, e aqui não seria diferente, pois não temos quase nada para dar um destaque no contexto visual da trama senão um bom hotel no Havaí, as planícies que foram gravados Jurassic Park, e claro dentro dos locais internos a sauna e a sala de massagem que embora simples acabaram significando bons momentos dentro da trama. Além disso o destaque mais positivo fica por conta da organização final do casamento, que mostrou mais do que todo o longa no quesito criativo cênico. A fotografia também não trabalhou cores e tons para dar comicidade, deixando tudo de maneira simples demais tirando as cores dos figurinos excêntricos dos personagens.

Enfim, um longa que certamente amanhã nem vou lembrar de ter assistido, que tendo um ou dois bons momentos, o restante das piadas só cai bem no fechamento ao mostrar os erros de gravação, ou seja, totalmente dispensável, e sendo assim não o recomendo para ninguém, a não ser que você goste de comédias apelativas, pois aí é capaz de rir em mais cenas. Bem, fico por aqui encerrando essa semana cinematográfica, mas volto na próxima quinta com mais textos, então abraços e até lá pessoal.

O Bom Gigante Amigo (The BFG)

Se Spielberg não fazia um bom longa infantil desde "E.T. - O Extraterrestre", com "O Bom Gigante Amigo" certamente ele se redimiu de qualquer outra tentativa inusitada de filme feito para a família, pois é isso o que o longa nos passa, uma boa mensagem de amigos, de que sonhos fazem a mente fluir para criar novos rumos e usando de uma simbologia fictícia bem gostosa, o diretor trabalhou bem a linguagem infantil (de crianças que ainda não frequentaram as escolas e falam errado não por desejarem, mas por palavras difíceis se misturarem na correria de falar seus sentimentos), e com as boas nuances da eloquente boa atuação de Mark Rylance para com suas falas, junto da ótima química que ele teve com a estreante Ruby Barnhill, o resultado é um longa que emociona e cativa as pessoas à terem bons pensamentos para criar bons sonhos, ou seja, um filme incrível que merece ser visto, e digo mais até pontuo o que tanto estão reclamando do longa, pois como muitos cinemas optaram por passar somente cópias dubladas, os trejeitos infantis da fala do gigante certamente devem incomodar demais, enquanto no legendado, a sonoridade das palavras fazem todo o sentido, portanto vá ao cinema ver (se for possível) a cópia legendada do longa.

A sinopse nos revela que a pequena órfã Sophie encontra um gigante amigável que, apesar de sua aparência assustadora, se mostra uma alma bondosa, um ser renegado pelos seus semelhantes por se recusar a comer meninos e meninas. E sendo assim, a garotinha, a Rainha da Inglaterra e o ser de sete metros de altura unem-se em uma aventura para eliminar os gigantes malvados que estão planejando tomar as cidades e aterrorizar os humanos.

É claro que nem sempre os fãs de livros curtem a ideia final de um filme sobre ele, pois raramente adaptam de forma coerente e o resultado geralmente fica aquém do que o público fantasia sobre a história, porém o bom roteiro baseado no livro de Roald Dahl("A Fantástica Fábrica de Chocolate","Matilda") ficou muito interessante de ser visto, e acaba cativando por entremeios a aventura e a emoção dos personagens de maneira que mesmo quem não leu o livro consiga viajar por suas folhas com toda a dinâmica que Steven Spielberg fez em sua volta aos longas infantis. Claro que há defeitos no contexto  completo da história, mas são tão irrelevantes que com ótimas nuances simbólicas da Terra dos Sonhos que nos faz divagar sobre grandes temas de sonhos e a mensagem que cada um traz, juntamente com o trabalho do gigante para soprar sonhos nos corações que ele ouve a necessidade de sonhar acaba comovendo e mostrando que o trabalho de pesquisa juntamente com a ótima criatividade do diretor nos levou a sonhar junto com tudo o que foi mostrado em seus planos bem amplos que felizmente não atrapalharam em nada a mixagem entre computacional e real, ou seja, um filme incrível tanto na base textual quanto na expressiva e produtiva que a trama exigia.

No quesito da atuação é maravilhoso ver os ótimos momentos de Mark Rylance trabalhando muito bem sutilezas como erros de fonemas e gramática para que a sonoridade das palavras que seu BFG fala ainda digam o mesmo entendimento, mas se embaralhe na alta velocidade de expressar, e também é interessante observarmos nele, o quanto um ator que teoricamente é alguém com uma cara dura e que transmite sempre uma seriedade incrível nos personagens que faz, pôde fazer um longa sendo tão doce e com nuances tão bonitas. É interessante ver que Ruby Barnhill não apenas estreou com o pé direito para aprender com um dos mestres do cinema como é atuar, mas também é notável todo o carinho que cada um depositou nela para que a jovem empolgasse e fizesse tudo como fez, ou seja, fica a dica para ficarmos de olho em mais uma ótima atriz britânica que surge no cinema. Penelope Wilton até teve bons momentos como a rainha da Inglaterra, mas foram tão poucas cenas que nem teve tanto trabalho em se divertir na cena mais cômica do filme, dando um ar bem carismático para a personagem (e claro que temos de dar destaque para seus corgis). Rebecca Hall também apareceu pouco com sua Mary, mas de cara entrega o final do longa, e isso é um certo erro para a dinâmica do filme, não sei se está no livro/roteiro assim, ou se foi uma falha da atriz. Os gigantes em geral mesmo com caras de idiotas, ainda trabalharam bem as faces maldosas que lhe deram os nomes engraçados, mas é difícil dar destaque para qualquer um que seja, pois todos agiram sempre sendo infantis e atrapalhados nas cenas mais comuns.

O excelente visual foi criado para mostrar perspectivas incríveis que deram todo o deslumbre da trama, que mesmo não seja algo tão profundo e elaborado, ainda acaba envolvendo pela beleza simbólica que foi mostrada, e cheia de elementos cênicos acabaram trabalhando muito bem tanto na terra dos gigantes (aonde tiveram de trabalhar acertadamente com objetos bem pequeninos para que ao gravar com os atores reais, eles parecessem gigantes mesmo), na terra dos sonhos aonde os protagonistas puderam brincar com muitas luzes (provavelmente digitais, mas que foram lindas de ver), e claro no palácio aonde o trabalho de criação foi algo digno de premiação, pois fazer com que tudo fosse trabalhado em dois tamanhos e tivesse algo para ser mostrado é algo muito bonito de se ver. E claro que também tiveram bom senso para criar uma cidade muito bem colocada numa época cheia de detalhes. A fotografia trabalhou diversos tons para dar o carisma necessário para cativar as crianças e claro os mais sonhadores adultos, e sem perder nuances, cada cena foi elaborada minuciosamente para que o digital se misturasse bem com real e criasse as perspectivas necessárias para um longa bem envolvente. Não assisti ao filme com a tecnologia 3D, afinal quase nem vieram cópias legendadas para a cidade, quanto menos 3D legendado, mas fica bem claro todos os momentos que usaram da tecnologia e de certa forma não é algo que mudará tanto a visão do filme, ou seja, não senti falta do recurso para o longa agradar, principalmente por ser algo convertido e não filmado com câmeras 3Ds.

Enfim, recomendo demais o longa que foi uma grata surpresa, afinal vi o trailer apenas uma vez nos cinemas e não conhecia a história do livro. Fiquei sabendo também de uma animação datada de 1989 que conta a mesma história e irei tentar conferir ela para fazer comparações, mas por enquanto deixo minha completa recomendação desse filme que é emocionante, divertido e com boas nuances tanto para os pequenos, quanto para adultos que gostem de histórias mais infantis. Como disse acima, quem puder ver legendado, certamente irá ver um longa bem mais interessante pela sonoridade das palavras, então fica a dica. Fico por aqui agora, mas volto mais tarde com o texto da última estreia da semana no interior, então abraços e até breve.

sábado, 30 de julho de 2016

Big Jato

Se nos seus longas anteriores, a forma poetizada de discutir situações polêmicas funcionou bem, em "Big Jato" não podemos dizer que o diretor Cláudio Assis foi bem sucedido. Digo isso pois a polêmica aqui é tão leve que a poesia acaba se aflorando e deixando todo o restante de lado, e o estilo permeado nem flui como deveria, deixando o longa ambíguo e sem muito nexo, ou seja, acaba girando como um pião sem sair do lugar nem para ver que a sujeira poderia ser muito mais bem trabalhada. Claro que basicamente a ideologia do texto de Xico Sá é algo mais infantil, e não poderia ser tão aplicada às polêmicas que o diretor tanto gosta, mas vamos confessar que o filme não necessitava ser tão metafórico e jogado não é mesmo? E sendo assim, infelizmente é um longa que não vai comover, idealizar ou trabalhar qualquer ideia, passando 93 minutos apenas numa sala escura tentando ao máximo entender alguns momentos ruins de captação sonora.

O longa nos mostra que o menino Francisco passa os dias a acompanhar o pai no trabalho, ou melhor, nas estradas. O homem é motorista do imponente Big Jato, um caminhão-pipa utilizado para limpar as fossas da cidade sem saneamento básico. Mas o garoto está mais interessado nas ideias do tio, um artista libertário e anarquista. À medida que descobre o primeiro amor, Chico percebe a vocação para se tornar poeta.

