O Vendedor de Sonhos

11/29/2016 02:31:00 AM |

Cada dia mais tenho esperanças de que o cinema nacional vai me deixar orgulhoso, e a prova disso é a quantidade de boas produções que tivemos em 2016! Confesso que não conhecia a história do livro, que não vi o trailer antes de ir para a sessão e menos ainda li a sinopse do que se tratava a história, apenas recebi o convite para a exibição especial de pré-estreia de "O Vendedor de Sonhos" e a surpresa que tive além de um maravilhoso filme, foi ver uma bela história sendo contada na telona, com uma produção digna de grandes filmes, uma direção perfeita que foge de qualquer estereótipo do nosso cinema (de transformar tudo em formato de novela ou série para ser exibida como especial em alguns meses depois), e principalmente transmitir uma ótima mensagem para todos, que com certeza já estava impregnada na obra do escritor Augusto Cury, no qual o longa foi adaptado. Ou seja, um filme que antes mesmo de falar qualquer coisa já deixo a recomendação para todos, pois não diria como a equipe do filme acabou falando na coletiva de imprensa, que estamos criando um novo gênero dentro do cinema nacional, mas sim que estamos entrando realmente dentro da qualidade de um bom drama, que há muito tempo nosso cinema nacional estava devendo.

O longa nos mostra que Júlio César, um psicólogo decepcionado com a vida em geral, tenta o suicídio, mas é impedido de cometer o ato final por intermédio de um mendigo, o "Mestre". Uma amizade peculiar surge entre os dois e, logo, a dupla passa a tentar salvar pessoas ao apresentar um novo caminho para se viver.

Outro fato bem interessante sobre a produção, é que diferente do que costuma acontecer com algumas adaptações literárias, não sentimos o filme como um livro folheado, com desenvolvimento linear e quebras pontuais, mas sim um trabalho mais completo para que o tema que se desenvolva sozinho, ou seja, o roteirista L.G. Bayão conseguiu fazer a transmissão da palavra que tanto o escritor Augusto Cury preza, num formato bem consciente e com boas nuances. Como bem sabemos a obra literária é grandiosa e possui mais do que um livro, e claro que muitos irão desejar todos os livros adaptados em diversos formatos, porém aqui a ideia presente neles é retirada dentro da essência completa e desenvolvida num único filme, ou seja, até pode ser que façam mais continuações em outros meios, porém aqui o resultado em suma já foi bem concebido para agradar dentro de um conteúdo macro por parte do roteirista. Também fui informado por uma amiga que nos livros possuem diversas outras histórias, com outros personagens, e aqui ao trabalhar bem apenas com um elemento, o diretor Jayme Monjardim pode criar uma perspectiva sólida e desenvolver bem a estrutura de um filme, pois muitos outros acabariam criando diversas subtramas, colocando muitas vertentes, e o resultado já conhecemos bem, pois viraria uma grande novela, e não teria o mesmo impacto que aqui tivemos. Ou seja, somos surpreendidos com a direção impecável do começo ao fim, que principalmente quem não tiver lido o livro conseguirá captar toda a essência e até se chocar com o motivo que levou o protagonista à chegar no ponto que nos é mostrado. Com o resultado da boa estruturação do roteiro, e a escolha eficaz de uma direção direta ao ponto, o grande feitio caiu por base com as boas interpretações do elenco, que sem muitas firulas expressivas conseguiram ser singelos e objetivos para causar emoção e carisma durante todo o filme.

Já que comecei a falar dos atores, é fato dizer que Dan Stulbach voltou a boa forma interpretativa que tanto gostávamos de ver, após um período digamos estranho na bancada de um programa de TV, e com um semblante mais fechado e introvertido, ele conseguiu criar boas cenas para seu Júlio César, sem que passasse por cima do outro protagonista e nem ficasse em segundo plano também, e a cada nova lição aprendida, tanto o personagem quanto o ator acabam criando mais intimidade para com o público, o que faz querermos ver mais de sua história. Agora sem dúvida alguma o grande nome do longa ficou a cargo dos olhares precisos do uruguaio César Troncoso, que captou magistralmente a forma viva do Mestre e ao desenvolver o personagem foi sublime com uma expressividade única e que a cada desenvolvimento tanto de seu Mestre quanto do executivo que nos é mostrada também a história, ou seja, "dois" personagens para o mesmo ator, que ao desenvolver a essência contida nos ensinamentos conseguiu mostrar muito mais do que um simples ator conseguiria mostrar. Dos demais atores, o desenvolvimento nem é tão simbólico como poderia acontecer, mas é fato que Thiago Mendonça deu uma ótima personalidade para seu Boquinha de Mel e agradou como o ponto cômico da trama, e Leonardo Medeiros conseguiu fazer um Roger bem próximo de um vilão ou antagonista com a força certa para remeter à diversas pessoas obstáculos que temos em nossa vida normal.

Rodado praticamente inteiro em São Paulo, o trabalho do produtor LG Tubaldini Jr. junto da equipe de arte foi escolher muito bem as diversas locações por onde os personagens passariam, sem precisar incorporar detalhes de determinado local, e ainda assim junto com uma fotografia impecável fazer dos diversos tons de cada momento um visual mais incrível que o outro, seja nos trabalhos vertiginosos em cima do prédio, ou até mesmo na simplicidade artística bem colocada na favela embaixo da ponte, ou até mesmo nas luzes ofuscantes da apresentação na TV, ou seja, com pequenos detalhes, mas muito bem incorporados na trama, volto a frisar a palavra essência foi colocada à prova e muito bem usada para representar cada momento do longa.

Enfim, um filme belíssimo, que até possui defeitos, o principal na falta de um desenvolvimento maior da relação familiar de Júlio César que acabou meio que cortada até do filme, ou não tão bem mostrada para que incorporássemos melhor seus problemas e claro o grande motivo de querer se matar, mas tirando esse detalhe o filme é tão gostoso de assistir, que nem parece ter quase duas horas, e fluindo bem dentro de uma perspectiva doce, ele acaba emocionando, inserindo uma vírgula bem colocada em nossa vida, e comovendo bastante para ser indicado para todo tipo de pessoa, desde a simples dona de casa até um grande líder de empresas, que com toda certeza irão tirar lições de cada momento do filme. Portanto, a partir do dia 8 de dezembro o longa estreia em rede nacional, e com toda certeza recomendo que você vá assistir. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas como de praxe, volto em breve com mais textos das estreias do cinema, então abraços e até logo mais.

2 comentários:

Unknown disse...

Adorei a crítica! Parabéns pelo site!
Maju Raz - Blog Sociedade do Livro
www.sociedadedolivrorp.blogspot.com

Fernando Coelho disse...

Obrigado Maju, também fui lá ler sua crítica e gostei bastante, afinal você pontuou bem mais os pontos do livro e da coletiva... abraços!!

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Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...