Acho bem interessante quando sou surpreendido por uma história diferenciada, pois costumeiramente vemos diversos longas no cinema que até possuem um ou outro elemento diferente do tradicional, mas com "O Lar Das Crianças Peculiares" ficamos procurando algo para nos remeter e não vem nada. Podem até dizer que seria uma nova saga adolescente do estilo de Percy Jackson ou citar até outros nomes, mas foram tão concisos na ideologia da trama, que certamente poderia ter várias continuações (aliás se quisessem acabar dois minutos antes, o público sairia com uma verdadeira vontade iminente de uma breve continuação) e com bons personagens que poderiam até ser mais desenvolvidos durante a trama, o resultado por parte da história é perfeita. Mas digo isso somente pela história, pois como o diretor optou por trabalhar mais com efeitos práticos do que computacionais, alguns efeitos soaram bizarros e por sorte os piores ficaram para as cenas finais, pois se fossem no miolo a chance do longa desabar seria altíssima. Ou seja, é um longa com tanto primor visual para envolver que poderiam ter tido um cuidado mais preciso nos efeitos para que tudo fosse perfeito e interessante de ver, pois garanto que é uma trama incrível, e que muitos vão se apaixonar pelo que verão, mesmo que a bagunça temporal deixe você um pouco perdido com tudo o que os personagens dizem em seus diálogos corridos.
O longa nos mostra que após uma tragédia familiar, Jake vai parar em uma ilha isolada no País de Gales buscando informações sobre o passado de seu avô. Investigando as ruínas do orfanato "Miss Peregrine’s Home for Peculiar Children", ele encontra um fantástico abrigo para crianças com poderes sobrenaturais e decide fazer de tudo para proteger o grupo de órfãos dos terríveis hollows.
É interessante observarmos que mesmo tendo coisas bizarras na trama que já vieram provenientes do livro em que o filme é baseado, o qual trabalha muito bem as ideologias e deformidades causadas na época da guerra, o diretor Tim Burton incrivelmente não colocou suas mangas malucas para fora para criar coisas que fugissem muito no imaginário das pessoas, e isso é bacana de ver, pois o longa já tem um tom diferenciado que se fosse muito esquisito acabaria mais afastando as pessoas do que cativando como é o caso aqui. Outro fator bem gostoso é que os romances fluíram bem naturalmente, sem muita artificialidade e sem que o filme precisasse ficar meloso demais, e da mesma forma os momentos de maior interatividade dos personagens também foram bem montados para que não saíssem do nada correndo e atacando, ou seja, um filme pensado para que a história fluísse bem de acordo com cada momento, deixando que o público seguisse o mesmo ritmo que a trama, não atropelando, nem enrolando demais. Agora o que volto a frisar, é que poderiam ter desenvolvido mais cada personagem e talvez deixado que o longa fosse mais do que um filme, porém acabaria cansando em determinados momentos para dar a quebra exata, portanto a escolha do diretor foi sábia e mesmo que os fãs do livro reclamem da falta de determinado momento ou cena, a história geral vai agradar e passar todas as boas mensagens que desejavam mostrar.
Agora para falarmos das atuações, temos de ir um pouco antes das filmagens para a casa do diretor, pois é inegável que a protagonista foi desenhada para a ex-mulher do diretor, Helena Bonham Carter, já que temos o mesmo visual, mesmo estilo de interpretação, mesmo tudo, de tal maneira que Eva Green com toda certeza necessitou se inspirar em Helena para conseguir tal feito, e sendo assim, o resultado de sua personagem conseguiu soar interessante e bem condizente, agradando tanto visualmente, quanto no estilo dos diálogos bem pontuados e cheios de nuances sonoras para que sua Alma Peregrine ficasse incrível. Outro ponto que temos de discutir é que estamos ficando velhos, pois o garotinho que fez "Hugo", está enorme já com seus 19 anos, fazendo papeis adolescentes impactantes, com cenas romanceadas que muito em breve lhe será dado personagens até mais sérios, e sendo assim os olhões azuis de Asa Butterfield vão claro cair muito bem em romances melosos e dramas aonde o bom moço sempre irá predominar, afinal o jovem ator sabe trabalhar bem pontualmente com um charme clássico e uma desenvoltura elegante de tal maneira que seu Jake soa tão leve à ponto de quase deixar que a trama saísse de suas mãos, e sendo assim só precisa melhorar um pouco mais nesse engajamento para que não destoe nas cenas mais fortes. Samuel L. Jackson sempre cai bem numa trama, e mesmo com um visual completamente fora do padrão que estamos acostumados a ver com seu Barron, ele soube dosar os momentos de brincadeira cômica com tomadas mais sérias e fortes, chegando até a causar um bom ar de vilão dentro da perspectiva que a trama pedia. Dentre os demais peculiares, é fato que temos de dar um bom destaque para Ella Purnel com sua Emma doce e graciosa, que até agrada nos momentos mais sutis, mas soou afobada demais para as cenas de correria, e temos de lembrar também de Finlay MacMillan com seu Enoch cheio de mistérios e uma habilidade incrível tanto dentro do personagem, quanto nos olhares diretos do ator. E se temos de dar um destaque negativo, certamente vai para Chris O'Dowd fazendo um pai completamente abobado e cheio de trejeitos ruins, aonde nem que o diretor fosse milagroso conseguiria salvar algo proveniente da bagunça que acabou fazendo em suas cenas. Dentre os demais, todos soaram bem e foram corretos nas suas interpretações, agradando aonde deveria com simplicidade, e principalmente sem tentar roubar a cena, ou seja, um bom trabalho no geral, só esperava um pouco mais das cenas de Judi Dench e de Terence Stamp, afinal são dois grandes atores que não mereciam papéis tão jogados e simples.