A forma simbólica como o diretor transborda a passagem de fases do garoto e todos os seus pensamentos permeados entre os três modelos que tem ao seu dispor (o pai, o tio, e o amigo poeta) é algo interessante de ser vista, mas pra isso o diretor necessitou apelar por entremeios desgostosos e isso não é algo que funcione para o público, de tal maneira que o longa que possui um viés cultural poderia trabalhar de inúmeras maneiras todo o restante da história ao invés de focar tanto em algo que não necessariamente sai do lugar, como é a passagem de um jovem para o mundo adulto com todas suas dúvidas e anseios. Claro que esse mote certamente é mais bem trabalhado no livro de Xico Sá, e o texto foi adaptado para a vertente completa do filme, mas conhecendo o estilo de obra de Assis, o filme certamente teria outra veia se trabalhado sob outros moldes. Não digo que é um filme ruim, afinal todo o trabalho conceitual é interessante de ser estudado, mas a reflexão completa só se dá se a pessoa for ao cinema pronta para refletir sobre o tema, senão a chance de sair da sala sem ter entendido nada do que se passou é bem alta. Além disso, é um filme com muitos ruídos (barulho monstruoso do caminhão, vento, pessoas que falam com sotaque, músicas ao fundo) e isso atrapalha demais a compreensão total dos diálogos, então não sou favorável à isso, mas assim como aconteceu em Cine Holliúdy uma sugestão para quem assistir o longa em casa é que ative legendas, pois talvez melhore um pouco o filme sabendo tudo o que foi dito.

A grande sacada para com a ideia do filme, ficou por conta do ator Rafael Nicácio, pois sua inexperiência em longas deu toda a simbologia expressiva que o personagem necessitava, de alguém sem conhecimentos dos traquejos de câmera, de saber para onde olhar realmente, ou como agir em determinadas cenas, e dessa forma seu Francisco acaba se conhecendo em frente às câmeras, e isso dá um tom certeiro para os momentos do ator no longa. Claro que estar ao lado de Matheus Nachtergaele fazendo dois papeis completamente diferentes ajudou e muito o garoto para o que acabou fazendo, pois tanto Francisco como um homem simples com seu caminhão de limpeza como Nelson radialista anarquista são personagens que destoam do senso comum e sempre convergem as atenções cênicas para suas ideias, e o diretor aproveitou muito esses personagens para dar o olhar para o jovem interpretar quais rumos usar de cada ato do grande ator que é Nachtergaele, e com isso o ator trabalhou mais a inspiração cênica com suas atitudes do que interpretações vivas para dar contexto à trama, mas como disse, se o foco fosse neles, teríamos um filmaço, pois o ator é genial em tudo o que faz. Dentre os demais atores diria que é algo difícil de apontar bons momentos interpretativos, pois de certa forma estão apenas apoiando em cenas jogadas, e isso não é algo tão agradável de se ver, mas se tenho de dar um destaque é claro que deixo para Marcelia Cartaxo como a mãe do garoto, principalmente nas suas duas cenas de explosão, pois ali a atriz mostrou que não estava disposta a ser apenas elenco de apoio, mostrando que sabe atuar e bem.

O fator visual do longa também é algo que chama bastante atenção, pois mesmo com tudo muito simples, é notável o trabalho cênico que a direção de arte teve para montar cada ato como um ritual de passagem, seja no puteiro, na delegacia, na casa, no trilho de trem e até mesmo no caminhão, pois cada dinâmica representou muito para a simbologia que desejavam mostrar. Claro que isso é um acerto para com o roteiro do filme, e funcionou bastante, mas volto a ser chato nessa questão que o filme agradaria demais se trabalhado outras vertentes, e olhando de uma maneira mais subjetiva pela cenografia toda, o anseio do diretor por politizar o filme estava presente em quase todos os momentos, então pode ser que no corte final ele tenha desenhado até algo diferente, mas optou por mostrar um outro lado seu, que não foi tão bem acertado. No conceito fotográfico, a coloração árida do sertão é incrível de ser vista seja em qualquer tipo de longa, e friso que longas nacionais deveriam apelar mais por esse estilo de tom, que marca e agrada muito por não ficar preso ao tradicional americanizado que muitos longas optam por fazer.

Enfim, é um filme que até possui um potencial interessante e poderia agradar mais, porém está bem longe da forma que foi concebido de agradar quem for assistir esperando um longa mais introspectivo e com uma mensagem mais forte, ou algo mais singelo e cheio de diversão, ficando em cima do muro do que desejava alcançar. Ou seja, recomendo ele somente para quem estiver disposto a refletir sobre tudo o que disse acima, pois a chance de analisando cada momento do longa separadamente para concluir algo mais preciso é talvez a melhor maneira de não sair reclamando de tudo o que verá, e sendo assim não vá ver se não for dessa maneira. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com outros longas que estrearam na cidade, então abraços e até breve.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Jason Bourne

Se o filme anterior tentou pegar o legado de Bourne e criar uma nova vertente, acabando falho e por horas até cansativo (já que temos ação, mas parecia sempre faltar algo), agora com a volta do protagonista original e do diretor original, o acerto é tão iminente que alguns pôsteres apenas estão colocando "Você sabe o nome dele", pois "Jason Bourne" é o ícone de uma época e mostra como se faz um bom filme de ação, aonde nem um pode ser considerado inocente de qualquer acusação e colocando traição em cima de traição, ligando detalhes mínimos à tudo o que se possa pensar e claro muita ação e pancadaria, o filme empolga do começo ao fim e faz com que o público já fique ansioso para novas continuações, pois agora sim temos o original pronto pra briga. Ou seja, um filme que acerta em cheio na dinâmica necessária para deixar o coração palpitando desesperado para ver aonde vai tudo, e que sem dúvidas cria novas perspectivas para um gênero que de certa forma vinha desgastado.

O longa nos mostra que fora do radar como lutador de rua, Jason Bourne é surpreendido por Nicky Parsons, que o procura oferecendo novas informações sobre seu passado. Inicialmente resistente, ele acaba voltando aos Estados Unidos para continuar a investigação e entra na mira do ex-chefe Robert Dewey, que teme mais um vazamento de dados. Dentro na CIA, no entanto, a novata Heather Lee acredita que tentar recrutar Bourne para a agência seja a melhor solução.

Se nos longas anteriores "Ultimato Bourne" e "Supremacia Bourne", que não teve envolvimento no roteiro, o diretor Paul Greengrass já havia conseguido trabalhar bem as cenas de ação, envolvendo as dinâmicas com bons textos, agora que assinou também o roteiro, já fez questão de cada nova cena, uma pancadaria bem colocada para que não fosse necessário cenas calmas para tudo acontecer, de tal maneira que nos 123 minutos de duração do filme são raros os momentos em que a câmera fica estacionada para que alguma situação aconteça ali, ou seja, claramente assinou embaixo do título com caneta marca-texto: "um filme de ação total". Não podemos falar que o longa traz muita novidade, afinal o estilo da franquia já foi sugado ao máximo que podia com três filmes, mas vamos ser sinceros, quem liga para isso, o que queremos é uma boa ação, com um enredo coerente e que tudo se encaixe, pois como muitos costumam dizer: "nada se cria, tudo se copia", então se o molde já está pronto, souberam dar a dinâmica correta e ainda colocar elementos novos para futuros projetos. Claro que o excesso de flashbacks, alguns momentos que nem lembrava realmente dos filmes, se existiu realmente ou se foram colocados com visual antigo apenas para montar a história, acaba cansando em determinadas cenas, mas como servem de base para o conteúdo completo, o resultada agrada. Ou seja, o diretor/roteirista fez o que devia para que com muita grana (afinal somente na cena de perseguição com um blindado devem ter destruído alguns milhões) fizessem muita grana nas bilheterias, pois todo mundo quer ver Bourne novo, mesmo que seja para reclamar de clichés. Esperemos agora pelos resultados e o anúncio de gravação do quinto filme.

Com toda certeza a carreira de Matt Damon ficou bem marcada pelo estilo de atuação que colocou com tanto afinco no personagem de Jason Bourne, pois assim como foi estranho ver outro ator fazendo o papel no filme de 2012, a sua volta é tão clara que não notamos nuances, não notamos erros, nem nada, parece que o personagem e o ator se misturam de alma e representação, fazendo com que mesmo não tendo os trejeitos jovens de quando iniciou a franquia, ainda tenha muita disposição para as grandes cenas de ação que o filme pede, sendo assim perfeito para tudo. Uma grata surpresa, que nem é mais tanta surpresa pelo potencial que sabemos que a atriz tem, ficou por conta de Alicia Vikander, com sua Heather Lee, que iniciou-se misteriosa, depois vai tomando forma com os anseios da personagem, para ter um gran-finale bem impactante cheio de jogada para ver o que vai acontecer no desenrolar da franquia, de modo que a atriz soube dosar bem sua expressividade, sem atacar logo de cara, mas também não deixando que o público esquecesse aonde ela entraria em cada momento da trama, e essa grande sacada fez dela mais do que uma simples coadjuvante na trama. Tommy Lee Jones tem apenas 70 anos, mas aparenta ter mais de 100 pelo estilo sério que adota em seus personagens, e sempre com trejeitos fechados é claro que ninguém espera algo de bom vindo dele, e seu diretor da CIA de cara já demonstra a que veio, fazendo com que Robert Dewey seja marcante e cheio de boas jogadas, e mesmo que não tenha aparecido em nenhum outro filme da trilogia clássica, aparentou estar sempre nos bastidores para dar bons encaixes, e isso o ator soube fazer com uma facilidade incrível de ser vista. Agora se querem um bom ator para colocar como vilão, o nome de Vincent Cassel é o mais cotado pra atualidade, pois o ator mostrou persistência em buscar seus objetivos e com um estilo interpretativo da melhor linhagem, segurou bem as expressões corretas para cada momento, e não decepcionou nos momentos de luta, ou seja, encaixe perfeito para o papel. Embora apareça pouco, Julia Stiles voltou para seu papel de Nicky Parsons de uma maneira bem coerente e teve bons momentos para mostrar seu estilo, claro que esperávamos bem mais dela, mas não foi dessa vez. De certo modo, a participação de Riz Ahmed como Aaron Kalloor (ou seria uma projeção Mark Zuckerberg indiano???) seria apenas para esse filme, mas como o ator acabou saindo bem nas suas poucas cenas, e o fechamento da ideia não foi concluído aqui, acredito numa segunda chance para que ele possa aparecer e mostrar seu projeto de inteligência, pois é um ator simples, mas de olhares bem interessantes para encaixar no texto.

