sexta-feira, 15 de julho de 2016

Travessias

Alguns filmes são lançados nos cinemas sem que tenhamos visto sequer um trailer ou até mesmo lido a sinopse dele em algum lugar, e algumas vezes acabam nos surpreendendo por algo no conteúdo ou na estética, mas outras vezes a vontade que dá é a de sair da sessão sem terminar de conferir, porém como esse Coelho que sempre vos escreve é persistente, ele fica até o final de todos os filmes mesmo que seja difícil suportar os erros. Digo isso pois "Travessias" está longe de ser o pior longa que já vi, mas possui tantos defeitos tanto na concepção da história (que é deveras cansativa, mesmo com lições interessantes) quanto no desenvolvimento técnico, que quem não for ao cinema realmente querendo muito ver o filme (vai lá saber o motivo de querer tanto!), provavelmente irá abandonar a sessão lá pela metade, provavelmente reclamando muito de tudo (ou quase nada) do que acaba acontecendo (ou não acontecendo). E sendo assim, é até difícil recomendar o longa para alguém, mas pensando na ideologia da mensagem passada pelo longa que necessitam ocorrer travessias em nossa vida e algumas são difíceis, assistir a um filme como esse pode servir para termos base de que existem longas bem melhores que reclamamos muito no passado, mas não tínhamos outro de referencial, e digo mais, como costumo frisar sempre é bom ver tudo o que é lançado, pois passamos a conhecer mais detalhes de erros e acertos pelo mundo afora, e aqui infelizmente erraram demais.

A sinopse do longa nos mostra que entre o visível e o invisível o destino de três personagens serão cruzados: Naun, um comerciante libanês que vive em Foz do Iguaçu encara o dilema entre manter sua família unida ou suas tradições culturais. Diferentes visões de mundo estremecem a relação do sacoleiro José e de sua mulher, Maria Helena. O diretor de teatro, Léo, enfrenta dentro e fora de casa a dificuldade de se viver de arte. Essas histórias passam por estradas que levam a travessias desconhecidas.

Até é interessante falar que como disse acima, o longa está longe de ser algo completamente ruim, pois talvez se as três histórias fossem completamente separadas e removidos devidos exageros técnicos para que tivéssemos três curtas de 15 minutos cada dando no máximo 45 minutos de duração, o que é praticamente metade do que foi colocado na tela, o resultado seria crível, acabaria agradando e não teria tanta margem para erros. Claro que para isso a diretora Salete Machado teria de também ter trabalhado mais o elenco que por diversos momentos parece perdido e assim conseguiria condensar o seu roteiro para que ele fosse dinâmico e direto ao ponto. Mas como isso não é mais possível após o lançamento "comercial" do longa, o resultado acaba parecendo inflado e em alguns momentos até a reflexão momentânea acaba cansando, pois nem os protagonistas começam a empolgar e as cenas de miolo começam a ficar cada vez mais comuns.

O elenco principal felizmente tenta agarrar em seus personagens uma certa preocupação para que o filme deslanche, afinal é a sua imagem que está sendo mostrada na telona, e assim sendo Rodrigo Ferrarini nos dá um José interessante em algumas cenas (consideraremos mais válidas as dentro do ônibus e as no Paraguai, pois as em casa ficaram forçadas em demasia pelo contexto exagerado ali) e em outras nem parecia ser o mesmo ator, claro que isso se deve à conexão química com sua par em cena, pois sua esposa, interpretada por Cristiana Britto, mesmo sendo autoritária nas cenas deixava tudo jogado para que o ator retribuísse e não rolava a dinâmica entre eles. Jackson Antunes que é um ator tão bem conceituado no Brasil, nos entregou um comerciante travado demais, de modo que seu Naun até tem bons encaixes quando está na negociação com os clientes mostrando que libaneses são bons em administrar as lojinhas, mas em casa sua fé cultural parece exagerada e até abusada demais, fora que Taylla Sirino, que faz a filha, estava com um ânimo monstro para trabalhar e sua expressividade interpretativa quase nula por bem pouco não matou todas as cenas em que apareceu. Alan Raffo até trabalhou bem nas suas cenas e mostrou bem o que vejo com a maioria dos amigos que tentam viver de cinema/teatro/cultura em geral no país, pois a família realmente cai matando e os jovens acabam cometendo até grandes erros de vida, mas seu Léo precisaria ter mais tempo de tela para chamar atenção, e possivelmente seria a parte do longa que até se desenvolveria melhor, claro se o ator estivesse bem disposto à isso, pois nas cenas junto da mãe interpretada por Isadora Ribeiro, o jovem praticamente se calou e saiu de cena, mas se focasse na briga familiar e na tentativa de sobreviver à sua travessia interior também chamaria muita atenção.

No conceito visual, a trama mostra um trabalho de direção de arte minucioso, afinal são três histórias separadas, diversas locações, e claro que muita ideologia por trás de tudo, mostrando que a equipe de produção não economizou dinheiro para as cenas, fazendo várias tomadas aéreas (algumas totalmente desnecessárias, mas que foram feitas) e quando de cenas internas procurou mostrar bem os diversos elementos para representar bem o âmbito familiar que cada história estava inserida, o que agrada bastante. Claro que para gastar muito dinheiro foram necessários patrocinadores, e quando se fala de travessias, quem vem à mente dos produtores: ônibus, então assim como tudo que é dado é exigido, temos inúmeras cenas mostrando os ônibus das duas marcas patrocinadoras do filme, e isso irrita demais!! Já disse várias vezes, se vamos trabalhar em um filme com patrocinadores, suas marcas têm de ser vistas sim, mas ficar quase tendo um comercial expandido para o cinema é abusar dos espectadores. A fotografia foi correta, sem nada demais para falar que procuraram dosar tons, mas errou em alguns momentos ao destoar colorações, e isso num longa é quase pecado mortal, que poderia ser amenizado.

Enfim, volto a frisar que mesmo com a quantidade de defeitos que citei, o filme passa uma mensagem bacana e está bem longe de ser considerado impossível de assistir, mas infelizmente não posso recomendar ele para ninguém. Fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais uma estreia que apareceu aqui pelo interior, então abraços e até breve pessoal.

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