Existe uma lenda que pessoas que trabalham com informática não são normais, e geralmente precisam de tratamento psicológico para saber conviver com as demais pessoas. Claro que nem todos são assim, mas conheço muitos por aí que se enquadrariam facilmente nesse molde. Digo isso, pois a premissa de "Invasão de Privacidade" pode ser vista sob duas vertentes, a primeira do ego inflado de um ricaço que ama tecnologia e coloca aonde pensar coisas que funcionariam de um modo bem simples (como o abrir de uma torneira, por exemplo), mas que que para ele tudo tem de ser digital, então se aperta um botão, dá um comando de voz, ou apenas passa com o objeto perto e pronto tudo se executa automaticamente, e a outra vem bem nessa questão de sociopatia que muitos técnicos de informática possuem, de não se conectarem a ninguém, somente à seus próprios equipamentos, e que por vezes se sentem realmente necessitados de afeto/carinho, mas se você negar isso à eles, esteja preparado para o pior. Pois bem, se tudo fosse lindo é claro que não teríamos um filme com uma história para contar, apenas teríamos um documentário mostrando esses elos de forma separada, com lindas perguntas e tudo mais, mas é claro que ao misturar as duas vertentes, e o ricaço tecnológico ainda dar o pé na bunda de um pobre jovem que é um ás da informática, foi apenas a gota d'água para o mote do longa e toda a tecnologia se voltar contra a família e a empresa do ricaço, ou seja, um filme bem simples no conceito desenvolvimento, mas que agrada pela boa perspectiva, e se fosse menos forçado seria impactante demais.
A sinopse do longa nos conta que Mike é um bem sucedido empresário que tem tudo: um esposa maravilhosa, uma linda filha adolescente e mora em uma casa com tecnologia de última geração. Sua empresa está na iminência de mudar o negócio de aviação para sempre, quando Mike descobre que está em um perigoso jogo que ameaça tudo que ele conquistou. Em um mundo onde não há privacidade e segredos pessoais podem viralizar em um click, Mike passa a depender de suas antigas amizades.
O estilo da direção de John Moore é elétrico e bem pontuado, mas faltou ter pego o roteiro pouco desenvolvido em questão de tramas e colocado mais ênfase nos momentos de cada um dos personagens, pois a cada momento descobrimos algumas pontas soltas dos protagonistas, que certamente facilitariam bem mais a interatividade entre todas as pontas, por exemplo, a vida passada de Mike para ter contatos tão sinistros, um pouco mais sobre a loucura do jovem técnico de informática, afinal nos é contado um pouco pelo investigador, mas nada que mostre o nível de psicopatia que ele atinge, algum dos motivos do ricaço querer uma casa toda tecnológica, e muitas outras coisas, pois mostrar que o cara é um rei da aviação ficou muito subjetivo e sem grandes anseios, aliás o que vale no filme é o recheio, pois o começo apresentando a vontade dele de entrar no mercado de capitais abertos com sua companhia, e o fechamento no mesmo mote foi algo que em nada podemos dizer que vale a pena ver, tanto que se mais para frente você estiver vendo o filme em sua televisão e alguém parar para ver só o miolo irá entender tranquilamente tudo, e vai falar que não perdeu nada (o que não deixa de ser uma enorme verdade).
Sobre as atuações, chega a ser engraçado que tirando os dois protagonistas e as duas mulheres, quase mais ninguém fala no longa inteiro, e isso é de assustar demais, não por querer que figurantes fiquem falando, mas praticamente tiraram todos os personagens secundários de cena e esqueceram eles perdidos pela trama. Dito isso, é fato que mesmo Pierce Brosnan estando bem velho, ainda mantém o estilo galã e sempre irá se encaixar bem em papeis de milionários, e aqui seu Mike caiu como uma luva para que ele fizesse caras e bocas do estilo e ainda pudesse dar umas porradas, ou seja, mesmo estando um pouco fora de forma, o grande astro mostrou que ainda tem fôlego para filmes que envolvam ação. Em compensação James Frecheville foi uma contratação bem arriscada, mas que acertaram no ponto de colocar alguém completamente desconhecido (não me lembro de ter visto nenhum dos longas que fez) para fazer um personagem que passa como completo desconhecido, e isso é algo comum de se ver no pessoal que trabalha com tecnologia, pois apenas chamamos pelo rapaz da computação, e sequer sabemos quem ele é, ou seja, seu Ed é interessante e ao mesmo tempo estranho, e claro que nessa ótima jogada, o ator ganhou diversos pontos com as boas expressões que acabou fazendo. As mulheres até fizeram boas expressões, mas soaram um pouco estranhas na produção, fazendo com que ficassem bem de canto, mesmo nas cenas mais importantes delas, como a do banho de Stefanie Scott com sua Kaitlyn que na sequência era certeza do que ocorreria, e com a cena também totalmente previsível que já está no trailer do câncer de Anna Friel com sua Rose, ou seja, elas tiveram bons momentos, mas faltou muito para chamar atenção realmente. E para fechar o elenco tivemos Michael Nyqvist fazendo o "limpador" Henrik que até chegou a soar engraçado com seu estilo, mas nada de muito empolgante também.
Após ver o longa fiquei pensando na construção do set de filmagens, ou até mesmo nas locações escolhidas, para termos uma empresa tão cheia de detalhes e uma casa tão tecnológica no nível que foi mostrado, pois tudo ficou tão bonito de ver, mas tão imparcial de uso que com toda certeza fizeram tudo do modo mais falso possível para apenas aparentar ser daquele modo, e sendo assim o filme mostra que a equipe de arte precisou pesquisar bastante para que a criatividade tecnológica fluísse bem, ou seja, um trabalho na medida correta para mostrar uma possibilidade futurista, que se alguém tiver um pouco de receio também por tecnologias perigosas vai pensar 2x antes de ter tanta quebra de privacidade. O apartamento de Ed também foi bem planejado tanto para as cenas de voyeur, quanto nos momentos finais, e fizeram sem muitos erros, o que é bem bacana de ver. Sobre a fotografia da trama, ousaram trabalhar com filtros esverdeados para dar um tom mais tecnológico e em algumas cenas acabou ficando um pouco estranho, mas na maior parte do tempo acabou ficando interessante de ver a proposta funcionando, e claro que a boa inserção das conversas na tela funcionaram com os ângulos escolhidos.
Enfim, um filme interessante, mas mediano no que propunha atingir, pois poderia verter tanto mais para o suspense psicológico ou focar mais na dramaticidade mesmo, o que é uma pena. Mas quem for assistir, e até coloco ele como uma recomendação razoável, não irá perder o seu tempo, pois de modo geral é um filme que consegue agradar sendo bem pontual nos diversos momentos. Ou seja, veja se não tiver outros para conferir, mas se for não irá perder o dinheiro, pois temos bons momentos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com a última crítica da semana, então abraços e até lá.
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