Com muitas locações externas e em diferentes localidades (pelos créditos se vê que tiveram equipes em cada país que a trama mostra realmente), e muita destruição para ocorrer, certamente o orçamento enorme foi até bem gasto, pois a trama tem ação para ninguém botar defeito, e com bons elementos de espionagem (ainda não acredito no estilo de hackeamento que é mostrado no filme, pois é algo incrível de acontecer, e que chega a dar medo demais) o filme acabou sendo trabalhado para ter dinâmica, então não temos momentos parados para analisar cada cenário, cada objeto ou cada figurino como acaba acontecendo em diversos outros longas, mas uma coisa é fato, que tudo foi usado com primor para que cada elemento convencesse e parecesse bem real dentro do que estava acontecendo. E falando em realidade, a cena de perseguição final como já falei acima certamente desbancou bem o orçamento do filme, pois são muitos carros sendo arremessados, muita destruição em cena, e dificilmente em computação gráfica teríamos tanto realismo com câmeras captando imagens tanto nessa cena, quanto na outra perseguição inicial em diversos ângulos (grandes feitos de pequenas câmeras com toda certeza), e assim sendo, não só a equipe artística, como a equipe de produção e os técnicos de efeitos realísticos tem de ser muito bem parabenizados, pois literalmente a gravação do filme deve ter sido uma operação de guerra. Além dessas equipes que citei, a equipe de fotografia também foi bem ousada, pois contendo o longa diversas cenas externas e muita ação, equilibrar bem os tons sem perder nuances ou sombreamentos é sempre um grande desafio, mas acertaram na maioria das vezes, desfocando em um ou outro momento apenas.

Enfim, é um bom filme, claro que recheado de cenas inacreditáveis que dificilmente funcionariam na vida real, e até algumas abusando da Física, porém isso não vem ao caso, pois discutir isso ou cenas clichés em longas de ação é o mesmo que brigar com quem gosta de ouvir músicas de gosto duvidoso, vai ser você falar que é ruim, e a pessoa falar que não liga. Então compre um bom pacote de pipoca e curta bastante o filme, pois a ação faz valer o ingresso, e as boas conexões acabam agradando e divertindo qualquer um que for conferir o longa no cinema mais barulhento que puder. Bem é isso, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais uma das estreias da semana no interior, então abraços e até mais pessoal.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Mulheres Selvagens (Wild Women - Gentle Beasts)

Já falei aqui diversas vezes sobre a diferença entre documentários cinematográficos e documentários jornalísticos, mas sempre vale ressaltar que a grande diferença entre eles, é que enquanto os cinematográficos procuram pegar um tema e desenvolvê-lo criando perspectivas sem quase mostrar entrevistas aonde o público consiga enxergar as perguntas, no jornalístico fica notável as perguntas que os diretores/entrevistadores fazem para as pessoas e isso acaba cansando um pouco os espectadores mesmo que o tema seja interessante. Em "Mulheres Selvagens", a temática de animais de circo e a vida dura das mulheres domadoras poderiam até ter uma nuance dura e bem crível ao ponto de discutirmos diversas metáforas e coisas interessantes, mas a diretora optou por trabalhar um filme mais cru aonde cada uma das entrevistadas falou sobre sua vida com os animais e a rotina de trabalho mais em forma de respostas, e isso não é algo gostoso e fluído de ver em um filme. Entretanto, como temos uma das práticas mais antigas do circo que é o tratamento entre animais e homens, a história mesmo de forma cansativa acaba agradando.

O longa nos mostra Namayca, Carmen, Nadezhda, Aliya e Anosa, domadoras de animais de diferentes países, brilham sob os holofotes enquanto lutam por suas vidas nos bastidores. Trabalhadoras e sorridentes, as artistas de circo revelam sua paixão pelos animais selvagens e pela profissão extraordinária: uma rotina cheia de dedicação e disciplina em meio a um perigo mortal. No documentário, Anka Schmid acompanha o cotidiano das mulheres de perto, pintando um retrato honesto das domadoras.

De modo geral o trabalho da diretora pode se dizer que foi bem ousado, pois ela foi a fundo na história e colocou sua câmera bem próxima dos animais selvagens fazendo claro que as domadoras tivessem um trabalho extra durante a gravação, mas vemos à todo momento que as moças estão respondendo perguntas moldadas, não que isso seja algo errado, mas para que o filme agradasse mais na montagem isso deveria rolar como uma história mais elaborada e não uma entrevista pura. Claro que para não ficar tão feio, o acerto na montagem, intercalando as diversas personagens ficou bem interessante de ver, e por horas acabamos misturando quem cuida de que tipo de animal, pois tirando os ursos que são bem diferentes, os diferentes tipos de tigres e leões acabam confundindo bem quem são suas donas.

Ou seja, embora a técnica usada seja bem simples, o resultado acaba até agradando de uma forma singela, mas certamente poderíamos ter um longa mais dramatizado, afinal o serviço e a vida das moças de circo não é algo tão bonito como acaba parecendo, e elas mesmas dizem isso a todo momento, então a diretora amenizou bem a situação e o filme acabou leve demais para empolgar, sendo apenas algo bem feito. Portanto só recomendo ele como um passatempo de quem quiser ver como é a vida de treinadoras de animais de circo, sem entrar muito em detalhes. Fico por aqui encerrando essa semana que foi bem longa, mas na quinta estou de volta com mais estreias, então abraços e até breve pessoal.

terça-feira, 26 de julho de 2016

Batman: A Piada Mortal (Batman: The Killing Joke)

As animações para adultos raramente costumam ganhar os cinemas, mas esse ano parece que o pessoal está disposto a ganhar dinheiro com os marmanjos que colecionam HQs lançando colecionáveis em lanches, roupas de cama temáticas e tudo mais que possam lucrar, e claro que um filme que iria diretamente para home-vídeo contendo uma das mais vendidas histórias em HQ não iriam deixar passar em branco, e com apenas uma semana de vendas, todas as sessões de "Batman - A Piada Mortal" já estavam lotadas e precisaram abrir mais salas para que os fãs vissem a tão famosa história nos cinemas. Claro que mesmo sendo bem curto, apenas 73 minutos, a animação não entrega muita coisa e deixa subentendido muitas situações, mas ainda assim é algo bem interessante de ver, por "humanizar" a formação do Coringa, ainda que continue um maluco completo, e sem desculpas o que acaba fazendo nas cenas seguintes ainda deixará muitos nervosos (e se isso fosse feito em live-action acredito que muitos ficariam extremamente revoltados). Ou seja, basicamente é um filme do Coringa que até mostra algumas boas situações, mas funciona muito mais para os fãs que acompanham sedentos as HQs do que para quem for apenas curtir mais um filme do Batman, pois ou você conhece tudo o que está sendo mostrado, ou vai sair sem saber o que viu na tela, e isso não é legal em filme algum.

A animação nos mostra que Gotham City está mais uma vez em perigo. O louco Palhaço Príncipe do Crime, o Coringa acabou fugindo do Asilo Arkham, que aloja os criminalmente insanos. Coringa está fora de controle e planeja um ataque ao Comissário Gordon e sua filha, Barbara, e só seu rival, Batman, é capaz de enfrentá-lo.

De certo modo, volto a frisar que é um filme feito para quem leu a HQ, mas se tenho de pontuar pontos positivos para mim e para quem assistir sem conhecer praticamente nada da história, senão apenas detonaria o filme vamos lá. A forma que a história do Coringa foi contada através de flashbacks foi algo muito incrível de ver, e certamente dará um ótimo mote para o longa que pretendem lançar somente dele em breve, pois dá noções melhores de onde pode ter surgido seus primeiros distúrbios psicológicos. Em sequência vemos também os meios sádicos e completamente malucos que alguém perturbado, no caso o Coringa, acabou fazendo com Batgirl e Gordon. Também é interessante pontuar Batgirl, ou melhor Bárbara como uma mulher de atitude e que certamente mostra que se você quer deixar uma mulher muito nervosa, a contrarie. E por fim, quase que meio positivo, meio negativo, a história de Paris acabou ficando vaga demais na sua conclusão, e mesmo que tenha sido feita de uma maneira bem interessante, acabou sem um desfecho mais conclusivo.

No conceito de animação, posso falar que o desenho ficou bem  bacana de ver, pois não quiseram dar formatos e texturas mais precisas, trabalhando realmente a arte da computação como feito nas HQs, então ao manter o clima sombrio que a trama possui, junto de desenhos mais dramatizados, o filme acabou ganhando um contexto bem fechado e arquitetado para o que foi projetado, portanto não espere ver um filme aonde os personagens pareçam atores, pois não é essa a intenção, e quem for comprar o filme (afinal só tiveram as sessões hoje, e a partir de amanhã já pode ser alugado online ou comprado nas lojas) não espere ver algo bonitinho, cheio de detalhes e afins, pois o filme até possui arquétipos e elementos cênicos bem presentes, mas nada que de o tom tradicional que o público de animações esteja acostumado.

Ou seja, temos uma animação curta que tentou ser um longa, e que acabou decepcionando um pouco por criar expectativa demais em quem não leu e esperava um filmaço do Batman, ou quem leu e imaginava ver muito mais do que possui na HQ, e sendo assim o resultado foi bacana, mas morno demais. Portanto até recomendo o filme, pois está longe de ser algo ruim, mas vale mais pelos pontos positivos que citei acima, do que por uma história completa. Fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um longa do Festival Suíço, então abraços e até breve galera.

domingo, 24 de julho de 2016

O Milagre de Tekir (Le Miracle de Tekir) (Miracolul din Tekir)

Acho bem interessante o trabalho de alguns diretores alternativos que procuram trabalhar o misticismo de vilas e religiões de uma forma diferenciada, e por muitas vezes acabam conseguindo segurar mais o público do que um longa tradicional. Claro que esses casos são raros, e por terem uma forma tradicional de fechamento, o qual deixa sempre aberto para que o público tire suas próprias conclusões, muitos nem gostam de assistir esse estilo próprio de filmes. Em "O Milagre de Tekir", temos um filme que segura muito bem a dinâmica e a curiosidade do público, e com uma história que por horas queremos acreditar na moça e por diversos momentos também pensamos em algum tipo de imaginação aflorada por delírios com drogas ou algo do tipo, ficamos sempre caminhando com os dois pés atrás sem saber no que acreditar, e claro torcendo para que a diretora não pare o filme tão cedo para que descubramos mais algo. Pois bem, a diretora termina o filme de uma maneira bem curiosa, que dá um sentimento interessante, mas é claro que não vamos descobrir muito, afinal como disse, esse estilo de filme prefere que as conclusões sejam feitas por nós e não entregues de graça, e assim sendo vamos com um filme até que bacana, mas que poderia nos revelar um pouco mais do misticismo da vila, e claro o motivo de tanto interesse do padre.

