Já ouvimos diversas vezes pessoas falando na possibilidade de ter um clone para fazer o seu trabalho ou sofrer por algo de nossas vidas enquanto curtimos um bem bom longe de todos os problemas, não é mesmo? E mais interessante do que isso é a quantidade de longas que trabalham essa ideologia, usando por vezes o arquétipo da dupla personalidade, o que acaba por muitas vezes deixando os filmes confusos e bem complexos para um simples espectador mortal. Pois bem, pensando nisso tudo, a roteirista Claudia Jouvin, que já escreveu diversas séries e longas nacionais de sucesso, resolveu dirigir seu primeiro filme e incrivelmente agradar bastante com "Um Homem Só", que trabalha uma ficção científica interessante, cheia de nuances e que vai deixar o público bem intrigado com tudo o que acontece, mesmo que tenha pequenos errinhos ao exagerar nas doses romantizadas da história. Ou seja, um filme completamente diferente do que estamos acostumados a ver dentro do cinema nacional, que agrada pela simplicidade de cada momento e da ideologia como um todo.
O longa nos mostra que Arnaldo é um homem que está infeliz no casamento e no trabalho. Para tentar resolver seus problemas, ele procura uma clínica que promete copiar as pessoas para livrá-las da vida miserável que levam. Com um clone ocupando seu lugar ele poderia começar uma vida nova, mas na hora do radical procedimento surge a dúvida sobre se é isto que ele realmente deseja fazer.
É realmente raro vermos o gênero ficção flutuar dentro das mentes dos diretores nacionais, primeiro por não termos um histórico de acertos nesse estilo (apesar do maravilhoso "O Homem do Futuro") e segundo por costumeiramente ser um gênero que demanda um orçamento maior, porém certamente esses floreios permearam a cabeça da diretora Claudia Jouvin antes de ir para o set quando estava escrevendo sua história, e dessa forma ela foi concisa nos momentos mais cheios de coisas fantasiosas e deixou que a história dentro do roteiro não fugisse tanto para lados mais criativos, trabalhando mais uma densidade dramática e criando momentos para que a tensão ficasse sempre perto da atuação dos personagens que ela otimizaria gastos e ainda faria uma boa história. Dito isso, esses pontos positivos acabaram retratando um longa bem pensante e gostoso de ver, pois é uma história que certamente muitos já imaginaram, e que claro não existe, então qualquer coisa dentro do imaginário iria fluir bem, porém o maior erro foi que para a história não ficar tão dura e necessária de efeitos, ela ousou romantizar demais a história, criando algumas perspectivas com as personagens femininas, e aí foi onde o doce azedou um pouco, pois ambas as personagens caíram sim em duas atrizes perfeitas, mas que não souberam dosar bem a ideologia delas, uma recaindo para um âmbito sexual estranho e completamente desnecessário, e a outra com um problema pessoal maior que para ser resolvido necessitaria quase que de um longa solo, e dessa maneira o filme não ficou perfeito como poderia, mas agradou muito ver o trabalho de estreia da diretora no comando de um longa, e claro que quem sabe indo nesse rumo ela pode vir a ser um grande nome do nosso cinema.
