Alguns filmes conseguem ser doces e pontuais, para que possam trabalhar temas polêmicos, principalmente envolvendo crianças, sem denegrir nenhuma imagem, e claro deixando o tom agradável de assistir. E com certeza a ideologia de "Pequeno Segredo" é bem essa, e o diretor conseguiu transmitir bem a história de sua família com uma boa simbologia e adequando o sentimento dentro de algo aceitável, sem que precisasse ficar forçado, ou que o público lavasse a sala do cinema, mas sim pontuando através de bons recortes (alguns até em excesso) os desejos de uma criança e a formação difícil de uma família que passou por alguns grandes problemas. Ou seja, um longa interessante, e que marca uma escolha até que certeira para o Brasil tente voltar a ter sua participação no Oscar, pois o filme tem uma pegada clássica que a Academia gosta, a de trabalhar doenças, e por ser bem sutil consegue comover as plateias por onde é exibido.
O longa que é baseado em fatos reais, o filme gira em torno da família Schurmann, conhecida por seus cruzamentos marítimos. Por muito tempo, eles guardaram a comovente história da adoção de uma menina. Kat é uma jovem frágil, mas de muita personalidade. Ela vive com os pais, Heloísa e Vilfredo, que a adotaram de um casal de amigos. O filme centra sua história na infância da menina e na fase em que seus pais biológicos se conheceram.
Se no passado o roteiro de Marcos Bernstein de "Central do Brasil" chegou até o Oscar, por que não dizer que seu novo roteiro também chegará, e assim como no filme de 98 que trabalhou com um tema forte de maneira bem singela, aqui seu texto flui num emaranhado gostoso de acompanhar que nos leva a pensar nas diversas discriminações que várias crianças sofrem, e até mesmo adultos por serem de etnias diferentes, ou terem qualquer tipo de doença, ou até mesmo por serem de tamanhos fora dos padrões que muitos colocam na cabeça como sendo um molde, e o diretor David Schurmann lhe entregou o ótimo livro de sua mãe Heloísa Schurmann para que ao voltar para suas mãos tudo estivesse claro e bem montado, pois mesmo tendo vivenciado toda a história (mas não quis colocar tanto nenhum jovem ator para lhe interpretar), ele desejava com toda certeza para seu primeiro trabalho à frente de uma ficção, algo que fosse bem moldado e cheio de nuances, e isso fica claro desde a abertura (que por sinal é também o fechamento do filme) e se desenrola com boa desenvoltura agradando pela sutileza empregada tanto pela garotinha como por todos os personagens adultos, tirando claro a cena mais impactante no miolo que até poderiam ter feito de uma maneira menos forte e chocante, mas nada que tenha atrapalhado todo o restante. Em suma o resultado do texto e da direção podem ser vistos como algo simples, pois não temos nada que faça um grande salto ou coisa parecida, mas o resultado é bem bonito de ver, pois haveria diversas formas de se tratar o tema, e por ser algo que realmente aconteceu, foram singelos sem atacar nem colocar algo forte apenas para comover. O único defeito ao meu ver é o exagero de cortes entre as duas fases que poderiam ser menos secos, tanto que há cenas em que cortam a pessoa falando no meio e já pica para outra parte, o que não é algo muito legal de ver, mas são escolhas e gostos pessoais, que talvez de um modo linear não fosse tão forte.
Mais do que os grandes atores experientes, o destaque mesmo fica para o estilo doce da jovem Mariana Goulart, que fez boas expressões, colocou personalidade no seu jeito de interpretar e foi bem escolhida como a jovem que mais parecia com a Kat original, e olhando os vídeos originais no final vemos que até o jeito de falar da garotinha ela conseguiu assimilar para agradar bem, ou seja, tem futuro para a jovem atriz. Júlia Lemmertz como sempre arrasa no seu estilo expressivo, colocando leves nuances para cada momento de sua Heloísa e trabalhando com personalidade fronte aos diversos momentos impactantes que teve na produção, e com isso ela acertou sem forçar expressões e muito menos sendo algum tipo de heroína que tantas outras atrizes poderiam colocar na interpretação, e de sobra ainda ficou muito parecida com a real Heloísa. Maria Flor deu um show de interpretação, tanto nas cenas de afrontamento pela sogra preconceituosa em relação ao Brasil, a qual fez com sua Jeanne semblantes perfeitos para o momento, nos momentos amorosos foi bem delicada, mas seus dois grandes momentos foram sem dúvida alguma no acidente e na banheira, pois mostrou com um realismo incrível tudo o que qualquer um esperaria ver de uma boa atriz. Não conhecia o ator neozelandês Erroll Shand, e por isso talvez tenha me conectado muito à interpretação que deu para seu Robert, de tal maneira que o ator soube dosar bem as cenas mistas em português enrolando-se todo para falar, mas se esforçando bem para isso, e mostrando personalidade para as cenas mais fortes e impactantes, de tal modo que o encaixe foi bem feito. Já a irlandesa Fionnula Flanagan estamos acostumados com outras produções que fez, e claro que a experiente atriz não deixaria que sua personagem fosse mera coadjuvante sem dar expressividade e força para os momentos de sua Barbara, sendo impactante e até grosseira nos momentos mais tensos, mas trabalhando sempre boas expressões para que fosse encaixado de maneira certa sem abusos na tela. Já Marcelo Anthony acabou ficando meio que em segundo plano com seu Vilfredo, de tal maneira que não tivemos quase nenhum momento para que se destacasse, ou mostrasse os reais planos da grande vivência dos Schurmann, mas ao menos arrumaram alguém bem parecido com o patriarca da família navegadora.
Com boas locações em Santa Catarina, no Pará e até mesmo na Nova Zelândia, o longa trabalhou pequenos detalhes nos elementos cênicos, como o diário da jovem garotinha, os remédios que ela tomava e até mesmo o detalhe do colar foi colocado em pauta, para que tivessem objetos precisos para dar certos toques, mas a grande incidência realmente ficou em cima das atuações e com isso a equipe teve preocupação real apenas em segurar o tom. A fotografia trabalhou bem os tons clássicos que os Schurmann mais viram em suas vidas, o azul do mar, e claro o laranja mágico do pôr do sol, e com boas dinâmicas envolvendo esses tons, tiveram grandes acertos e também alguns errinhos em usar demais cenas com drones voando para dar um ar mais amplo, mas nada que funcione bem para esse uso dentro da linguagem.
Enfim, um filme bem bonito, e que comparado com os outros concorrentes do país, foi o mais acertado para tentar a vaga, ou seja, não digo que seja perfeito e que realmente vai chegar aos cinco escolhidos, mas que é um longa bem gostoso de assistir e que se encaixa bem no estilo que a Academia gosta de escolher certamente é essa a opção. Portanto vá aos cinemas e confira, pois quem sabe veremos ele na telona dourada, e pela ótima essência e sutileza também recomendo bem ele. Bem é isso pessoal, encerro por aqui minha semana cinematográfica, mas volto na próxima quinta com mais textos, então abraços e até breve.
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