Se não fosse pela imprevisibilidade (devido a só vermos os possíveis candidatos às premiações bem para frente) da Academia, poderia dizer com muita certeza que o cheirinho de Oscar passou perto de "O Contador", pois ao trabalhar a situação de uma doença que muito se anda falando, no caso o autismo, com contabilidade irregular (quase nem ouvimos falar nisso nessa época!!), e adicionar muitas armas e crimes como um leve tempero para dar ação e ritmo na trama, não tem como ficar ruim, e se tudo isso for pouco para a história ficar interessante de ser vista nos cinemas, inclua (mais uma) ótima atuação inspiradora de Ben Affleck que trabalhou muitos trejeitos e incorporou com naturalidade um ar antissocial incrível de ser com muita personalidade que fez do filme algo particular e intrigante, com um tom forte e bem colocado. Ou seja, é daqueles que muitos vão achar cansativo, seja pelo tema, pela longa duração ou até mesmo pela estética, mas que o resultado completo é tão bom que ao final já não sabemos mais para quem torcer e já estamos tão envolvidos com a trama toda que saímos muito felizes com o que acabamos de assistir.
Desde criança, Christian Wolff sofre com ruídos altos e problemas de sensibilidade, devido ao autismo. Apesar da oferta de ir para uma clínica voltada para crianças especiais, seu pai insiste que ele permaneça morando em casa, de forma a se habituar com o mundo que o rodeia. Ao crescer, Christian se torna um contador extremamente dedicado, graças à facilidade que tem com números, mas antissocial. A partir de um escritório de contabilidade, instalado em uma pequena cidade, ele passa a trabalhar para algumas das mais perigosas organizações criminosas do mundo. Ao ser contratado para vistoriar os livros contábeis da Living Robotics, criada e gerenciada por Lamar Blackburn, Wolff logo descobre uma fraude de dezenas de milhões de dólares, o que coloca em risco sua vida e da colega de trabalho Dana Cummings.
Chega a ser simples o estilo que o diretor Gavin O'Connor decidiu trabalhar, mas com momentos bem fechados na atuação que deixaram os atores seguindo livremente a trama acabou dando uma perspectiva mais aberta e funcional para o longa, de tal maneira que a história poderia ser bem mais dura, com poucas nuances e bem mais travada em momentos de suspense policial para que fossemos descobrindo elementos chaves até tentar entender a ideologia do roubo dentro da empresa, claro que teríamos um filme bem mais chato e com uma premissa completamente diferente, mas que assim como alguns documentários mostraram já o estilo de sonegações que muitos contadores fazem, o filme também teria um cunho de público-alvo. Mas como não foi feito dessa forma, a ideologia violenta por parte da forma de treinamento que o pai dá para seus filhos é algo bem interessante, pois muitos falam que autistas devem ficar reclusos, outros tentam introduzir os jovens na sociedade sem muitos cuidados para com a discriminação, mas aqui acabou mostrando uma forma bem diferenciada (e até dura demais) de transformar o jovem em alguém forte e que certamente ninguém irá brincar com chacotas, pois a chance de não sair vivo é altíssima nesse caso. O diretor soube trabalhar bem o texto e dar uma dinâmica interessante, pois o filme poderia ser bem mais lento e não adequar com as características marcantes que fazem dele um possível candidato à prêmios, pois com momentos emblemáticos e diversos temas intrigantes, certamente a proposta foi até além do que desejavam atingir e agradaram bem no formato geral da trama com bons ângulos e bons momentos para se envolver.