O longa nos apresenta Mara, uma mulher solteira, que está misteriosamente grávida. O fato se torna um problema para ela e para os habitantes de uma pequena vila de pescadores no delta do Danúbio, onde religião e superstição se misturam com facilidade. Expulsa do lugar, ela encontra um emprego no Tekir, um spa que trata mulheres inférteis com a lama do rio europeu. Ao conhecer Lili, uma mulher excêntrica e cosmopolita, descobre uma saída para sua concepção "imaculada".

O trabalho de contexto que a diretora e roteirista Ruxandra Zenide fez em seu filme é algo que certamente temos de tirar o chapéu, pois conseguiu trabalhar um tema que certamente não teria muito impacto se visto com outros olhos, mas que ao manter sua trama com poucos diálogos e mais representatividade, ela acabou fluindo pelo ótimo visual e dando um amplo valor simbólico para o misticismo da região, e assim sem que o público perceba, ele já está completamente envolvido com a personagem principal e com tudo o que está rolando. Claro que volto a frisar, não é um filme comercialmente falando perfeito, pois pouquíssimas pessoas pagariam por algo do estilo, mas acabamos ficando com uma alta expectativa para um desfecho bem palpável e com isso a proporção da trama nos leva para algo bem maior que é a reflexão espiritual do que realmente acreditamos, no caso, se o que a moça diz ser sua verdade é realmente a verdade para com a trama.

Com toda certeza a diretora gostou do trabalho de Dorotheea Petre, pois após a atriz ter feito seu primeiro trabalho no cinema no último filme da diretora, ela voltou agora com uma ótima expressividade para com sua Mara, de modo que a atriz assumiu bem a responsabilidade de conduzir a trama com olhares, sentimentos e a cada novo diálogo ao falar com muita serenidade ela conseguiu deixar a personagem com um ar místico maior até que o longa pedia. Bogdan Dumitrache deu uma perspectiva diferenciada para o padre Andrei de tal modo que se inicialmente achávamos que ele seria mero figurante de cena, ao final já chegamos à outras conclusões pela forma de sua interpretação, é claro que isso em momento algum é mostrado na trama, mas a forma expressiva dele, junto com a história completa acaba tomando rumos diferenciados nas últimas cenas. Elina Löwensohn fez de sua Lili uma mulher estranha, claro que isso estava no roteiro, mas ao misturar egocentrismo com exagero na personificação, acabou dando um tom meio falso e estranho para a personagem, de tal modo que ao mesmo tempo que ficamos torcendo para que seja curada, torcemos também para que ela se lasque. Dos demais personagens, alguns passaram rapidamente e tiveram até alguns momentos de destaque como George Pistereanu fazendo bem seu michê Julio, e Viorica Geanta Chelbea dando simbolismo para a cigana proprietária dos alojamentos, mas sem dúvida o maior mistério fica por conta de Mirela Oprisor com sua Vitória e a ligação dela com o padre.

Visualmente o longa nem possui tantos elementos cênicos, mas as escolhas das locações sem dúvida alguma foram incríveis para a concepção completa do longa, desde a pequena vila de pescadores, passando pelo luxuoso hotel Tekir com spas chiques e tudo mais temos boas simbologias para representar cada momento do filme, mas sem dúvida alguma o grande acerto artístico ficou por conta do pântano de lama negra que acabou tendo bem mais do que uma simples representatividade no longa do que apenas visual. Aliada ao bom visual é claro que a fotografia usou e abusou de enquadramentos bem abertos, sem usar iluminação artificial para quase nenhum momento, dando sombreamentos mais duros e vivos para a trama, de tal modo que cada cena foi mais bonita de ver que a outra.

Enfim, é um filme interessante, que poderia ter rumos muito mais grandiosos para com a ideia completa, mas ainda assim pelo estilo que se propõe a mostrar acaba cumprindo e certamente quem gosta de longas assim vai sair bem satisfeito com tudo o que foi mostrado. Portanto recomendo ele como um bom exemplar de filme que trabalha bem o misticismo religioso, mas deixo a ressalva que quem não gosta de tirar as próprias conclusões de um filme, talvez evite ver o longa, pois certamente vai sair irritado com o fechamento do longa. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com o texto sobre uma animação para maiores de idade, então abraços e até breve.

sábado, 23 de julho de 2016

Entre Idas e Vindas

O que esperar de uma dramédia romântica em um road-movie? Essa pergunta não sei se posso responder mesmo após conferir o filme "Entre Idas e Vindas", pois o diretor e roteirista José Eduardo Belmonte trabalhou o filme de uma maneira existencialista demais, cheio de inflexões e reflexões dos personagens que acabamos gostando do estilo leve de condução, mas ficamos sempre esperando algo a mais em cada cena. Ou seja, é um filme bonito, gostoso de assistir, bem produzido e que trabalha uma vertente diferenciada dentro de nosso cinema, mas que poderia ser mais ousado para que o público entrasse na mesma vibe dos personagens que foram bem interpretados por todos, mas pouco utilizados para que o filme fluísse melhor.

O longa nos mostra que Amanda, Sandra, Cillie e Krisse, quatro amigas que trabalham no departamento de telemarketing de uma empresa, embarcam em um motorhome para fazer uma viagem de férias pelo litoral sul de São Paulo. Enquanto isso, Afonso e Benedito, pai e filho, tentam chegar à capital paulista em um velho carro Lada. Benedito não sabe, mas Afonso está levando o menino para encontrar a mãe, que não vê há seis anos, desde que ela ganhou uma bolsa de estudos e se mudou para Paris. Quando o Lada de Afonso quebra na estrada, sem possibilidade de conserto, as meninas do telemarketing socorrem Afonso e Benedito. E o que seria uma simples carona acaba se transformando em uma viagem cheia de aventuras e transformações pessoais.

O maior problema do filme não podemos dizer que foi da direção, pois a condução do filme de Belmonte é algo interessante de ser visto, mas talvez quando escreveu a história talvez o diretor precisasse refletir mais sobre o tema, ao invés de usar tantas reflexões nos personagens, pois o filme tem uma boa dinâmica, tem boas atuações, tem um ponto à ser atingido, porém tudo fica parado no MAS a boa dinâmica não foi para frente, MAS as boas atuações ficaram presas na falta de desenvolvimento, MAS o ponto a ser atingido acaba ocorrendo após o clímax e isso não é o que se espera de um filme. Claro que longe de ser algo ruim, mas esses problemas acabam segurando demais o andamento do filme, e acabamos saindo da sessão sem a resposta da pergunta que iniciei meu texto, mas ainda felizes com o que vimos na tela, ou seja, um paradoxo completo que não sabemos se gostamos, mas acabamos gostando. De tal forma que pelo trailer já era possível ver que não era um filme comum, que o diretor almejava algo a mais para ele, porém ele desejou demais e faltou impressionar realmente com o que queria, porém felizmente não tivemos um drama novelesco na telona, pois aí sim sairíamos da sessão com um humor completamente diferente.

Sobre as atuações, Fabio Assunção conseguiu dar um tom interessante para seu Afonso, de modo que certamente o conceito de pai solteiro pode ser visto de uma forma estranha, mas aqui ele deu boas perspectivas ao trabalhar com seu filho verdadeiro João Assunção, o qual se mostrou já seguir bem os rumos do pai na forma de interpretação que deu para seu Benedito, de tal modo que claro que a química entre os dois foi algo incrível de se ver, e podiam se conectar só com olhares para que um dissesse bem seu texto em sintonia com o do outro, além claro dos ótimos momentos de fofura que o garoto deu para a personalidade de seu personagem. Ingrid Guimarães sempre incorpora bem suas personagens, dando estilos próprios para elas, e aqui sua Amanda diríamos que é aquela chefe que não conhecemos nada da vida dela, mas que sempre tá junto para ajudar e dar alguns puxões de orelha, talvez sua personagem tenha ido numa velocidade acima do que o filme desejava ir, parecendo estar agitada demais em todos os momentos, e dessa forma não podemos dizer que foi seu melhor personagem até hoje, ainda que tenha agradado alguns bons momentos dela. Alice Braga sempre faz personagens fortes, e sua Sandra não seria a primeira personagem que mudaria o estilo que gosta de atuar, de tal maneira que seus momentos mais contidos até pareciam estranhos, até a atriz se soltar e incorporar com personalidade bons momentos de fúria, talvez um pouco mais de nuances em seus momentos chamariam bem a atenção, mas acabou fazendo bem o seu papel. Rosane Mulholland incorporou sua Krisse de uma maneira tão diferente que a atriz parecia ter no máximo uns 20 anos em cena, e sabemos que está bem longe dessa idade, mas com isso teve momentos tão doces e interessantes que talvez um filme aonde pudesse explorar mais dessa personagem agradaria bem nos cinemas. E fechando o elenco principal, Caroline Abras teve poucos momentos para desenvolver sua Cillie, de modo que foi quase uma figurante de luxo com seu estilo maluquinho de interpretar, que até deu um tom gostoso para suas cenas, mas faltou o diretor dar mais momentos chamativos para ela. Do elenco secundário é melhor nem falar, afinal quase todos apareceram para no máximo duas ou três falas, o que não impactou muito no desenvolvimento, valendo apenas um mero destaque para Milhem Cortaz que exagerou demais nos trejeitos de seu personagem, nem parecendo que o filme foi feito em São Paulo.

