O que esperar de uma dramédia romântica em um road-movie? Essa pergunta não sei se posso responder mesmo após conferir o filme "Entre Idas e Vindas", pois o diretor e roteirista José Eduardo Belmonte trabalhou o filme de uma maneira existencialista demais, cheio de inflexões e reflexões dos personagens que acabamos gostando do estilo leve de condução, mas ficamos sempre esperando algo a mais em cada cena. Ou seja, é um filme bonito, gostoso de assistir, bem produzido e que trabalha uma vertente diferenciada dentro de nosso cinema, mas que poderia ser mais ousado para que o público entrasse na mesma vibe dos personagens que foram bem interpretados por todos, mas pouco utilizados para que o filme fluísse melhor.
O longa nos mostra que Amanda, Sandra, Cillie e Krisse, quatro amigas que trabalham no departamento de telemarketing de uma empresa, embarcam em um motorhome para fazer uma viagem de férias pelo litoral sul de São Paulo. Enquanto isso, Afonso e Benedito, pai e filho, tentam chegar à capital paulista em um velho carro Lada. Benedito não sabe, mas Afonso está levando o menino para encontrar a mãe, que não vê há seis anos, desde que ela ganhou uma bolsa de estudos e se mudou para Paris. Quando o Lada de Afonso quebra na estrada, sem possibilidade de conserto, as meninas do telemarketing socorrem Afonso e Benedito. E o que seria uma simples carona acaba se transformando em uma viagem cheia de aventuras e transformações pessoais.
O maior problema do filme não podemos dizer que foi da direção, pois a condução do filme de Belmonte é algo interessante de ser visto, mas talvez quando escreveu a história talvez o diretor precisasse refletir mais sobre o tema, ao invés de usar tantas reflexões nos personagens, pois o filme tem uma boa dinâmica, tem boas atuações, tem um ponto à ser atingido, porém tudo fica parado no MAS a boa dinâmica não foi para frente, MAS as boas atuações ficaram presas na falta de desenvolvimento, MAS o ponto a ser atingido acaba ocorrendo após o clímax e isso não é o que se espera de um filme. Claro que longe de ser algo ruim, mas esses problemas acabam segurando demais o andamento do filme, e acabamos saindo da sessão sem a resposta da pergunta que iniciei meu texto, mas ainda felizes com o que vimos na tela, ou seja, um paradoxo completo que não sabemos se gostamos, mas acabamos gostando. De tal forma que pelo trailer já era possível ver que não era um filme comum, que o diretor almejava algo a mais para ele, porém ele desejou demais e faltou impressionar realmente com o que queria, porém felizmente não tivemos um drama novelesco na telona, pois aí sim sairíamos da sessão com um humor completamente diferente.
Sobre as atuações, Fabio Assunção conseguiu dar um tom interessante para seu Afonso, de modo que certamente o conceito de pai solteiro pode ser visto de uma forma estranha, mas aqui ele deu boas perspectivas ao trabalhar com seu filho verdadeiro João Assunção, o qual se mostrou já seguir bem os rumos do pai na forma de interpretação que deu para seu Benedito, de tal modo que claro que a química entre os dois foi algo incrível de se ver, e podiam se conectar só com olhares para que um dissesse bem seu texto em sintonia com o do outro, além claro dos ótimos momentos de fofura que o garoto deu para a personalidade de seu personagem. Ingrid Guimarães sempre incorpora bem suas personagens, dando estilos próprios para elas, e aqui sua Amanda diríamos que é aquela chefe que não conhecemos nada da vida dela, mas que sempre tá junto para ajudar e dar alguns puxões de orelha, talvez sua personagem tenha ido numa velocidade acima do que o filme desejava ir, parecendo estar agitada demais em todos os momentos, e dessa forma não podemos dizer que foi seu melhor personagem até hoje, ainda que tenha agradado alguns bons momentos dela. Alice Braga sempre faz personagens fortes, e sua Sandra não seria a primeira personagem que mudaria o estilo que gosta de atuar, de tal maneira que seus momentos mais contidos até pareciam estranhos, até a atriz se soltar e incorporar com personalidade bons momentos de fúria, talvez um pouco mais de nuances em seus momentos chamariam bem a atenção, mas acabou fazendo bem o seu papel. Rosane Mulholland incorporou sua Krisse de uma maneira tão diferente que a atriz parecia ter no máximo uns 20 anos em cena, e sabemos que está bem longe dessa idade, mas com isso teve momentos tão doces e interessantes que talvez um filme aonde pudesse explorar mais dessa personagem agradaria bem nos cinemas. E fechando o elenco principal, Caroline Abras teve poucos momentos para desenvolver sua Cillie, de modo que foi quase uma figurante de luxo com seu estilo maluquinho de interpretar, que até deu um tom gostoso para suas cenas, mas faltou o diretor dar mais momentos chamativos para ela. Do elenco secundário é melhor nem falar, afinal quase todos apareceram para no máximo duas ou três falas, o que não impactou muito no desenvolvimento, valendo apenas um mero destaque para Milhem Cortaz que exagerou demais nos trejeitos de seu personagem, nem parecendo que o filme foi feito em São Paulo.
Como todo bom road-movie, arrumaram um bom motorhome para que os protagonistas andassem pelas estradas (aliás aonde arrumaram tantas estradas vazias para filmar?), e provavelmente também gravaram numa época mais fria para ter praias tão vazias também, mas tirando esses detalhes, os locais por onde o filme teve suas inflexões chamaram bem atenção pelos momentos (uma cidadela que ouve o sermão pelos alto-falantes, a outra vazia para a festa do prefeito, um mecânico 24 horas que não é 24 horas e aceita encomenda de doces, e por aí vai), além de arrumarem um Lada detonado para o protagonista tentar pilotar. Ou seja, tiveram o capricho de arrumar bons locais, mas não trabalharam tanto eles para termos elementos cênicos mais chamativos, somente claro a camerazinha que utilizaram também para a fotografia, dando um tom mais amarelado de efeito.
Enfim, é um filme interessante que poderia ser muito melhor se trabalhado mais cada personagem individualmente, ou se colocassem mais dilemas para serem resolvidos, de modo que o filme criasse uma perspectiva maior, mas ainda assim é mais um bom exemplar de que o cinema nacional está tentando fugir da característica novelesca que tanto o marcou, e sendo assim merece ser conferido, para que com uma boa bilheteria surjam mais filmes no estilo. Fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um longa do Festival Suíço, então abraços e até breve pessoal.
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