Como acabei falando, o diretor deixou que os atores fizessem boas performances e conduzissem bem a trama com suas premissas, de tal forma que acaba acontecendo bastante em longas britânicos e no famoso estilo de cinema de atores, aonde a dinâmica principal é vista pela boa condução que os astros conseguem criar em seus personagens. Dessa forma, Ben Affleck que por um bom tempo muitos odiavam, vem num crescente tão bem encaixado com personagens sérios e bem trabalhados que ficou fácil o estilo que deu para seu Christian Wolff funcionar e envolver, de tal maneira que colocou boas nuances em seus olhares dispersos, encontrou um ar meio vago, mas sem prerrogativas falsas para que ao mesmo tempo que torcêssemos favoráveis ao seu personagem, também ficássemos com os dois pés atrás de suas ideologias, ou seja, um personagem duplo, mas que não ficou cheio de firulas cults para chamar a atenção, e assim sendo, o ator mostra que se mantiver esse estilo suas chances de levar uma premiação como ator está bem perto de acontecer. Anna Kendrick é uma atriz interessante de ver, mas que muitas vezes soa singela demais para os personagens que acaba pegando, pois sua Dana é interessante, é uma mulher bonita, possui bons momentos, mas ficou com um passo atrás em todas as cenas, demonstrando um pouco de insegurança para com o estilo livre que o diretor deixou rolar, ou seja, talvez uma atriz mais imponente no papel chamaria mais atenção do que a beleza dessa. J.K. Simmons é daqueles atores que fazem diversas produções num único ano, e incrivelmente se sai bem em quase todas, e aqui seu Ray King é icônico tanto no estilo canastrão que desenvolve com a jovem agente, quanto ao mostrar o que realmente aconteceu no passado em sua carreira como agente de campo, e sempre trabalhando os tradicionais trejeitos que tanto gostamos de ver ele fazendo, consegue eximir um papel que facilmente ficaria jogado na trama ter uma boa importância e ainda agradar. Cynthia Addai-Robinson vive mais no mundo da TV e por isso aparentou um pouco perdida com o estilo livre aqui, pois sua Medina tinha tudo para ser um personagem marcante, mas soou mais fraco e simples demais para empolgar, talvez até tenham cortado cenas demais dela e com isso sua participação ficou frouxa, mas a jovem também não mostrou empolgação nas cenas de maneira que desejassem ver mais ela. Outro que poderia ter chamado mais atenção foi John Lithgow com seu Lamar, pois inicialmente até poderia ser feito de uma maneira simples, mas com a proposta de fechamento que o longa teve, sua dinâmica precisaria ter ido num rumo bem mais forte e marcante para que realmente chamasse atenção para seu personagem. Que o fechamento de Jon Berthal era algo que seria intrigante já era de se esperar, mas seu Brax ficou bem aquém do que deveria, no melhor estilo que tanto incomodou o encontro do Batman de Ben Affleck com o Superman nesse ano. E para fechar a parte das atuações, não vou ficar citando todas as crianças da trama, mas todos os jovens atores foram de uma precisão nas suas cenas, que se tivessem mais tempo de tela, com toda certeza agradariam mais do que já agradaram, dando destaque claro para Seth Lee que fez o jovem Chris com todos os seus problemas possíveis e imaginários.
A equipe de arte teve um bom conceito tanto nas cenas do passado para representar os problemas familiares, com uma casa simples mas bem montada, o instituto para crianças bem recheado de detalhes (que ao final se mostra do mesmo jeito, tirando as novas tecnologias), escritórios de vidro foram um charme a mais para que o contador maluco pudesse escrever com diversas canetas por toda a parte fazendo uma contabilidade tão linda (como se fosse algo gostoso de fazer!!), armas monstruosas gigantes, muita tecnologia de investigação, e claro que muitos elementos para formar um ambiente trabalhado nos detalhes e que chamasse a atenção nos devidos momentos com coerência, ou seja, um trabalho minucioso de pesquisa para que tudo funcionasse, mas não chamasse mais atenção do que os personagens. Destaque cênico para o trailer na garagem alugada com os pagamentos dos clientes, com valiosíssimas obras e tudo em espécie para mostrar uma das mais tradicionais formas de lavagem de dinheiro do crime. Com um tom cinza-azulado a fotografia ficou um pouco densa demais para a proposta da trama, criando um clima meio denso e até intrigante demais, pois o filme até teria essa proposta inicialmente, mas com o decorrer acaba funcionando mais como uma aventura policial que deveria ter tons mais escuros ou avermelhados para a quantidade de sangue derramado, mas nada que tenha atrapalhado o andar da trama.
Enfim, é um filme bem feito, que empolga e cria tensão sem precisar apelar, e mais do que isso, funciona sem erros por trabalhar a situação toda em cima do protagonista, deixando bem de lado qualquer personagem secundário, inclusive os antagonistas (aí é que está um dos pequenos erros da trama). Não diria que foi o filme mais perfeito que tivemos no ano, mas na concepção completa da trama, tudo foi tão incrível quanto o que foi vendido no trailer, e sendo assim é um dos nomes para serem guardados como um dos grandes de 2016. E sendo assim é claro que recomendo ele para todos, pois com toda certeza mesmo quem não for muito fã de longas policiais acabará envolvido e irá gostar por qualquer outro detalhe que nos foi mostrado. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, encerrando essa semana bem curta de estreias, mas volto na próxima quinta, então abraços e até lá meus amigos.
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