Quando unimos o misticismo japonês com a tradição de um stop-motion bem planejado que só os estúdios Laika conseguem fazer bem para incorporar naturalmente a beleza dos movimentos clássicos das animações com uma história bem trabalhada, o resultado não poderia ser outro senão um filme incrível, que só não foi melhor pela dinâmica extremamente lenta, porém mesmo devagar demais "Kubo e As Cordas Mágicas" conseguiu prender a atenção tanto dos adultos, que claro vão se emocionar com alguns momentos mais enigmáticos, quanto das crianças pelo tom mágico e colorido na medida certa que a trama acaba demonstrando. Ou seja, um filme tecnicamente incrível, que acerta por captar bem a essência que desejava atingir e focar nela até o fim.
A sinopse do filme nos fala que esperto, o bondoso Kubo ganha a vida humildemente, contando histórias para as pessoas de sua cidade litorânea junto com Hosato, Akihiro e Kameyo. Mas sua existência relativamente calma é quebrada quando ele acidentalmente invoca um espírito de seu passado que desce violentamente dos céus para impor uma antiga vingança.
Agora em fuga, Kubo reúne forças com Macaca e Besouro, e sai em uma emocionante busca para salvar sua família e resolver o mistério de seu falecido pai, o maior guerreiro samurai que o mundo já conheceu. Com a ajuda de seu shamisen – um instrumento musical mágico – Kubo irá lutar contra deuses e monstros, incluindo o vingativo Rei Lua e as malvadas Irmãs Gêmeas para desbloquear o segredo de seu legado, reunir sua família e cumprir seu destino heroico.
Depois de fazer parte do time de animação da Laika em muitos longas ("Boxtrolls", "Paranorman", "Coraline"), Travis Knight faz sua estreia na direção de uma animação do estúdio, e claro que usou a favor tudo que já conhecia desse mundo do stop-motion para deixar ainda mais incrível (quem não estiver com pressa veja a montagem da cena de luta com o esqueleto durante os créditos - é de cair o queixo), porém o estúdio entrou numa levada muito intimista que acaba transformando seus longas em algo complexo demais de se envolver, e aqui Kubo até tenta colocar momentos divertidos dentro de uma história completamente sombria, e consegue criar perspectivas gostosas com esses momentos, mas são apenas leves refrescos que se invertem facilmente na cena seguinte aonde o garotinho sempre frisa que um leve piscar de olhos pode causar a morte do guerreiro, no caso, qualquer um dos protagonistas. Sendo assim o diretor até saiu-se bem na sua estreia, mas poderia ter dado um novo rumo para o estúdio caso seu filme tivesse uma vida mais agradável, e claro que teríamos algo menos duro de encarar, porém quem gostar de longas mais sérios certamente vai se apaixonar pela história.
Falar da concepção gráfica do filme é quase que sair lotando de elogios para tudo que foi feito, pois chega a ser impressionante o quanto de sentimentos, texturas e até trejeitos os animadores conseguem passar para personagens animados frame a frame, virando a cabeça pra um lado e mandando uma foto, levanta mais um pouco outro fotograma, num trabalho de quase uma vida para termos um resultado incrível na tela. E dito isso é fato que cada personagem tem seu charme, e o protagonista Kubo tem nuances tão belas de serem vistas que impressiona demais cada cena sua, de tal maneira que mesmo com um cabelo esquisito e alguns momentos que realmente vemos a tal "massinha" em ação, o resultado ainda é perfeito e gostoso de ver. Os personagens da macaca e do besouro possuem uma comicidade um pouco maior, mas sempre dosando de bons trejeitos mais sérios para suas personificações (as quais no final são reveladas e emocionam), o resultado anda bem e até chegamos a achar que não foram feitos usando as mesmas técnicas, mas foram sim e agradaram bem. Agora sem dúvida alguma a cena mais complexa e incrível de ver é a do esqueleto, pois chega a ser algo impossível de imaginar que teriam feito usando técnica de stop-motion, pois é algo muito grande para lutar com os personagens pequeninos, mas nos créditos é mostrado a produção, e aí meus amigos, é de pirar a cabeça completamente. Um destaque negativo ficou por conta das bruxas usarem uma máscara sem movimento facial seja de boca ou olhos, e isso pra quem conhece da técnica sabe que acaba sendo o maior defeito de um longa nesse estilo, mas na segunda luta quando uma das máscaras é quebrada, aí sim vemos algo bem interessante.
Os cenários foram bem caracterizados e de uma maneira bonita mostram uma pequena vila de um Japão fictício e interessante de acompanhar, que com boas histórias, bons trabalhos cênicos e até mesmo diversos objetos bacanas de olhar, como os tradicionais origamis, o filme se desenrola com texturas, e principalmente com ótimos sombreamentos que dão um tom bem marrom para a trama, e isso é algo estranho de se ver em animações, mas por ser algo que sempre tem pessoas colocando a mão a todo momento o resultado se mostra bem feito. Outras grandes tonalidades do filme se desenvolveram mais para preto, e verdes escuros, sempre para dar um ar mais sombrio que chega até causar um temor grande de que as crianças fiquem mais assustadas do que empolgadas com o filme, porém não chega a atrapalhar.
Enfim, é um filme belíssimo que poderiam ter dado um ritmo mais acelerado ou pelo menos algo menos pesado no conceito da trama, para que o filme não cansasse tanto, pois quem realmente não estiver muito empolgado com a ideia do longa é capaz de dar algumas pescadas na sala, como teve uma senhora próximo de mim, mas ainda que canse por faltar dinâmica, o filme traduz um estilo emotivo e forte de agradar quem gosta de longas mais puxados pela memória e simbolismos da morte versus a vida em família. Ou seja, recomendo o filme para todos, e até mesmo vi diversas crianças bem quietas gostando do que estavam vendo na tela, portanto os pais não precisam ficar com temor de que o longa por ser mais sombrio vai causar medo nos pequeninos. Fico por aqui hoje, mas volto em breve com a última estreia da semana, então abraços e até mais galera.
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