Tem certos diretores que podem fazer mil filmes diferentes que iremos reconhecer seu toque pessoal em menos de 10 minutos de projeção, e um dos que sabemos reconhecer de cara é Woody Allen que trabalha bem tanto o romance quanto o drama com doses bem leves para que sua história flua leve e dentro de uma perspectiva clara que leva o público a se divertir com um estilo mais clássico e interessante, sem que necessite apelar ou forçar a barra com piadas inúteis. E em "Café Society" esse estilo é culminado ainda com uma história segura do que deseja passar e sem muitas reviravoltas para que o público se impressione com algo, o que de certa maneira é um pouco ruim, pois a todo momento esperamos algo acontecer e acaba que não ocorre ficando narrativo demais e criando apenas situações romanceadas gostosas de serem vistas, mas que apenas são interessantes de ver, não que impressione muito. Ou seja, é um filme bonito de se ver, mas que apenas flerta com o espectador e cria situações cômicas gostosas de serem compartilhadas, porém quem for esperando um filme cheio de reviravoltas irá com certeza se decepcionar um pouco.
O longa nos situa nos anos 1930. Bobby é um jovem aspirante a escritor, que resolve se mudar de Nova York para Los Angeles. Lá ele deseja ingressar na indústria cinematográfica com a ajuda de seu tio Phil, um produtor que conhece a elite da sétima arte. Após um bom período de espera, Bobby consegue o emprego de entregador de mensagens dentro da empresa de Phil. Enquanto aguarda uma oportunidade melhor, ele se envolve com Vonnie, a secretária particular de seu tio. Só que ela, por mais que goste de Bobby, mantém um relacionamento secreto.
Talvez, na opinião desse Coelho que vos escreve, o maior problema do longa seja o exagero de narração, pois como já falei outras vezes uma boa trama flui sozinha com suas situações, e aqui Woody a cada novo momento, ou novo personagem nos conta praticamente tudo o que estamos vendo na tela, e inicialmente isso até soa interessante como forma de apresentação dos personagens, mas no decorrer do longa acaba sendo cansativo e, em alguns momentos, até repetitivo demais. Não digo que isso tenha estragado o filme, pois a história é muito gostosa de ser assistida, mas atrapalhou o andamento e acabou deixando os personagens até presos demais nas suas esquetes fechadas. Ou seja, Woody ainda mostra que tem uma boa mão para a direção de atores, mas parece estar esquecendo de como fazer boas montagens fluídas sem que fiquemos necessitados de ler os rodapés explicativos de suas obras para conhecer toda a ideologia de cada personagem e/ou cenário.
Diferente do que ocorreu com Owen Wilson em "Meia-Noite em Paris", Jesse Eisenberg não assumiu a personalidade clássica que Woody gosta de mostrar em seus protagonistas masculinos, daqueles que acabam conversando com o espectador e de certa forma até acabamos nos conectando com sua história, talvez pelo excesso de narração também, mas acabamos vendo um ator mais tímido em frente às câmeras, pois sabemos que Jesse é mais atirado no que faz, e aqui ficou simbólico demais para que seu Bobby apenas interpretasse com olhares e gestos tudo o que o diretor ia narrando e mostrando, claro que a ingenuidade que a personalidade do personagem pedia foi bem trabalhada, mas acabou ficando tão para trás que em alguns momentos até esquecemos que ele está ali (por exemplo na cena da mesa da família). Já sendo completamente o inverso de Jesse, Steve Carell cada dia nos mostra o quão bom ator ele consegue ser, dando dinâmica, carisma e até uma desenvoltura completa que seu Phil não teria se fosse interpretado por Bruce Willis (que foi demitido no meio das gravações), ou seja, o ator não apenas pegou a boa oportunidade como acabou sendo melhor do que a expectativa criada em cima dele. Kristen Stewart fez de sua Vonnie uma personagem sexy e interessante, criando uma trama bem leve de ser desenvolvida e acaba envolvendo até mesmo o público com seu jeito carismático, porém sua segunda fase é demasiadamente exagerada e mesmo com floreios leves no meio a atriz acabou se perdendo e não agradando o tanto que deveria. O longa conta com diversos outros bons atores, que em alguns momentos até possuem um bom tempo de tela para se mostrar, mas como acontece em longas com muita gente, acabamos não podendo falar de todos senão vira uma monografia completa, então para dar um destaque sem dúvida alguma fica para as poucas cenas de gângster interpretadas maravilhosamente bem por Corey Stoll, fazendo com que seu Ben ficasse marcante e interessante de acompanhar, pedindo até mais cenas do que fez.
Quanto do visual do longa, é algo completamente lindo de se ver e maravilhar, fazendo que nossa vontade de viver na Hollywood e/ou Nova York dos anos 30 vá à um nível gigantesco, pois temos boas locações, bons elementos cênicos, todo o charme dos ótimos figurinos e principalmente uma colorização maravilhosa de se ver e envolver, que agrada demais tanto nos momentos singelos, quanto nos mais badalados, mostrando que a equipe estava completamente disposta para nos entregar um ótimo filme. E quanto da fotografia, Vittorio Storaro mostrou o motivo de ter ganho três Oscar, colocando personalidade em sua câmera envolvente e trabalhando iluminações coerentes com a época e movimentos bem dinâmicos para agradar.
Enfim, é um filme que vale a pena ser visto pela ótima perspectiva criada e que agrada pelos bons momentos, porém o diretor poderia ter economizado na narração e desenvolvido mais as situações para que o longa agradasse mais. Sendo assim, use a tradicional desculpa de conferir o longa anual de Woody Allen e vá para o cinema que com certeza irá gostar do que verá, se não se incomodar com filmes narrados. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com novas estreias.
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