Como todo bom road-movie, arrumaram um bom motorhome para que os protagonistas andassem pelas estradas (aliás aonde arrumaram tantas estradas vazias para filmar?), e provavelmente também gravaram numa época mais fria para ter praias tão vazias também, mas tirando esses detalhes, os locais por onde o filme teve suas inflexões chamaram bem atenção pelos momentos (uma cidadela que ouve o sermão pelos alto-falantes, a outra vazia para a festa do prefeito, um mecânico 24 horas que não é 24 horas e aceita encomenda de doces, e por aí vai), além de arrumarem um Lada detonado para o protagonista tentar pilotar. Ou seja, tiveram o capricho de arrumar bons locais, mas não trabalharam tanto eles para termos elementos cênicos mais chamativos, somente claro a camerazinha que utilizaram também para a fotografia, dando um tom mais amarelado de efeito.

Enfim, é um filme interessante que poderia ser muito melhor se trabalhado mais cada personagem individualmente, ou se colocassem mais dilemas para serem resolvidos, de modo que o filme criasse uma perspectiva maior, mas ainda assim é mais um bom exemplar de que o cinema nacional está tentando fugir da característica novelesca que tanto o marcou, e sendo assim merece ser conferido, para que com uma boa bilheteria surjam mais filmes no estilo. Fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um longa do Festival Suíço, então abraços e até breve pessoal.

Janis - Little Girl Blue

Documentários geralmente chegam pré-moldados para determinado público nos cinemas, de modo que são raros os que estreiam no interior, ficando mais restritos às capitais em cinemas específicos ou sendo lançados diretamente para a TV. Mas felizmente hoje vi mais uma vez (Em "Amy" aconteceu a mesma coisa) que quando colocado em conjunto com o tema musical, o estilo acaba levando um grande público para a sala do cinema para conferir a história de seus ídolos musicais e conhecer um pouco mais sobre a pessoa além do mito que foi Janis Joplin em "Janis - Little Girl Blue". O longa foi bem trabalhado com entrevistas de familiares, músicos, produtores e amigos que viveram com a cantora, juntamente com imagens de arquivo aonde ela deu depoimentos à programas e claro muitos shows gravados, e embora tudo seja algo bem bacana de ver, poderiam ter sido mais duros com tudo o que é mostrado e menos homenagem, pois como bem sabemos artistas não são pessoas boazinhas!

A sinopse do filme nos mostra que o documentário gira em torno de Janis Joplin, uma estrela do rock norte-americano. Porém, é abordado uma visão fora da música, revelando a mulher doce, sensível, confiável e poderosa que era por trás da lenda. Um relato de uma vida épica e turbulenta que mudou o mundo da música para sempre.

O trabalho de pesquisa e montagem da diretora Amy Berg levou longos sete anos para ser concluído, mas o que vemos na tela é algo detalhado e cheio de minuciosas preciosidades, depoimentos bem coerentes, e claro a sensação de que o filme foi feito ainda na presença da cantora, pois os próprios depoimentos que Janis deu à diversas gravações pareciam ser produto pronto para lançamento, e com uma montagem precisa, aliada à narração das cartas que enviou para a família durante muitos anos pela cantora Cat Power, acabaram dando toda a nuance para que o documentário não ficasse chato e nem enrolasse demais todo o andamento do longa. Claro que como disse, em muitos momentos todos os artistas prestaram grandes homenagens em seus depoimentos, e isso poderia ser amenizado, afinal certamente com a quantidade de drogas e bebidas que a cantora usava, não deveria ser nada agradável estar em sua presença após os shows, que é quando ela se deprimia por ficar sozinha, ou seja, temos boas entrevistas e bons momentos, mas a sinceridade dos fatos foi poupada em diversos momentos.

Outro fator que incomoda um pouco é o fato de que antigamente tudo era gravado praticamente sem qualidade alguma de imagem (para passar nos cinemas de hoje, mas para as TVs da época estava dentro do padrão), e ao invés de remasterizarem para que o material ficasse com uma qualidade mais interessante de ser vista num cinema, colocaram no filme como foram feitos realmente, então temos muitos defeitos técnicos que até é possível relevar, mas que distorcem muito quando mudam as perspectivas com Janis e as atuais, e isso deixou o trabalho completo um pouco estranho de assistir, mas nada que seja relevante para quem for curtir apenas.

Claro que se tratando de um documentário musical, temos muitas canções da artista, e a sonoridade é tão rítmica que o longa deslancha sozinho, e mais do que isso, como temos legendas inclusive nas canções, para quem apenas ouvia sem prestar muita atenção no que as letras diziam, ficamos sabendo mais sobre suas composições, e claro junto com os depoimentos de onde vinham algumas das inspirações. Ou seja, a conexão completa que um longa musical deve funcionar.

Enfim, é um bom documentário que serve tanto para quem só conhecia umas duas músicas e sequer sabia quem era Janis Joplin, quanto os super-fãs que acabam chorando e se emocionando ao ver mais coisas que desconhecia na telona, ou seja, agrada a todos mesmo que com os defeitos que citei acima. Portanto acabo recomendando ele, principalmente por não ser mais um daqueles documentários alongados cansativos que costumam aparecer, então aproveitem e confiram. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas ainda faltam muitas estreias da semana para conferir, então abraços e até breve com mais posts por aqui.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

A Lenda de Tarzan em Imax 3D (The Legend of Tarzan)

Alguns filmes quando surgem as primeiras prévias, todos já começam a atacar, e quando se falou em um novo Tarzan, literalmente teve gente querendo pôr fogo nos livros e só reclamavam de qualquer possibilidade que fosse falada sobre o longa, pois onde já se viu mais uma vez contar a história de Tarzan, que já teve de todo jeito, que isso, que aquilo, e por aí vai. Pois bem, posso dizer que também reclamei quando vi as primeiras imagens de "A Lenda de Tarzan", mas de certa forma fiquei curioso para saber o que iriam fazer com a história. Pois bem, hoje após conferir, posso dizer que o resultado final me agradou muito, pois evitaram contar toda a história que já vimos diversas vezes, optando agora por mostrar algo ocorrido após Tarzan ter abandonado a selva, e ter tomado a herança de sua família, virando um lorde inglês. E além de nos entregar uma boa história, optaram por dar um tom bem mais sério ao filme, sem animais falantes e principalmente deixando que a ação corresse solta, para que tudo acontecesse no desfecho. E se tenho de reclamar de algo, posso dizer que como o filme deixa para que o público apenas lembre da história de Tarzan, juntando alguns flashbacks, ele poderia ser mais longo que não atrapalharia tanto, e nessa correria pode ser que muitos personagens tenham ficado abandonados de certo modo, mas ao menos não encheram linguiça para dar tempo de tela.

O longa nos mostra que há muitos anos, Lord Greystoke deixou o passado como Tarzan e vive na cidade com sua esposa, Jane. No entanto, ele é chamado para voltar ao Congo numa tarefa como emissário do Parlamento. Mas na verdade, isso não passa de um plano mortal arquitetado pelo capitão Rom, despertando a fúria adormecida de Tarzan.

Ou seja, é interessante vermos quando pegam uma história já batida e recriam algo novo em cima dela, pois certamente qualquer um imaginaria que recontariam toda a história novamente de como Tarzan foi abandonado na selva, como conheceu Jane, e como ficou amigo dos animais, mas os roteiristas ousaram em colocar já ele bem longe de suas "macaquices" já vivendo como um homem rico, e a partir daí deslanchar tudo. O diretor David Yates soube também trabalhar bem essa nova história e certamente sentiu muita falta de mostrar um pouco do passado, pois daria para termos um longa completo se necessidade de flashbacks, mas muitas situações acabariam desconectadas e incomodariam demais, por exemplo: como os habitantes de uma tribo remota fala inglês tão fluente? Ou por quais motivos Mbonga deseja tanto matar o protagonista? E isso estou citando apenas duas indagações que são bem encaixadas com as cenas de lembranças, pois possuem outras, e cada uma vai dar boas nuances para o filme, porém caso quisesse, o diretor ainda poderia lançar mão de outras situações para dar ao filme um tempo maior do que o que foi mostrado, e certamente isso não cansaria, pelo contrário, não exigiria tanto do público lembrar do que viu em outros filmes sobre o personagem. Agora um fato claro que não podemos reclamar de forma alguma do diretor, é que colocou sob uma forte perspectiva ação praticamente do começo ao fim, deixando o longa num ritmo insano e bem adequado à proposta que tanto desejava, além claro de diferentemente do que ocorreu em outras adaptações da história de Edgar Rice Burroughs, aqui os animais não falam e apenas passam toda a simbologia através do olhar para o protagonista, quase que numa comunicação única que somente ele entende, ou seja, perfeição completa nas cenas mais comoventes entre animais e homens. O diretor também soube fazer, assim como em outros longas que dirigiu, deixar que o personagem protagonista ficasse em foco mesmo nas cenas em que não aparece, e isso é algo bacana, pois tivemos muitas cenas dos coadjuvantes em situações solo, mas sempre referenciando de algum modo o protagonista.

