Acho interessante quando lançam algumas obras no cinema que só funcionam para ser usadas nas aulas de História, e ainda de modo bem rápido acelerando os trechos desnecessários, pois acabam enfeitando tanto a história de alguns personagens importantes que o resultado raramente funciona como filme mesmo. Este é o caso de "Rondon, o Desbravador", que para falar sobre o homem que liderou o exército em diversas frentes para chegar aos pontos extremos do Brasil acaba colocando o clichê máximo de o personagem velho contando suas histórias para um escritor/jornalista e com isso, para não ficar tão maçante, acaba colocando também pontos amorosos, amizades, e até personagens desnecessários para que o jornalista não seja alguém inútil na trama, e no melhor (para não dizer mais inútil) modo novelesco possível, ficamos nos perguntando qual o motivo de darem um flerte do jornalista com uma vizinha do marechal que aparece na casa para receber um telefonema da mãe doente????? Nem o mais ensandecido roteirista iria colocar isso jogado numa história! Sei que o filme é uma adaptação de uma série que foi feita, mas cortassem isso para não ficar jogado demais, pois da maneira que foi colocado a trama pareceu tão infantil que o longa serviria no máximo para alunos das séries iniciais das escolas.
A sinopse do longa nos conta que o Marechal Cândido Rondon liderou expedições no território brasileiro, foi responsável pelo primeiro contato com dezenas de nações indígenas sob o lema “Morrer se preciso for, matar, nunca” possibilitando o início de uma convivência pacífica entre índios e brancos.
Partindo dos acontecimentos históricos, o filme cria um encontro fictício entre um jornalista e o Marechal para uma entrevista em sua residência. Durante todo um dia, Rondon encanta o jornalista com suas histórias cheias de aventura e lembranças, às vezes tristes, às vezes divertidas, mas sempre repletas de ternura e saudades.
O trabalho que os diretores Marcelo Santiago e Rodrigo Piovezan fizeram com o roteiro é algo bem floreado que talvez em uma novela ou numa série grande funcionasse bem, pois possui romances, possui boas histórias para serem representadas na tela, mas num longa metragem acabamos necessitando que as coisas rumem para um foco mais fechado e não tão floreado como nos foi entregue aqui. Esse sem dúvida alguma foi o maior defeito da produção, pois vemos termos técnicos bem interessantes, cenas com profundidade cênica de elementos visuais e tudo mais, porém sem um critério para os ocorridos (seja temporal ou de importância), indo e vindo em fases diferentes conforme a memória do protagonista vai revelando, com meandros bobos e inúteis para um filme. Ou seja, poderia ser daqueles filmes biográficos de cair o queixo, mas que no final vai servir para algum professor mostrar rapidamente o lema do Marechal como ocorreu, mostrar rapidamente quem foi ele, e nada mais.
Sobre as atuações, podemos dizer que mesmo sendo apenas um narrador/contador de história, Nelson Xavier mostra em seu semblante e na forma bem pontual de declamar seus textos uma incrível maneira interpretativa tão boa que o velho Marechal cego foi brilhantemente bem interpretado, mas como disse acima, poderiam ter trabalhado com ele de uma maneira bem mais encantadora para que não ficasse jogado, e assim o grande ator que é daria um show a mais. Rui Ricardo Diaz caiu bem na personalidade do Marechal jovem, mas fluiu meio que de forma perdida em cena quando não estava em diálogo com ninguém, parecendo ser pensativo demais e vagando sem rumo, o que não é legal de ver no semblante de um ator, talvez pudessem dar mais cenas de ação para que ele desenvolvesse e assim agradasse mais. Marcos Winter aparece nas últimas cenas como Darci Ribeiro e com poucas cenas mostrou um carisma incrível que também poderia ter sido utilizado mais, mas foi a opção do diretor, então apenas podemos dizer que foi bem no que fez. Quanto aos demais, é melhor nem falar muito senão a chance de diminuir mais ainda minha nota é alta, pois tivemos Aldo Perrota fazendo expressões tão estranhas que nem o mais tímido jornalista ficaria daquela forma, além de sua paixonite pela vizinha foi algo enfeitado que caiu de paraquedas na trama.
Como disse, o visual da trama foi algo tão bem trabalhado que impressiona, e mostra que a equipe estava disposta a criar algo grandioso e cheio de boas referências à tudo o que o Marechal fez, indo para matas, colocando bons figurinos e principalmente trabalhando cada cenografia como era realmente nas épocas mostradas, afinal durante o longa são mostrados trechos das filmagens com câmeras simples que documentavam as expedições, o que é um charme interessantíssimo de ver, ou seja, um trabalho perfeito que não foi bem usado.
Enfim, um filme que poderia ser melhor desbravado (usando até o nome dele) por alguém com maior tino comercial, e que ficaria para a memória completa do povo mostrando o quão grande foi esse pacifista, pois a homenagem acabou falhando mais do que agradando, e sendo assim não tenho como recomendar ele para ninguém. Fico por aqui hoje, mas volto amanhã com a última estreia da semana, então abraços e até breve pessoal.
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