Certos moldes de filmes costumam funcionar bem, mas o esquema comédia romântica que emplaque já anda um pouco desgastada e precisam dar um novo gás para que volte a agradar sem que precisem apelar. Não digo que "Um Namorado Para Minha Mulher" é um filme ruim, mas como logo de cara resolveram não apelar para ganhar o público, o longa acaba ficando morno o tempo inteiro, com uma ou outra cena mais divertida, e acaba da mesma forma que começou, ou seja, um ciclo simples com um meio turbulento, mas que não atrapalha a viagem completa. Ou seja, tentaram refilmar um sucesso argentino, mas nos nossos moldes, e assim como a protagonista Ingrid Guimarães diz na cena dos créditos, o gênero anda repetitivo demais com os mesmos atores fazendo praticamente as mesmas coisas, e eu ainda acrescento mais um fato nisso que é o inverso de seu fechamento, o público começa a não dar mais tanta bola, pois hoje a sala infelizmente estava bem vazia.
O longa conta a história de Chico e Nena, que estão juntos há 15 anos e vivem uma crise conjugal que parece não ter solução, já que ela enlouquece o marido reclamando de coisas simples da vida. Com o relacionamento por um fio e sem coragem de pedir o divórcio, ele é convencido pelos amigos a tomar uma decisão inusitada: contratar um amante para sua mulher, o exótico sedutor Corvo, para que ela se apaixone e resolva, ela mesma, acabar com o casamento.
Alguns podem até dizer que o trabalho da diretora Julia Rezende é preguiçoso por não inovar no estilo, mas ela soube ser criativa dentro da esquete no miolo do longa que trabalhou um estilo bem pautado que pode vir a ser um futuro mote de algum longa nacional, pois o formato jornalístico apimentado é algo que funciona, e num longa-metragem quem sabe o rumo mais dinâmico que pode criar, porém são poucas as cenas que utilizou desse artifício, afinal o longa não é sobre isso, mas sim sobre o relacionamento do casal, e a inserção de um terceiro elo de uma maneira não tão comum. Aí nesse quesito, a fórmula já batida de mudanças é tão óbvia que chega a nem empolgar, o que é uma pena, pois fica bem claro todo o processo ao redor da trama, com boas locações (o antiquário é belíssimo e poderia ter diversos estilos de nuances ali), o esforço de todos os atores para que suas cenas fossem dinâmicas e bem interpretadas mesmo que o texto não fosse tão envolvente, e por aí vai, mas faltou aquele detalhe a mais para que o longa não ficasse na mesmice e soasse inovador, o que acabou acontecendo em 2008 quando a Argentina lotou as salas para ver essa história, porém agora 8 anos mais tarde já vimos diversos nesse mesmo molde, e infelizmente não funciona mais.
Já elogiei diversas vezes o estilo de atuação de Ingrid Guimarães, e aqui não seria diferente se focássemos somente nos seus ótimos momentos no quadro "Gastando o Verbo", pois ali realmente a sala inteira do cinema se divertiu muito com piadas ácidas bem encaixadas pela atriz, que mostrou-se uma sagaz jornalista, porém nos demais momentos sua Nena aparentou apatia demais para tentar chamar a responsabilidade das cenas e dificilmente conseguia manter o tom irônico que deu início na trama, e isso é algo que talvez a própria atriz não tenha se empolgado com a personalidade de sua personagem e acabou deixando meio que de lado, pois como falei ela sabe atuar e bem, e não iria jogar um filme no ralo. Agora já pelo contrário de Ingrid que tentou se esforçar para salvar suas cenas, Caco Ciocler foi decepção em cima de decepção com seu Chico, pois parecia perdido em relação às suas cenas, fazendo cara de cachorro que caiu da mudança em todos os momentos, forçando o riso nas cenas mais simples, e mesmo nos momentos mais desesperadores de seu final, o ator pouco determinava o ritmo de suas falas, ou seja, foi mais frouxo que o personagem, e sabemos de cara que ele não é assim pelos outros trabalhos que fez, o que acabou aparentando também um desgosto pelo personagem por parte dele. Acho Domingos Montagner o ator brasileiro mais eclético dos últimos tempos, pois faz comédia, drama, suspense, romance e tudo mais que pintar usando expressões diferenciadas e ainda por cima libera sempre o visual para inovar e parecer mais diferente ainda, aqui seu Corvo é um personagem digamos diferenciado, que poderia surpreender mais como fez na cena do circo e no banheiro, porém deixou a desejar nos momentos finais, nem parecendo ser o mesmo misterioso do começo do filme que tanto agradou. Paulo Vilhena também saiu-se bem nas poucas cenas de seu Gastão, mas faltou tempo para que seu personagem chamasse a atenção, quem sabe alguém da produção leia meu texto e resolva dar uma chance maior para o seu personagem num filme sobre o jornalismo crítico, e assim possa empolgar mais. Os demais personagens, diria que são mais enfeites que tudo no longa e por sinal fizeram as cenas mais bobas e desnecessárias da trama, e usar uma Miá Mello e um Marcos Veras apenas para personagens jogados foi um abuso dos grandes.
Sobre o visual da trama é fato dizer que a equipe artística se preocupou em ser bem diversificada quanto à tudo o que temos de diferenciado no momento, como programas para a internet captados com câmeras fotográficas potentes e equipe toda cheia de pessoas ecléticas, bares gourmet rebuscados que irritam por não ter o tradicional bem feito, festas regadas a bagunça de amigos, circo cheio de elementos clássicos, e até mesmo uma feira de produtos naturais para o povo estranho de hoje, um tribunal de separação completamente antiquado mostrando que hoje a burocracia é algo velho, um antiquário maravilhoso com peças incríveis, que só serviu de enfeite para algumas cenas, ou seja, quiseram mostrar muita coisa para um pequeno espaço de tempo, e não aproveitaram todo o potencial que poderiam atingir. Como é de praxe, a iluminação da equipe de fotografia de comédias ousou bem pouco, mas trabalharam muito bem as sombras nas cenas iniciais do Corvo e com isso tivemos até um certo charme noir para falar que o longa teve um ar mais cult.
Enfim, é um filme que potencialmente poderia ser incrível, mas que falhou demais para empolgar como deveria, e infelizmente deve passar despercebido pelo público em geral, pois diferente das comédias novelescas que arrebata multidões, essa tem um ar mais diferenciado, que até poderia criar um novo vértice no cinema nacional, mas que ainda falta muito para ser alcançado (ao menos com ideias como essa). Portanto não posso dizer que recomendo o longa, talvez a versão argentina divirta mais quem gosta desse estilo, mas também não é nada sensacional. Fico por aqui hoje, mas volto em breve com as outras estreias da semana que vieram para o interior, então abraços e até mais pessoal.
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