Se tem uma coisa que é raríssima nos dias de hoje é ver uma comédia com um roteiro que possamos dizer bem trabalhado, pois, na maioria das vezes, os roteiristas optam por colocar algo mais exagerado sem se preocupar se o filme vai aceitar, ou então apenas abusa da inteligência do público forçando cenas para que esses riam deliberadamente. Pois bem, hoje depois de um longo tempo (acho que o último foi "O Lobo de Wall Street"), fomos apresentados ao filme "Dois Caras Legais", que roteirizado para ser uma série na TV, acabou sendo filmado como longa-metragem e agradou bastante na dose cômica, trabalhando todo tipo de nuance possível para que o filme nos remetesse aos velhos e bons tempos, aonde as comédias policiais funcionavam com detetives/policiais em pares (um burro que acertava tudo na sorte e outro brucutu que resolvia tudo na base da porrada) e sem precisar apelar para que situações acontecessem para fazer o público rir, de modo que a história já bem trabalhada conseguisse fazer isso sozinha. Ou seja, se você for esperando ver uma comediazinha boba que vai fazer você rir com piadas, escatologias e coisas do tipo que ultimamente andamos acostumados à ver, esse não vai ser o longa indicado, mas se quiser se divertir com uma boa dose de humor sujo aonde tudo flui dentro de uma história engraçada e absurda, vá com toda vontade conferir o longa, pois a chance de sair feliz com o resultado é bem alta.
A sinopse do filme nos conta que na Los Angeles dos anos 70, Amelia, filha de uma funcionária do Departamento de Justiça dos Estados Unidos está desaparecida. Ela decide contratar Jackson Healy, detetive particular violento e ex-alcoólatra, para investigar o caso.
O trabalho revela-se mais complicado do que o esperado e ele decide dividir a investigação com o atrapalhado Holland March. Ambos descobrem que o caso e a morte de uma estrela pornô estão, de alguma maneira, relacionados. Eles então descobrem uma conspiração chocante que atinge até os mais altos círculos do poder.
Mais conhecido pelos ótimos textos que fez na série "Máquina Mortífera", aqui além de roteirizar Shane Black, volta a comandar a direção após "Homem de Ferro 3", e mesmo com um orçamento bem mais enxuto que o longa do super-herói, 50 milhões contra 200 milhões, ele conseguiu fazer boas cenas de ação e trabalhar bem o contexto de época tão marcante que foram os anos 70. Claro que para isso ele precisou fazer cenas mais fechadas, aonde a cenografia ficasse bem focada ao redor dos protagonistas, para que nada saísse do fluxo e estragasse a ambientação colocada, mas muito mais do que uma ótima contextualização cênica, a grande sacada do diretor foi entregar os papeis certos para que cada ator desse o seu máximo tanto visualmente quanto na composição de seus personagens, pois é notável a excelente direção de atores ao ver a desenvoltura de cada um, e principalmente tendo um bom texto para seguir, pois a cada nova cena víamos mais trapalhadas sendo bem encaixadas, formando um resultado final incrível.
Já que falei que os atores foram muito bem nos papeis, vamos falar um pouco de cada um. Russell Crowe definitivamente deu fim ao seu corpo atlético e agora com um corpão mais cheinho usou apenas a força para mostrar que ainda bota os vilões para dormir com facilidade, mas mais do que deixar de lado seus atributos físicos, o ator mostrou que está disposto à voltar para sua boa forma interpretativa depois de pegar alguns papeis com diálogos fajutos e que não mostravam o quão bom de atuação ele realmente era no passado quando ganhou um Oscar e recebeu outras duas indicações, e usando do seu carisma tradicional e podendo ainda dar boas dinâmicas de ação para o seu Healy, ele acabou agradando e chamando bastante atenção para praticamente todos os seus momentos. Ryan Gosling também deixou de lado o seu lado sedutor para encarar um medroso e trapalhão March na trama, e com ótimas cenas cheias de comicidade, ele acabou incorporando o personagem de tal forma que certamente o público ficará esperando ver mais um filme, ou até mesmo uma série com as investigações malucas que ele nos proporcionou, sempre trabalhando a expressão facial mais do que qualquer coisa. Agora se tem alguém que merece um grande destaque é a garotinha Angourie Rice que deu tanta personalidade para sua Holly que a cada nova cena torcíamos para que sua personagem estivesse mais presente, pois deram tantas boas sacadas para que ela fizesse, que de jogada inicialmente na tela como uma mera coadjuvante acabou quase protagonizando boas cenas solo na trama toda. É interessante ver que o tempo passa para todos, e ainda que esteja bonitona, Kim Basinger já está com 63 anos e não chama mais tanta atenção como antigamente, sendo colocada mais para papeis secundários e que funcionem dentro de alguma perspectiva mais contida, e aqui sua Judith até faz duas cenas bacanas bem rápidas, mas se não chamasse tanta atenção pelo close que lhe foi dado, seria uma coadjuvante fácil de ser esquecida no longa. Da mesma forma, Matt Bomer só mostrou-se interessante como um atirador desenfreado com seu John Boy, pois ousou algum charme em poucas cenas e até encaixou uma certa química na cena junto da garotinha, mas nada que ficássemos impressionados com sua habilidade tão bem conhecida. Se não tivesse o momento explicativo de sua Amélia, poderíamos dizer que Margaret Qualley tomou muito energético e foi filmar suas cenas, pois a jovem não para quieta 5 minutos para trabalhar uma cena mais a fundo, correndo, pulando e surtando sem parar.