Sobre a atuação, mesmo estando com o físico completamente em dia, não sei se a escolha de Alexander Skarsgård foi a mais ideal para dar vida à Tarzan/Lorde Greystoke, pois mais acostumado com longas mais reflexivos e dramáticos, o ator até segurou as pontas nos momentos mais tensos, mas quando precisava dar mais ação ou até mesmo um tom mais cômico para o personagem, parecia estar deslocado, então talvez as outras opções que tinham em mãos antes das filmagens seriam mais propícias, porém ele não fez nada que seja absurdo de ver na tela, e até acabou saindo bem no fechamento. Margot Robbie conseguiu transformar sua Jane numa personagem bem dinâmica e interessante de ver, pois de certo modo víamos a personagem com uma aura mais ingênua e doce, e aqui ela se mostrou como uma mulher de atitudes completamente longe de algo mais frágil, e ao trabalhar bem sua expressividade nas cenas junto do vilão, ela chamou atenção pelo estilo mais sutil de olhares que já vimos fazer em outros filmes, ou seja, uma atriz que promete muito ainda no cinema. Agora quem já não promete mais nada, mas sempre cumpre com excelentes atuações é Chistoph Waltz, pois cada papel que pega ele incorpora e entrega seu máximo, e claro que sempre com ótimas expressões ele acaba cativando o público mesmo que esteja fazendo todas as maldades possíveis com seu Rom, e certamente o veremos fazendo mais vilões, pois ele acaba sempre introduzindo uma personalidade intelectual visceral para seus personagens de modo que vamos esperando e torcendo para que ele consiga destruir os mocinhos das tramas. E se falei do físico do Tarzan, não posso dizer que Samuel L. Jackson estava em forma no começo das gravações com seu George, mas ao final depois de correr muito e esbaforir tentando acompanhar o fôlego do jovem ator, certamente ganhou mais vitalidade ou precisou recorrer à alguns balões de oxigênio, mas tirando esse detalhe, como sempre faz, acabou colocando uma comicidade tão bem encaixada nos momentos certos da trama, que acabamos quase criando um vínculo de amizade com o personagem. E para fechar sobre as atuações, Djimon Hounsou deu boas perspectivas para o seu Chefe Mbonga, mas faltou no longa contar mais de sua história, ficando quase um personagem jogado no meio do nada, e isso não é legal de ver, porém nos seus momentos de luta, o ator deu um show à parte.

Sobre o visual, a equipe escolheu ótimas locações para dar uma ambientação bem condizente (não sei se realmente foram para o Congo filmar no meio da floresta, já que hoje é possível fazer tudo com computação gráfica), e trabalhou muito bem com os figurinos dos personagens para termos tribos diferenciadas e soldados de todos os estilos possíveis. Mas sendo ou não real a floresta, os animais todos foram feitos através de computação com movimentos criados através de captura com atores reais, e em quesito de texturas, podemos realmente tirar o chapéu para esses softwares que andam trabalhando, pois é algo incrível de ver e se comover com cada momento entre protagonistas humanos e animais em cena, de tal modo que torcíamos até para ter mais cenas com os bichinhos. Sobre a fotografia da trama, tivemos boas cenas no escuro sem que qualquer iluminação falsa atrapalhasse, e claro que dentro da selva, usaram ótimos artifícios para que tivéssemos diferentes tons de verde para dar as nuances certas para cada momento, na cena inicial do vilão com a tribo indígena, abusaram demais da neblina, e embora o tom tenha ficado maravilhoso, é quase impossível ver alguma coisa em cena, e isso de certo modo é um erro.

Outro ponto negativo do filme ficou a cargo do uso da tecnologia 3D, pois sendo um filme convertido, acabaram não pensando tanto no que poderia chamar atenção ao usar os efeitos, então tirando a cena final de explosão que muita coisa acaba voando para fora da tela, as demais cenas que tiveram algum detalhe aplicado ficaram com pouca profundidade de campo e só serviram para dar alguns borrões na tela, ou seja, completamente dispensável, mesmo que nas cenas de balanços de cipó, a dinâmica tenha ficado de certa forma interessante de ver. Então se quiser economizar, pode ver em salas comuns que não irá perder nada.

Enfim, foi um filme que até acabou superando as expectativas que tinha dele, principalmente por termos uma história nova e agradar na dinâmica, mas certamente se os pontos defeituosos que citei (tempo de filme, 3D, atuação do protagonista, entre outros) fossem menores, acabaríamos tendo um excelente filme. Vale a recomendação por ser algo "novo" dentro de algo que já conhecíamos de outras épocas, mas talvez seja um filme que em breve nem lembraremos de sua existência, e isso não é algo que agrade os produtores de cinema. Enfim, vá ao cinema e se divirta com a história, pois como sempre digo, certamente algo vai acabar chamando a atenção, e sendo assim cada um vai tirar proveito de algum momento do longa, e acabará se divertindo com os bons momentos da produção. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com um longa atrasado que apareceu no interior, então abraços e até breve.

Dois Caras Legais (The Nice Guys)

Se tem uma coisa que é raríssima nos dias de hoje é ver uma comédia com um roteiro que possamos dizer bem trabalhado, pois, na maioria das vezes, os roteiristas optam por colocar algo mais exagerado sem se preocupar se o filme vai aceitar, ou então apenas abusa da inteligência do público forçando cenas para que esses riam deliberadamente. Pois bem, hoje depois de um longo tempo (acho que o último foi "O Lobo de Wall Street"), fomos apresentados ao filme "Dois Caras Legais", que roteirizado para ser uma série na TV, acabou sendo filmado como longa-metragem e agradou bastante na dose cômica, trabalhando todo tipo de nuance possível para que o filme nos remetesse aos velhos e bons tempos, aonde as comédias policiais funcionavam com detetives/policiais em pares (um burro que acertava tudo na sorte e outro brucutu que resolvia tudo na base da porrada) e sem precisar apelar para que situações acontecessem para fazer o público rir, de modo que a história já bem trabalhada conseguisse fazer isso sozinha. Ou seja, se você for esperando ver uma comediazinha boba que vai fazer você rir com piadas, escatologias e coisas do tipo que ultimamente andamos acostumados à ver, esse não vai ser o longa indicado, mas se quiser se divertir com uma boa dose de humor sujo aonde tudo flui dentro de uma história engraçada e absurda, vá com toda vontade conferir o longa, pois a chance de sair feliz com o resultado é bem alta.

A sinopse do filme nos conta que na Los Angeles dos anos 70, Amelia, filha de uma funcionária do Departamento de Justiça dos Estados Unidos está desaparecida. Ela decide contratar Jackson Healy, detetive particular violento e ex-alcoólatra, para investigar o caso. O trabalho revela-se mais complicado do que o esperado e ele decide dividir a investigação com o atrapalhado Holland March. Ambos descobrem que o caso e a morte de uma estrela pornô estão, de alguma maneira, relacionados. Eles então descobrem uma conspiração chocante que atinge até os mais altos círculos do poder.

Mais conhecido pelos ótimos textos que fez na série "Máquina Mortífera", aqui além de roteirizar Shane Black, volta a comandar a direção após "Homem de Ferro 3", e mesmo com um orçamento bem mais enxuto que o longa do super-herói, 50 milhões contra 200 milhões, ele conseguiu fazer boas cenas de ação e trabalhar bem o contexto de época tão marcante que foram os anos 70. Claro que para isso ele precisou fazer cenas mais fechadas, aonde a cenografia ficasse bem focada ao redor dos protagonistas, para que nada saísse do fluxo e estragasse a ambientação colocada, mas muito mais do que uma ótima contextualização cênica, a grande sacada do diretor foi entregar os papeis certos para que cada ator desse o seu máximo tanto visualmente quanto na composição de seus personagens, pois é notável a excelente direção de atores ao ver a desenvoltura de cada um, e principalmente tendo um bom texto para seguir, pois a cada nova cena víamos mais trapalhadas sendo bem encaixadas, formando um resultado final incrível.

Já que falei que os atores foram muito bem nos papeis, vamos falar um pouco de cada um. Russell Crowe definitivamente deu fim ao seu corpo atlético e agora com um corpão mais cheinho usou apenas a força para mostrar que ainda bota os vilões para dormir com facilidade, mas mais do que deixar de lado seus atributos físicos, o ator mostrou que está disposto à voltar para sua boa forma interpretativa depois de pegar alguns papeis com diálogos fajutos e que não mostravam o quão bom de atuação ele realmente era no passado quando ganhou um Oscar e recebeu outras duas indicações, e usando do seu carisma tradicional e podendo ainda dar boas dinâmicas de ação para o seu Healy, ele acabou agradando e chamando bastante atenção para praticamente todos os seus momentos. Ryan Gosling também deixou de lado o seu lado sedutor para encarar um medroso e trapalhão March na trama, e com ótimas cenas cheias de comicidade, ele acabou incorporando o personagem de tal forma que certamente o público ficará esperando ver mais um filme, ou até mesmo uma série com as investigações malucas que ele nos proporcionou, sempre trabalhando a expressão facial mais do que qualquer coisa. Agora se tem alguém que merece um grande destaque é a garotinha Angourie Rice que deu tanta personalidade para sua Holly que a cada nova cena torcíamos para que sua personagem estivesse mais presente, pois deram tantas boas sacadas para que ela fizesse, que de jogada inicialmente na tela como uma mera coadjuvante acabou quase protagonizando boas cenas solo na trama toda. É interessante ver que o tempo passa para todos, e ainda que esteja bonitona, Kim Basinger já está com 63 anos e não chama mais tanta atenção como antigamente, sendo colocada mais para papeis secundários e que funcionem dentro de alguma perspectiva mais contida, e aqui sua Judith até faz duas cenas bacanas bem rápidas, mas se não chamasse tanta atenção pelo close que lhe foi dado, seria uma coadjuvante fácil de ser esquecida no longa. Da mesma forma, Matt Bomer só mostrou-se interessante como um atirador desenfreado com seu John Boy, pois ousou algum charme em poucas cenas e até encaixou uma certa química na cena junto da garotinha, mas nada que ficássemos impressionados com sua habilidade tão bem conhecida. Se não tivesse o momento explicativo de sua Amélia, poderíamos dizer que Margaret Qualley tomou muito energético e foi filmar suas cenas, pois a jovem não para quieta 5 minutos para trabalhar uma cena mais a fundo, correndo, pulando e surtando sem parar.

