Atualmente só ouvimos nos jornais e vemos diversas fotos de refugiados que saem de seus países por diversos motivos e acabam morrendo no mar, ou são presos quando chegam ou até mesmo deportados à seus países, mas até agora não foi mostrado muito como eles chegam, e o que passaram até chegar ali aonde os noticiários tanto mostram. Então porque não fazer um filme com essa proposta trabalhando um miolo completo e deixando o fechamento aonde já conhecemos? Com essa ideologia e tendo um fundo bem simbólico e envolvente por personagens com diferentes posições na camada de vivência do problema que é tão atual, somos apresentados ao filme "Do Outro Lado Do Mar". Claro que com isso dito talvez muitos até vejam o longa de uma forma diferente, pois não esperava isso nas partes que estava achando em demasia na trama, mas contando/sabendo basicamente aonde o filme quer nos levar, passei até a gostar mais dele, e assim acabo recomendando ele.
O longa nos mostra que para fugir dos fantasmas do passado, um ex-fotógrafo de guerra que mora na Itália, em meio a oliveiras, tira apenas fotos de árvores. Um dia, decide voltar à Albânia, onde fez sua última imagem de guerra. Lá, encontra uma jovem fugindo da vingança de sua família e buscando um futuro de liberdade do outro lado do mar. A história comove o fotógrafo, que decide acompanhá-la na fuga do trauma.
O trabalho feito pelo diretor e roteirista Pierre Maillard mostra mais do que uma simples sutileza na forma de demonstrar os aprendizados de cada personagem, pois cada o mais velho vai adquirindo um carinho meio que subjetivo pela moça que nem sequer conhecia, e a jovem vai adquirindo mais experiência junto do sofrimento que ele já vivenciou, e com isso ganha mais força para conquistar seu objetivo. Isso tudo é bem mostrado levemente para que não fique um filme duro e sofrido, e ainda assim saiba comover na medida certa, ou seja, o diretor mesmo que errando por alongar demais ao criar toda a vivência dos personagens conseguiu trabalhar o fechamento de maneira tão simples e bem feita pontuando bem na atualidade que vivemos que acaba acertando no resultado. Claro que se o filme fosse mais direto, dolorido e no ponto certo acabaríamos desabando com tudo o que é mostrado, mas ainda assim temos uma boa trama bem feita.
É interessante que mesmo tendo diversos personagens, o filme foca praticamente somente nos dois protagonistas, e eles deram conta do recado, mas poderiam ter usado mais o padre do que simples simbolismos para a causa da boa fé e da troca de valores e assim não ter um ator que fez tão bons semblantes passeando apenas de carro. Kristina Ago nos entrega uma Mira até menos desesperada do que qualquer mulher ficaria após ver seu namorado assassinado pelos irmãos e sair em fuga pelo mundo, pois a ideia de fuga é interessante e ela se mostrou bem dinâmica frente a isso, mas faltou o desespero, a cara de necessidade e até mesmo o choro, pois "perdeu" uma parte do seu sonho ali, e faltou isso para soar perfeita, de modo que até creio no empoderamento feminino e que existam mulheres fortes e determinadas, que após um problema já resolvem tudo e bora pra fuga, mas ela ficou muito apática e determinada demais frente à tudo o que ocorreu, e isso acabou ficando estranho de ver, mas frisando ser seu primeiro trabalho, poderá aprender mais. Já completamente ao contrário dela, Carlo Brandt com sua enorme experiência, fez de seu Jean um apoio incrível para a garota e mostrou desespero, e mais do que isso, um olhar curioso completamente pronto para tudo ao encarar a "aventura" junto da garota, e a cada nova cena que lhe era proposto uma nova dinâmica, lá estava ele pronto com a faceta interpretativa correta para junto de boas nuances agradar à todos. Como disse no começo desse parágrafo, esperava bem mais do personagem do padre interpretado por Michele Venitucci, pois o ator fez ótimas expressões, trabalhou bem seus textos de uma maneira bem dinâmica, mas acabou faltando um quê a mais para que seu personagem funcionasse mais do que um simples interlocutor, talvez um pouco mais de sua história, mas isso é problema do roteiro e até mais da interpretação que cada um vai tirar de suas cenas, pois o ator fez o trabalho de uma forma belíssima. Os demais atores até fizeram bem seus papeis, mas nada que merecesse destaque algum, pois foram mais figurativos do que interpretativos mesmo, e na cena que os irmãos encontram a garota tinham tudo para fazer uma grandiosa cena expressiva, mas ficaram mais com cara de bobos do que qualquer coisa.
Sobre o conceito visual da trama, um fato claro é que a equipe de locação merece com toda certeza um prêmio para as ótimas escolhas que fizeram, passando por tantos lugares abandonados, diversas formas de terreno que deram texturas para cada momento dos protagonistas e que junto de uma ótima iluminação ora artificial ora brilhantemente usada a natural criaram nuances pela equipe de fotografia dignas de serem vistas no maior esplendor possível. Ou seja, embora tenha alguns pequenos detalhes fakes (as velas novinhas por exemplo dentro de uma capela em ruínas, entre outras coisas artificiais demais usadas), o contexto cênico recaiu perfeitamente dentro da proposta e junto de uma perfeita direção de fotografia envolveu todos que conferiram o filme.
Enfim, não tenho ideia sequer de quando o filme será lançado no Brasil, afinal nem distribuidora ainda tem, passando apenas por enquanto em alguns festivais (no caso de Ribeirão Preto, no 6° Panorama do Cinema Suíço Contemporâneo), mas é um longa que com toda certeza recomendo pelo ótimo contexto atual e pela sutileza em não criar um filme mais duro, o que até gostaria de ver nas mãos de algum diretor. Ou seja, quem puder ver certamente irá gostar do resultado final. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com a primeira crítica da nova semana cinematográfica, então abraços e até breve.
PS: Não encontrei trailer legendado em português, justamente por não ter distribuidora interessada no Brasil, mas assim que arrumar um melhor, volto e troco, por enquanto fiquem com o inglês que já ajuda um pouco.
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