Muitos brigam comigo por viver falando mal de filmes brasileiros, e quando falo bem, geralmente é de algum filme que ninguém acaba vendo (ou pela sinopse não agradar, ou por ficar pouco tempo em cartaz, ou seja lá por qualquer outra coisa)!!! E cá estou novamente para falar de um excelente filme nacional, que pra variar, assisti sozinho na sala do cinema!!! E embora "Jonas" seja um pouco alongado (os 90 minutos de projeção parecem no mínimo 130!), tenha um final poético pouco conclusivo, e falte um pouco de força, o longa é incrivelmente bem produzido, possui uma história que prende o público (pois mesmo contando praticamente o mote inteiro na sinopse, ficamos interessados como o jovem pode resolver a loucura que fez), e principalmente, sai do elo de filmes novelescos, pois possui tema próprio e bem fechado dentro da proposta. Ou seja, um filmão que agrada e cativa pela dinâmica que propõe fazer, e não teme por errar nos pontos que poderia errar, acertando bem na perspectiva da criação sem abusar de clichês usuais, e sendo assim vale muito a pena ser assistido, e espero saber que o filme teve bons resultado, pois merece.
A sinopse do longa nos conta que Jonas é filho de empregada e na infância era apaixonado por Branca, a filha da patroa. Os dois crescem e quando Jonas a reencontra, o amor refloresce. Ele acaba cometendo um crime por causa de ciúme e sequestra Branca, mantendo-a dentro de um carro alegórico em forma de baleia e a tensão só aumenta.
A estreia da produtora Lô Politi como diretora de longas metragens é interessante pelo fato de ao mesmo tempo que mostra a força da sedução de uma mulher, e o que ela pode causar, mas também consegue segurar bem sua trama pelo elo do desespero do que fazer para tentar se salvar de um crime, ou ao menos aliviar a situação para uma pessoa tecnicamente pacífica. Não digo que o acerto dela nas três funções (roteiro, produção e direção) foi o mais acertado, pois precisou de muitos assistentes e poderia ter lapidado algumas pontas de forma melhor, por exemplo a cena do sequestro que acaba sendo omitida, colocar mais algumas cenas de sedução e de envolvimento entre os protagonistas, e até mesmo mais cenas do âmbito familiar do protagonista, pois esses que eram os momentos chaves da trama e necessitavam de maior tempo de tela, porém a omissão deles deixou o ar do longa mais leve e interessante, porém menos impactante. De certo modo o longa funciona bem mesmo que com os pequenos deslizes que falei, e a julgar pela grande produção da trama, aliado à poética da fábula bíblica (claro que de forma invertida), alguns elementos fantasiosos bem explorados, e claro a realidade forte dentro das comunidades mais pobres, o resultado acaba agradando além do esperado.
Outra grande sacada da produção foi na escolha do elenco, pois Jesuíta Barbosa com apenas 25 anos já está entrando pro seleto hall dos grandes atores nacionais que não escolhem produções estereotipadas para fazer, pegando desde o garotinho mimado, passando pelo homossexual afetado, e indo até o violento namorado, ou seja, um jovem com talento nato pronto para o que der e vier, acertando sempre com bons trejeitos e colocando personalidade no que faz, e claro que aqui como o protagonista Jonas não foi diferente, pois o jovem acaba acertando em cheio nos olhares desesperados, na aflição de não saber como arrumar a cagada que se meteu, e ainda manter o clima romantizado para com sua amada, ou seja, perfeito. Laura Neiva conseguiu trabalhar bem a sedutora Branca, que caiu mais como alguém bem clichê no estilo, mas que a jovem soube dosar os carões para não soar tão falsa, talvez pudesse ser mais maliciosa em alguns momentos, mas no geral agradou bem. O cantor Criolo faz rapidamente seu papel de Dandão em quatro cenas e até mostra uma certa desenvoltura na frente das câmeras, mas nada que chegue a mostrar um grande feito. Agora quem pode mostrar uma atuação incrível foi o jovem Luam Marques que fez de seu Jander um garoto incrível, com boa personalidade, caráter e principalmente mostrando uma facilidade dinâmica para as câmeras que chega a impressionar, ou seja, o jovem tem futuro no meio. O longa ainda tem outros músicos fazendo pontas de atuação como Karol Konca, Rincon Sapiência e Chay Suede (que vem sendo bem mais ator do que cantor ultimamente), mas nenhum com grande destaque para ficarmos detalhando.
Na conceituação técnica artística, o longa trabalhou bem a Vila Madalena em São Paulo, e o estacionamento de carros alegóricos do Sambódromo do Anhembi, e com uma desenvoltura bem interessante de movimentos de câmeras, a diretora pode contar com as alegorias da Pérola Negra e usar a comunidade como um bom pano de fundo para sua história. De certa maneira a cena final ficou interessante num misto de efeitos práticos com computação gráfica, e poderia ter sido melhor trabalhada para chamar mais atenção, mas é um mero detalhe dentro de toda a ótima simbologia que conseguiram conectar com todos os elementos do filme, e sendo assim, a equipe de arte trabalhou bem com os recursos possíveis que teve em mãos. A fotografia da trama foi bem usada com tons mais sujos e secos para dar um clima bem marrom, e mesmo nas cenas com a baleia bem azul, o filme ainda flutua para a temática de ação, mesmo que ali a dramaticidade esteja no limiar entre o drama tenso e o sensualidade, ou seja, talvez até pudessem melhorar alguns momentos para que funcionasse mais a divisão cênica, mas isso é exagero de alguém da área que passa completamente despercebido para o público em geral.
Enfim, um filme que pela sinopse com toda certeza não me ganhou, e que por não ter visto o trailer (afinal os cinemas não divulgaram quase nada do longa), não sabia o que esperar dele, mas que com toda certeza prendeu minha atenção e fez até querer ver mais coisas da diretora, pena que ainda é seu primeiro trabalho, então irei esperar por mais algum e ver se mantém o bom jeito. Portanto com toda certeza recomendo o longa para todos e torço para que seja visto por muita gente, para que o cinema nacional bom seja mais visto para pararmos de reclamar tanto do nosso cinema. Bem é isso pessoal, com apenas duas estreias no interior, já encerro minha semana cinematográfica por aqui, voltando somente na próxima Quinta com mais estreias, então abraços e até lá.
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