Antes de falar mais das meninas, é claro que tenho de falar do protagonista Arnaldo e sua cópia, ambos muito bem feitos por Vladimir Brichta que por bem pouco quase nos enganou de termos um case de diagramas psicológicos, mas que ao trabalhar realmente como dois, conseguiu também nos enganar quem era cópia de quem, e quando isso nos é contado, voltando lá trás conseguimos entender um pouco de tudo e sair mais feliz ainda com toda a ideia, ou seja, o ator não só ajudou no desenrolar da trama como incorporou ambos os personagens trabalhando detalhes psicológicos e até visuais para que cada momento funcionasse bem, e parando para analisar mais seus últimos trabalhos, ele tem acertado mais com personagens que exigem um teor mais dramatizado do que os cômicos que tanto ele gosta de fazer, deixando isso como uma dica para se pensar no futuro. Mariana Ximenes está sendo nossa Jennifer Lawrence do ano, pois aonde olhamos vemos ela trabalhando, e isso é bom pois marca ainda mais ela que é uma boa atriz, mas também começa a ser cobrada por mais atitude e melhores desempenhos, pois não digo que sua Josie é algo que tenha errado muito, porém sua personagem estava além de inserida na ideia original possuía também um grande vértice paralelo para resolver, e isso acabou deixando pontas demais que acabaram falhando no contexto maior, ou seja, ela até saiu-se muito bem com uma dinâmica incrível e visualmente parecendo até ser mais jovem do que é, mas o erro do roteiro para com sua personagem foi mais forte do que sua atuação. Como todos sabem pelos meus outros textos, é raro que eu fale mal de Ingrid Guimarães, pois a atriz sempre sai bem no que se propõe a fazer, porém sua Alice ficou uma mistura de mulher chata com alguém que não desejamos ver nem pintado de ouro, e além disso a atriz não se mostrou empolgada com a personagem em momento algum, o que acabou soando estranho de tal forma que é fácil notar a quantidade de cenas que foram cortadas desse meandro da trama, pois certamente teríamos mais momentos dela com o protagonista para confundir mais ainda quem era o original ou a cópia. Otávio Müller costuma fazer personagens que ou você gosta ou você odeia, e infelizmente até hoje não consegui ver um personagem dele que me fizesse apaixonar por seu estilo de atuação, e aqui seu Mascarenhas embora caia bem como amigo/chefe do protagonista, ele soa falso demais para alguém que é amigo, e isso se deve mais pela atuação que faz do que a ideologia do personagem, ou seja, poderia ser mais impactante e direto do que as caras e bocas que acabou fazendo. Os demais atores foram bem pontuais nos seus momentos e até chegaram a chamar bastante atenção como Eliane Giardini nas cenas diretas com Ximenes, aonde trabalhou bem o tom mais dramatizado e interessante de sua Leila, Milhem Cortaz caiu jogado nas suas duas cenas como Cassio, porém deixou bem encaixado a dúvida no protagonista, e até mesmo Daniel Aráoz fez bem o médico maluco da trama, porém como disse o orçamento não caberia mais dinâmica para seu personagem, então fez o que deu.
Não diria que é o longa que mais teve um contexto visual trabalhado, mas algumas ideias colocadas na trama foram bem simbólicas e muito interessantes de ver, por exemplo um cemitério para animais, aonde funcionou bastante a métrica do saudosismo com os figurantes e seus bichinhos, além claro de simbolizar mais ainda para dentro do contexto "que o medo de não viver é maior do que o de morrer" que tanto é dito na trama e ali nesse cenário tudo acaba encaixando. O escritório demonstrando o serviço burocrático chato que muitos só fazem por fazer, com pseudo-amigos que quase nem te conhecem, o apartamento com uma mulher que só pinta sexologias e com uma representatividade completamente fútil para com a convivência do casal, e principalmente a grande simbologia de roupas que tanto causam o saudosismo dentro de um ente querido. Agora convenhamos que não tinham dinheiro para fazer uma clínica decente de clonagem, mas fazer algo jogado e feio como foi feito, era melhor deixar sem as cenas ali, pois nem em sonho aquilo lá seria uma clínica de clonagem. Ou seja, um filme cheio de locais e elementos bem simbólicos para com o filme, que junto de carros bem emblemáticos como o chevete e a kombi deram bons momentos e mostraram aonde desejavam chegar em cada cena. A fotografia também usou e abusou de tons mais escuros, tanto para evitar imperfeições e erros clássicos do gênero, bem como também para dar uma dramaticidade maior para o tema, e assim sendo o acerto foi bem positivo.
Enfim, esperava muito menos do longa e saí da sessão bem surpreso com o que me foi entregue, de tal maneira que certamente recomendo a trama para todos, mesmo com os diversos errinhos que pontuei acima, pois são erros de quem nunca trabalhou tanto no gênero, e isso só vai melhorar com o tempo, ou seja, num segundo trabalho da diretora certamente ela vai melhorar a história para que não haja furos e a equipe que já teve um primeiro ensejo nas técnicas de ficção científica vai poder corrigir as gafes que deixaram passar por aqui. Portanto vamos torcer para mais filmes nesse estilo em nosso cinema, pois já disse isso outras vezes e volto a reforçar, já deu de tanta comédia pastelão. Fico por aqui hoje, mas volto em breve com muitas estreias que já estão programadas para a próxima semana, então abraços e até mais pessoal.
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