Quanto do visual temos de pontuar a belíssima cenografia dos anos 40, com figurinos minuciosos, um tom sombrio bem palpável que Tim Burton adora impostar em suas tramas caindo bem nos diversos elementos e muitos detalhes para poder trabalhar, colocando simbolismos em cada canto da trama, destruindo tudo que precisasse destruir, ambientando uma ilha de duas formas e claro enchendo seu filme com personagens bem caracterizados, e bem diferentes para que não chocasse nem assustasse, mas que tivesse o tom e a marca Burton impregnado na trama, de tal maneira que quem olhasse o filme passando de canal simplesmente soubesse que é uma produção sua, ou seja, minimalismos precisos e usando da piada pronta que o nome já traz, peculiar em ser interessante de ver. Um dos erros porém por parte do conceito visual ficaram os efeitos digitais da trama, pois principalmente as transformações da protagonista em pássaro e seus voos ficaram bem falsos (na cena final temos praticamente uma mão ali mexendo um pássaro de enfeite, de tão ruim que ficou), e sendo assim, com todo um conceito interessante, poderiam ter gastado um pouco a mais para que o filme ficasse mais real nesses conceitos. E claro que os tons da fotografia todos foram puxados para o mais escuro que pudesse, mas que não sumisse dentro das perspectivas que desejava atingir, criando sempre nuances e sombras tão bonitas de ver, como nas cenas dentro do mar, ou até mesmo nas cenas internas aonde o casarão acaba chamando a responsabilidade, oscilando bem pouco para tons azulados em uma ou outra cena, e somente em momentos bem pontuais de felicidade dos garotos o diretor deu uma corzinha laranja aqui, um tom rosa ali, pois no restante o preto predomina.
E aí é que entra um dos problemas do filme, pois ele está sendo vendido como 3D e não foi filmado com a tecnologia, ou seja, convertido na edição para ganhar uma bilheteria maior, mas volto então a falar da fotografia, e que cor eu disse que predomina? O preto, e a cor preta não tem dimensionalidade, ou seja, mesmo que o diretor tenha trabalhado com muitas sombras, não temos uma profundidade de campo para funcionar, não temos sequer um momento que o efeito cause uma fobia interna de preenchimento, não temos um personagem ou elemento saindo da tela, de tal maneira que foram até espertos em algumas cidades nem trazendo cópias 2D, pois não vale sequer 1 real a mais pago para ver o filme com a tecnologia, então se tiver essa opção em sua cidade não tenha dúvida de escolher pela versão mais barata. (Mentira, temos a cena de retrocesso do tempo na fenda temporal, que com a chuva caindo, os detalhes ficaram interessantes de ver, ou seja, temos uma cena!!)
Enfim, um filme muito interessante, gostoso de assistir e que vale muito a pena conferir, porém se tivessem errado menos teríamos algo incrível que certamente atingiria a nota máxima, portanto pelos erros digitais e do 3D desnecessário, vou remover dois pontos da nota da trama, mas ainda assim recomendo demais ele pela história interessante que vai fazer os amantes de aventuras voltarem a acreditar em filmes com personagens diferentes e sombrios que podem ter um espaço no nosso imaginário. Portanto, vá para o cinema se divertir com um bom filme e nem se preocupe muito com as datas e bagunças temporais, pois não será importante para o desfecho da história, e se ficar focando demais nisso é capaz de sair um pouco perdido da sessão. Fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais uma estreia, então abraços e até breve pessoal.
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