Agora como disse acima, um dos grandes acertos da trama foi a boa composição cênica que a direção de arte conseguiu fazer, pois temos diversos carros de época, figurinos na medida certa para representar tudo, e claro muitos elementos cênicos presentes em cada cena, de modo que se não quisessem colocar escrito a data na tela, certamente conseguiríamos distinguir os anos 70 na tela, pois tudo foi bem encaixado para que o longa fluísse e agradasse incorporando comicidade até mesmo nos elementos mais simples de cada momento, e além disso souberam escolher bem as locações para que tudo se encaixasse tanto dentro da ideologia policial mais dinâmica de ação, quanto na simbologia cômica não apelativa que tanto o diretor exigiu ver. Sobre a fotografia, souberam agradar e muito com sombras para termos um preenchimento interessante de ver na tela, filtros para dar um tom marcante de época com algumas granulações, mas principalmente ousaram em ter diversas cenas noturnas, sempre bem iluminadas pelas luzes de discoteca nas festas e bares, ou até mesmo usando isqueiros ou cenas envolvendo explosões para abusar do fogo dando um tom alaranjado bem colocado.

Além disso, a escolha musical foi de primeiríssima linha, funcionando para marcar ritmo nas cenas, e claro dar a nuance certa da época na trama. E claro que o Coelho não deixaria os amigos caçando as músicas, então aqui vai o link com a trilha sonora completa: link

Enfim, é um excelente filme que talvez até pudesse ser mais curto, mas durante todo o longa procurou evitar erros de cenas forçadas e com isso, mesmo que em diversos momentos nos víssemos falando que coisa idiota de aparecer, o resultado final acaba agradando muito. Outro pequeno defeito do filme é o exagero na sujeira, pois mesmo que o pano de fundo da trama seja embutido na indústria de cinema pornográfico, poderiam ter amenizado algumas cenas, e assim claro que algumas pessoas vão acabar reclamando de algumas cenas, mas é claro que ficou interessante de ver na telona tudo. Ou seja, recomendo ele com toda certeza tanto para quem gosta de uma boa comédia, como também para aqueles que gostavam dos longas policiais de antigamente, aonde uma boa dose de suspense cômico acabava funcionando na medida. Mais uma vez agradeço ao pessoal da Difusora FM 91,3MHz que nos proporcionou uma ótima pré-estreia lotada para ouvintes e com toda certeza agradou em cheio o público que compareceu, já estamos na torcida para a próxima pré, e sempre conte comigo para lotarmos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais uma estreia da semana, então abraços e até breve.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

A Andorinha (Die Schwalbe)

Se tem uma coisa que acho meio irônica em alguns filmes é a tal busca pelo passado de uma pessoa, pois nem sempre ir atrás de algo que você desconhece completamente é algo bom, e pode ser muitas vezes amargo e trazer problemas para quem vai mexer em um vespeiro como é o caso de coisas do Oriente Médio, aonde desde algum tempo tudo vem explodindo ou se não explodiu está pronto para explodir. Porém, se não fizerem isso, não teríamos filmes não é mesmo? Então de certa forma a ideologia de "A Andorinha" é bacana e usa boas simbologias para representar o momento em que o Curdistão vive após a queda de Sadam e como foi o fim de sua era, unindo à perseguição da protagonista para conhecer seu passado junto à um desconhecido que traz muitos mistérios em sua história. Ou seja, um filme que prende bastante por poder ter qualquer desfecho e acaba agradando mesmo com um final razoável dentro de tudo o que foi proposto.

O longa nos apresenta Mira, uma jovem suíça em busca de suas raízes, que viaja para o Curdistão iraquiano, onde encontra terrorismo, crimes de guerra e justiça popular - mas também amor. O longa descreve duas tragédias de vida: quando os desejos não se realizam e quando se realizam de fato. Uma jornada pelas paisagens estonteantes do Curdistão e pela realidade política conflituosa da região, aonde acaba trazendo uma nova perspectiva quanto ao assunto tão falado nos noticiários.

Assim como é dito na sinopse, o que o diretor curdo Mano Khalil nos apresenta é uma vertente diferenciada de um assunto que tanto ouvimos nos noticiários e ao trabalhar bem toda a simbologia da busca do passado interligado por tragédias e dosar isso com o floreio da conquista e o encontro do amor entre os protagonistas das histórias, ou seja, ele trabalhou a mão para que o filme ao mesmo tempo que fosse forte, ficasse doce também, e com uma ideia não tão forçada, ele conseguiu segurar bem a presença marcante de cada um e deixar que a história fluísse sem que o público perdesse o interesse, o que é algo difícil de acontecer quando o tema não é tão comum. Além disso, mesmo sendo um longa que tem uma história tradicionalmente jornalística, o diretor floreou bem para que a dosagem ficcional não virasse nem absurda e nem fosse documental demais, e isso acabou dando um sabor gostoso de sentir com o desenrolar da trama, resultando em algo bem trabalhado que até poderia ter um desfecho diferente, mas que agrada muito.

Sobre as atuações, basicamente temos de falar somente dos dois protagonistas, pois dentre os demais atores alguns até tiveram uma aparição maior de tempo, mas pareciam simbolicamente jogados, o que não é legal de ver, e também não aparentavam estar atuando como deveriam, o que mostra um certo despreparo do diretor em trabalhar elenco de apoio. Portanto, vamos ao que interessa, falar claro de Mira, ou melhor, Manon Pfrunder que conseguiu dar leveza para sua primeira personagem em um longa, e mesmo fazendo alguns absurdos que outras pessoas não cairiam tão facilmente, acabou agradando pela boa expressividade. Ismail Zagros foi determinante para o ritmo do filme, pois a todo momento ficamos esperando que seu Ramo conte a verdade ou vá logo para os finalmente, mas também vemos o passarinho verde rodeando sua cabeça, e essa grande incógnita conseguiu amarrar bem a trama aliada claro pelos ótimos trejeitos que o ator conseguiu passar nessa missão, e assim sendo, o ponto positivo recai sobre sua cena final, que poderia ser de outra forma.

Sobre o visual da trama, temos praticamente um road-movie, já que o filme se desenrola por diversas vilas do Curdistão, e com paradas estratégicas puderam mostrar a famosa marca de terra de todos e de ninguém, aonde quem quiser matar o outro fique à vontade, tivemos belas paisagens nas cenas mais abertas e também tivemos tempo para alguns errinhos técnicos com relação ao figurino principalmente, pois os guardas mais pareciam escoteiros armados do que alguém que realmente estivesse numa guerra, claro que isso é algo que o pessoal releva, mas poderiam ter feito de forma bem diferente para agradar mais. Sobre a fotografia, o longa colocou boas nuances de sombras e trabalhou bem nas cenas no interior do carro para dar uma perspectiva mais introspectiva para os protagonistas, além claro da excelente cena noturna com fogo que deu um sombreado incrível.

Enfim, é um filme interessante, muito bem feito, mas que poderia ter um rumo reflexivo ainda melhor se tivesse um fechamento diferente, não que o que mostrou foi ruim, mas talvez mais uns minutinhos para envolver a cabeça agradaria mais. Dessa forma acabo recomendando o filme para quem gosta de longas mais fechados, pois alguns podem não curtir a dramaticidade mais dura da trama. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com a primeira crítica da nova semana cinematográfica, então abraços e até breve galera.

sábado, 16 de julho de 2016

A Última Premonição (Visions)

Acho interessante quando mesmo em um filme curto, com 82 minutos apenas, conseguimos dividir claramente três fases distintas: sustos sem lógica, marasmos com sustos premeditados, e conclusão impactante, pois isso acaba acontecendo com mais frequência em longas que enrolam em demasia e por vezes ainda colocam caminhos falsos que geralmente furam todo o conteúdo do roteiro. Felizmente "A Última Premonição" não necessitou desse último estilo, pois tudo ocorre rapidamente e mesmo tendo um período cansativo em seu miolo, o resultado final é tão bem feito que acaba agradando bastante dando cara completa ao nome nacional que recebeu. De modo geral, é um filme que vale a pena tanto para quem gosta de suspense quanto para quem gosta de terror sem exageros, mas ainda está longe de ser algo genial.

O longa nos mostra que uma jovem mulher sofre um grave acidente de carro, e sobrevive por pouco. Enquanto se recupera, começa a ter estranhos pesadelos, que os médicos descrevem como consequências comuns do trauma que viveu. Pouco depois, ela se descobre grávida, e muda para uma nova casa com o marido. Mas as visões tornam-se cada vez mais graves e violentas, ameaçando todos ao redor.

É interessante quando o pôster e o trailer dão destaque para o produtor do filme (no caso Jason Blum que não coloca o seu dinheiro em filmes que julgue ruim, e vem acertando um terror atrás do outro), ao invés de falar do diretor, que mesmo muitos não gostando de seus últimos filmes ("Jessabelle", "Jogos Mortais 6", "Jogos Mortais - O Final"), felizmente esse Coelho que vos digita adorou todos, e sendo assim Kevin Greutert merece também um bom destaque, pois foi sucinto no queria mostrar, usou poucas locações, e principalmente, deu um fechamento digno para a trama, pois muitos vão reclamar de ter explicado tudo bonitinho, mas assim como ocorria na franquia "Jogos Mortais" (que é a parte que mais gostava de todos os filmes da série), após diversas pistas serem jogadas para o público, no encerramento ficávamos de queixo caído como tudo se encaixava perfeitamente. Claro que aqui, não temos algo de deixar nossos queixos no chão, mas tudo acabou tendo mais sentido do que se largasse como algo cult sem nexo, e assim sendo, a proposta do roteiro embora simples ficou bem trabalhada pelas mãos do diretor, que com boas nuances até acabamos esquecendo das partes chatas e cansativas que acabaram acontecendo no segundo ato da trama e gostando bastante do seu trabalho no longa.

