Existe um subgênero misturado no meio dos dramas que é o de estudo da personalidade do jovem/adolescente que sofre algum distúrbio na sua vida, e posso dizer sem sombra de dúvidas que são os filmes mais difíceis de assistir, pois se a equipe não for bem preparada para dizer o que quer mostrar logo de cara, o longa acaba arrastado e por vezes até soa bonito de se ver pela mensagem final, mas dificilmente vai se conectar com um público que não teve uma adolescência/juventude problemática da mesma forma. Havia uma grande expectativa em cima do longa "Mãe Só Há Uma" por parte do público devido o longa anterior da diretora Anna Muylaerte ter sido algo fora do comum no estilo, mas ela sequer passou perto com o resultado final, e principalmente deixou de lado a característica mais marcante que é a de comover o público com a história do protagonista, usando esse recurso somente na última cena do filme, quando já é tarde demais para recuperar todo o prejuízo. Não posso dizer que é um longa ruim, mas de longe não empolga como poderia empolgar e comover.
Após denúncia anônima, o adolescente Pierre é obrigado a fazer um teste de DNA. Ele descobre que foi roubado da maternidade e que a mulher que o criou não é sua mãe biológica. Após a revelação o garoto é obrigado a trocar de família, de nome, de casa, de escola, tudo isso em meio às descobertas da juventude.
O maior problema do filme não é nem tanto sua história, pois ela poderia ser desenvolvida de uma maneira criativa e interessante, pois o enredo é incrível, mas a diretora optou por trabalhar mais a personalidade distópica do garoto que por vezes não aceita o corpo que tem e por vezes acaba meio perdido em sua mente, que o filme acaba amarrado e até chato para quem esperava ver um drama mais complexo. Claro que isso é uma das formas de ver o filme, pois é possível enxergar até umas duas ou três óticas diferentes, que com certeza trarão resultados diferenciados para cada um, e isso é algo que alguns diretores gostam de trabalhar e muitas vezes preferem do que mostrar realmente o que desejavam. De certo modo o trabalho da diretora foi bem feito, mas que poderia alcançar rumos iguais ou até melhores do que seu longa anterior, por ser uma história até mais forte, isso certamente ela poderia, mas como costumo dizer, as vezes o caminho mais fácil não é o correto, e aqui o filme ficou faltando o clímax que todos esperavam, o da última cena, pelo menos uns 15 a 20 minutos antes, ou até algo mais forte do que o que foi mostrado.
No conceito das atuações, podemos dizer que o jovem Naomi Nero mostrou a ótima herança familiar no estilo de atuar e dosou todo o temperamento do personagem Pierre/Felipe nos trejeitos corporais e na desenvoltura expressiva de seus momentos, mas assim como disse acima, o excesso em querer mostrar os problemas da juventude, a qual muitos sequer passam por isso, seu real potencial acabou ficando de lado. Daniela Nefussi teve trabalho em dobro ao fazer as duas mães do garoto, Araci e Glória, e embora muitos não achem isso um problema, pois a atriz soube trabalhar bem duas personalidade completamente diferentes, o filme acaba tendo uma dúvida grande no ar, de algo até inexistente, mas que poderia ser pensado, de o jovem ter até mais problemas em relação ao imaginário também, o que com certeza não era algo previsto no roteiro. Matheus Nachtergaele sempre faz bons papeis, mas seu Matheus é tão irritante na cena da loja e do boliche que acabamos mais irritados com o que faz do que gostando de sua interpretação, claro que esse era o objetivo, mas um tom abaixo e ainda seria bem feito. Outro que merecia mais destaque no longa e acabou meio deixado de lado foi Daniel Botelho, que teve boas cenas com seu Joca, mas sempre nada revelado para o público, seus problemas e dificuldades foram ficando apagadas e sempre se via na expressão do ator que ele poderia dar mais para o filme, o que foi uma pena. E se reclamo de Daniel Botelho, de Lais Dias então, simplesmente participou do filme com sua Jaqueline e adeus. Os demais adultos aparentavam um certo desespero em acabar suas cenas, que por vezes foram semelhantes e não agradaram.
Sobre o visual do longa, tivemos bons momentos em quase todas as locações, fosse nas festas, na banda da garagem, na demonstração de diferenças de classes e desejos com a cena dos pais biológicos da garota, da boa elaboração cênica das duas casas com claro pichações no melhor estilo que conhecemos bem, e claro dos figurinos que o jovem usou para representar suas dúvidas, mas de certa forma foram singelos em tudo sem almejar um resultado mais expressivo por conta do conteúdo artístico, e isso em alguns momentos até chegou a soar falso, o que não é legal, principalmente na cena do boliche, aonde qualquer pessoa chegaria perto de uma briga desse estilo, e assim sendo nem parecia que estavam realmente ali. As nuances da fotografia foram bem dosadas com diversos tons, para oscilar bem os momentos "felizes" com os momentos de dúvida do personagem, e esse trabalho mostrou que a dramaticidade por cores vem crescendo e muito no Brasil, e quem sabe em breve vamos ter um filme daqueles de nos apaixonarmos pelas ótimas simbologias, sem ficar somente no tom de drama e tom de comédia como muito ocorre por aí.
Enfim, volto a frisar que não é um filme ruim, mas ficou muito aquém do que poderia alcançar, e principalmente é um longa feito ou para jovens que passaram/passam por problemas de dúvidas na sua juventude, e podem ou não passar por um trauma grande, ou para pessoas que possuem conhecidos nesse estilo, pois os demais vão acabar achando tudo falso e fora de uma conotação possível de existir. Portanto essa fica sendo a minha recomendação para se pensar antes de ir conferir o longa. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais estreias e com o filme que acabou faltando dessa semana, então abraços e até breve.
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