Agora como disse acima, um dos grandes acertos da trama foi a boa composição cênica que a direção de arte conseguiu fazer, pois temos diversos carros de época, figurinos na medida certa para representar tudo, e claro muitos elementos cênicos presentes em cada cena, de modo que se não quisessem colocar escrito a data na tela, certamente conseguiríamos distinguir os anos 70 na tela, pois tudo foi bem encaixado para que o longa fluísse e agradasse incorporando comicidade até mesmo nos elementos mais simples de cada momento, e além disso souberam escolher bem as locações para que tudo se encaixasse tanto dentro da ideologia policial mais dinâmica de ação, quanto na simbologia cômica não apelativa que tanto o diretor exigiu ver. Sobre a fotografia, souberam agradar e muito com sombras para termos um preenchimento interessante de ver na tela, filtros para dar um tom marcante de época com algumas granulações, mas principalmente ousaram em ter diversas cenas noturnas, sempre bem iluminadas pelas luzes de discoteca nas festas e bares, ou até mesmo usando isqueiros ou cenas envolvendo explosões para abusar do fogo dando um tom alaranjado bem colocado.
Além disso, a escolha musical foi de primeiríssima linha, funcionando para marcar ritmo nas cenas, e claro dar a nuance certa da época na trama. E claro que o Coelho não deixaria os amigos caçando as músicas, então aqui vai o link com a trilha sonora completa: link
Enfim, é um excelente filme que talvez até pudesse ser mais curto, mas durante todo o longa procurou evitar erros de cenas forçadas e com isso, mesmo que em diversos momentos nos víssemos falando que coisa idiota de aparecer, o resultado final acaba agradando muito. Outro pequeno defeito do filme é o exagero na sujeira, pois mesmo que o pano de fundo da trama seja embutido na indústria de cinema pornográfico, poderiam ter amenizado algumas cenas, e assim claro que algumas pessoas vão acabar reclamando de algumas cenas, mas é claro que ficou interessante de ver na telona tudo. Ou seja, recomendo ele com toda certeza tanto para quem gosta de uma boa comédia, como também para aqueles que gostavam dos longas policiais de antigamente, aonde uma boa dose de suspense cômico acabava funcionando na medida. Mais uma vez agradeço ao pessoal da Difusora FM 91,3MHz que nos proporcionou uma ótima pré-estreia lotada para ouvintes e com toda certeza agradou em cheio o público que compareceu, já estamos na torcida para a próxima pré, e sempre conte comigo para lotarmos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais uma estreia da semana, então abraços e até breve.
2 comentários:
Em 2016 houve estréias cinematográficas excelentes, mas o meu preferido foi Dois Caras Legais ❤️ Além de ter uma produção excelente, a história é divertida. Achei um filme ideal para se divertir e descansar do louco ritmo da semana. :)
Olá Karina... realmente é um filmaço!! Não ficou nos meus preferidos, mas gostei demais!! Só é engraçado falar que dá para descansar do ritmo louco, que esse deixa a gente com o ritmo mais acelerado ainda... rs... abraços!!
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