Sobre o elenco, uma coisa muito estranha deve ser dita, pois temos praticamente em todas as cenas um ator/atriz de comédias fazendo coadjuvantes num longa de suspense/terror, então ver alguns eles com caras sérias e dramatizadas, em alguns momentos até assusta mais do que toda a proposta do filme. Não tenho muita certeza, mas como Isla Fisher desistiu de "Truque de Mestre: O Segundo Ato" por estar grávida, provavelmente aqui sua barriga até tenha sido bem real, claro que não nas cenas mais fortes, afinal não seria tão maluca ao ponto do que ocorre no filme com sua Evie, mas assim como costuma fazer nos demais filmes até trabalhou boas expressões de medo e colocou seu carisma à prova para que o público acreditasse em tudo o que estava ocorrendo com ela na trama, talvez alguém com mais dramaticidade desse umas nuances mais desesperadoras, mas ainda assim ela agradou bem. Um dos maiores erros da trama foi a escolha do protagonista masculino, pois Anson Mount não trouxe nenhuma personalidade característica para seu David, de modo que no filme falam que é seu sonho virar agricultor, e ele tem a maior cara de lutador de filmes de ação, e mesmo nas cenas mais dramáticas sua desconfiança para tudo o que está acontecendo com a mulher é tão desgostosa de ver que acaba soando falso demais, então certamente outro ator chamaria mais atenção. Gilian Jacobs deu para sua Sadie uma personalidade de certo modo estranha de ser vista, pois em alguns momentos até parecia estar dentro do carisma, mas em nenhuma cena apontou bem dentro do que resultaria em suas últimas cenas, e assim sendo, ela destoou um pouco para uma atriz que já fez tantos outros papéis. Jim Parsons é o médico mais bizarro que já vimos em um filme, pois raramente um obstetra indicaria antidepressivos com tanta naturalidade para uma grávida, e isso vindo de um comediante (afinal a maioria o conhece por "The Big Bang Theory") é quase uma piada pronta, fora que parecia ser algum estilo de psicopata por suas expressões fortes, ou seja, talvez até tenham vendido uns ingressos a mais para seus fãs, mas não combinou de forma alguma dentro da proposta. Joanna Cassidy deu para sua Helena três cenas bizarras, pois assim como em muita novela mexicana a pessoa malemá te conhece e já sai invadindo sua casa sem nenhum pormenor, e aqui ela faz caretas em excesso nos seus momentos de "possessão" que acabam mais desagradando do que agradando, e olha que não é uma jovem atriz para destoar tanto assim. Eva Longoria faz duas participações como Eileen, irmã da protagonista, mas é quase um enfeite cênico na trama, e assim sendo poderiam ter economizado o seu cachê.

Visualmente a trama arrumou uma casa que normalmente uma pessoa em sã consciência não moraria, pois assim como é descrita pelo corretor de imóveis, é um antigo celeiro que virou casa, ou seja, por fora é até ajeitadinha, mas por dentro é algo rústico demais para alguém que saiu de um trauma e vai morar no meio do nada para ter uma vinícola, ou seja, abusaram um pouco do absurdo para conseguir a nuance de suspense/terror, e claro que dentro da proposta não economizaram em elementos cênicos que fossem utilizados de forma estranha durante o filme todo, mas que ao final tivessem o sentido completo de sua existência bem revelado, ou seja, tiveram trabalho para desenvolver toda a cenografia, mas com um bom estudo de caso, o acerto foi bem determinado. A fotografia trabalhou com fumaça, cenas no escuro quase completo e muitos tons avermelhados na trama para dar o contexto correto, claro que isso em algumas cenas acabou sendo prejudicado, afinal contraluzes em cenas muito escuras soam sempre falsos, mas volto a frisar, tudo o que é mostrado no entremeio é utilizado para fechar de forma coerente, então tentem relevar.

Enfim, o diretor abusou do volume das trilhas sonoras para pegar um pouco o público desprevenido, mas com o desenrolar da trama acaba envolvendo e agradando. Poderia ser menos enfeitado o miolo para que o público não cansasse tanto da trama, mas como tivemos um bom final, o resultado em si vale a pena ser visto, ou seja, acabo recomendando o longa para todos, pois mesmo quem tem medo de terror, vai acabar gostando do fechamento. Bem é isso galera, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais alguma postagem dos filmes do Festival Suíço, então abraços e até mais pessoal!

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Travessias

Alguns filmes são lançados nos cinemas sem que tenhamos visto sequer um trailer ou até mesmo lido a sinopse dele em algum lugar, e algumas vezes acabam nos surpreendendo por algo no conteúdo ou na estética, mas outras vezes a vontade que dá é a de sair da sessão sem terminar de conferir, porém como esse Coelho que sempre vos escreve é persistente, ele fica até o final de todos os filmes mesmo que seja difícil suportar os erros. Digo isso pois "Travessias" está longe de ser o pior longa que já vi, mas possui tantos defeitos tanto na concepção da história (que é deveras cansativa, mesmo com lições interessantes) quanto no desenvolvimento técnico, que quem não for ao cinema realmente querendo muito ver o filme (vai lá saber o motivo de querer tanto!), provavelmente irá abandonar a sessão lá pela metade, provavelmente reclamando muito de tudo (ou quase nada) do que acaba acontecendo (ou não acontecendo). E sendo assim, é até difícil recomendar o longa para alguém, mas pensando na ideologia da mensagem passada pelo longa que necessitam ocorrer travessias em nossa vida e algumas são difíceis, assistir a um filme como esse pode servir para termos base de que existem longas bem melhores que reclamamos muito no passado, mas não tínhamos outro de referencial, e digo mais, como costumo frisar sempre é bom ver tudo o que é lançado, pois passamos a conhecer mais detalhes de erros e acertos pelo mundo afora, e aqui infelizmente erraram demais.

A sinopse do longa nos mostra que entre o visível e o invisível o destino de três personagens serão cruzados: Naun, um comerciante libanês que vive em Foz do Iguaçu encara o dilema entre manter sua família unida ou suas tradições culturais. Diferentes visões de mundo estremecem a relação do sacoleiro José e de sua mulher, Maria Helena. O diretor de teatro, Léo, enfrenta dentro e fora de casa a dificuldade de se viver de arte. Essas histórias passam por estradas que levam a travessias desconhecidas.

Até é interessante falar que como disse acima, o longa está longe de ser algo completamente ruim, pois talvez se as três histórias fossem completamente separadas e removidos devidos exageros técnicos para que tivéssemos três curtas de 15 minutos cada dando no máximo 45 minutos de duração, o que é praticamente metade do que foi colocado na tela, o resultado seria crível, acabaria agradando e não teria tanta margem para erros. Claro que para isso a diretora Salete Machado teria de também ter trabalhado mais o elenco que por diversos momentos parece perdido e assim conseguiria condensar o seu roteiro para que ele fosse dinâmico e direto ao ponto. Mas como isso não é mais possível após o lançamento "comercial" do longa, o resultado acaba parecendo inflado e em alguns momentos até a reflexão momentânea acaba cansando, pois nem os protagonistas começam a empolgar e as cenas de miolo começam a ficar cada vez mais comuns.

O elenco principal felizmente tenta agarrar em seus personagens uma certa preocupação para que o filme deslanche, afinal é a sua imagem que está sendo mostrada na telona, e assim sendo Rodrigo Ferrarini nos dá um José interessante em algumas cenas (consideraremos mais válidas as dentro do ônibus e as no Paraguai, pois as em casa ficaram forçadas em demasia pelo contexto exagerado ali) e em outras nem parecia ser o mesmo ator, claro que isso se deve à conexão química com sua par em cena, pois sua esposa, interpretada por Cristiana Britto, mesmo sendo autoritária nas cenas deixava tudo jogado para que o ator retribuísse e não rolava a dinâmica entre eles. Jackson Antunes que é um ator tão bem conceituado no Brasil, nos entregou um comerciante travado demais, de modo que seu Naun até tem bons encaixes quando está na negociação com os clientes mostrando que libaneses são bons em administrar as lojinhas, mas em casa sua fé cultural parece exagerada e até abusada demais, fora que Taylla Sirino, que faz a filha, estava com um ânimo monstro para trabalhar e sua expressividade interpretativa quase nula por bem pouco não matou todas as cenas em que apareceu. Alan Raffo até trabalhou bem nas suas cenas e mostrou bem o que vejo com a maioria dos amigos que tentam viver de cinema/teatro/cultura em geral no país, pois a família realmente cai matando e os jovens acabam cometendo até grandes erros de vida, mas seu Léo precisaria ter mais tempo de tela para chamar atenção, e possivelmente seria a parte do longa que até se desenvolveria melhor, claro se o ator estivesse bem disposto à isso, pois nas cenas junto da mãe interpretada por Isadora Ribeiro, o jovem praticamente se calou e saiu de cena, mas se focasse na briga familiar e na tentativa de sobreviver à sua travessia interior também chamaria muita atenção.

No conceito visual, a trama mostra um trabalho de direção de arte minucioso, afinal são três histórias separadas, diversas locações, e claro que muita ideologia por trás de tudo, mostrando que a equipe de produção não economizou dinheiro para as cenas, fazendo várias tomadas aéreas (algumas totalmente desnecessárias, mas que foram feitas) e quando de cenas internas procurou mostrar bem os diversos elementos para representar bem o âmbito familiar que cada história estava inserida, o que agrada bastante. Claro que para gastar muito dinheiro foram necessários patrocinadores, e quando se fala de travessias, quem vem à mente dos produtores: ônibus, então assim como tudo que é dado é exigido, temos inúmeras cenas mostrando os ônibus das duas marcas patrocinadoras do filme, e isso irrita demais!! Já disse várias vezes, se vamos trabalhar em um filme com patrocinadores, suas marcas têm de ser vistas sim, mas ficar quase tendo um comercial expandido para o cinema é abusar dos espectadores. A fotografia foi correta, sem nada demais para falar que procuraram dosar tons, mas errou em alguns momentos ao destoar colorações, e isso num longa é quase pecado mortal, que poderia ser amenizado.

Enfim, volto a frisar que mesmo com a quantidade de defeitos que citei, o filme passa uma mensagem bacana e está bem longe de ser considerado impossível de assistir, mas infelizmente não posso recomendar ele para ninguém. Fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais uma estreia que apareceu aqui pelo interior, então abraços e até breve pessoal.