Filmes biográficos costumam ter uma essência mais lenta, pois procuram abusar de elementos que o público em geral desconhece do personagem principal, e para conseguir mostrar tudo são raros os diretores que ousam em criar uma dinâmica mais interessante nesse estilo. E com "Snowden - Herói ou Traidor", o diretor Oliver Stone nem quis arriscar em criar algo mais substancial como fez nos seus últimos grandes filmes, procurando deixar uma marca bem pautada, cheia de pontuações emotivas para cativar, e com isso o resultado da trama chega a dar sono de tão parada que é, principalmente por utilizar muitos termos não usuais do nosso vocabulário e que acaba cansando mais do que empolgando. Não digo em momento algum que o filme seja ruim, muito pelo contrário, pois mostra bem a vida do jovem com sua doença, com seus trejeitos e até mesmo suas paranoias, porém é tudo tão devagar na história que acaba não fluindo de forma agradável, e somente quem realmente quiser, e estiver disposto, conseguirá chegar nas cenas finais que realmente fazem valer toda a proposta da trama.
O longa conta a história do ex-agente da CIA Edward Snowden, que em 2013 divulgou informações confidenciais e de espionagem da NSA, a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos. O material exposto revelou que o país coleta informações da internet e registros telefônicos da população americana e também de políticos de todo o mundo, como a ex-presidente do Brasil Dilma Rousseff.
Que a mão de Oliver Stone é apta para fazer grandes obras ninguém tem dúvida, mas ultimamente desenvolveu um estilo próprio de trabalhar filmes com tramas bem amarradas de forma mais inusitada, e isso foi um ponto marcante para gostarmos de "Selvagens" e "Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme", mas agora parece que voltou às suas origens aonde desenvolve a perspectiva biográfica mais pautada em dramalhões emotivos, e com isso o desenvolvimento do longa até chega a ter um estilo bem colocado, e também consegue mostrar suas próprias opiniões sobre o subtítulo (que claro só vem no Brasil) de acreditar se o jovem foi um herói ou um traidor, mesmo que fique de forma bem subjetiva na última cena (a qual realmente dá vontade de aplaudir pela desenvoltura). Talvez um dos maiores erros da trama tenha sido ficar tentando mostrar demais a vida pessoal do jovem, que embora seja bonitinha não chame muita atenção, e só serviu de apelo dramático para gastar com uma boa atriz, e claro também com seus ataques de epilepsia que o ator até fez bem feito, mas que em nada servem senão para dar um lado emocional na trama. Ou seja, o diretor poderia ter feito um longa mais trabalhado em espionagem e claro na forma que ele conseguiu escapar de ser preso, do que ficar tentando comover ao transformar um ex-espião em um super-herói.
No conceito interpretativo, posso dizer que Joseph Gordon-Levitt foi muito bem caracterizado para tentar parecer ao máximo com o protagonista Snowden, e até mesmo na forma de impostar a voz e usar certos trejeitos foram bem incorporados para mostrar que o ator estudou as diversas entrevistas dele e o resultado expressivo foi bem interessante de ver, mas faltou colocar mais dinâmica no seu estilo para que o filme deslanchasse mais, e como dei um pouco de culpa para o diretor, também tenho de pontuar que o ator não se desenvolveu também para chegar no limite do desespero de quem estava fazendo uma grande sabotagem ao lugar que trabalhava, e nas cenas de indignação também poderia se mostrar mais rebelde. Shailene Woodley é uma atriz que sempre se coloca bem nos papeis que lhe entregam, e sua Lindsay é daquelas mulheres que conseguem entrar na vida de um homem e seguir seus passos mesmo que nada seja lhe contado, e a atriz soube dosar bem a expressividade para suas curiosidades não ficarem jogadas, mas como disse acima é um papel que só serviu para gastar dinheiro e funcionar nas cenas mais comoventes, ou até mesmo na cena que o protagonista fala o motivo de usar o software invasivo fora de trabalho, pois a relação dos dois é algo muito fora de foco para que o longa empolgue e tenha mais para mostrar. Da equipe de filmagem do documentário, Melissa Leo e Zachary Quinto foram bem colocados nos papeis de Laura e Glenn (o qual em breve terá seu livro sobre o mesmo assunto virando filme também), e ambos mostraram feições bem encaixadas e criaram as perspectivas corretas, mesmo que poucas para chamar de leve a atenção. Rhys Irfan caiu bem no papel de Corbin, pois deu um tom misterioso e ao mesmo tempo forte, e talvez mais cenas suas cairiam bem na trama para dar o tom que tanto tenho falado que faltou, pois o ator sabe bem encaixar seu semblante em uma trama forte. Felizmente nas poucas cenas de Nicolas Cage como Hank, o ator não pode mostrar suas desenvolturas faciais que tanto causam revoltas nos seus filmes, e o experiente ator até pode trabalhar bem seus três momentos.
Sobre o visual tenho de enaltecer com toda certeza o ótimo trabalho de pesquisa da equipe para não deixar o treinamento do exército caricato, afinal muitos filmes tentam mostrar isso e soam sempre exagerados, e também a ideologia do quarto para criar um ambiente mais claustrofóbico de entrevista, além claro das boas cenas externas aonde a relação dos protagonistas se desenvolveram mais, ou seja, um trabalho simples, mas bem feito para não tirar o foco dramático do roteiro. Claro que volto a frisar, poderiam ter trabalhado muito mais nas cenas dentro das diversas sedes da ANS em vários países, ter colocado mais ênfase nas cenas de espionagem, e até mesmo na fuga dele, mas são meios que alguns diretores optam por fazer, e assim sendo, o resultado foi esse. A fotografia também trabalhou poucos tons, deixando o longa até cinza demais para segurar a dramaticidade, e com isso acabou deixando o longa triste demais, o que é um erro, pois a inteligência e dinâmica do personagem em si seria algo para termos muita vida em ação.
Enfim, um filme que diria ser um pouco melancólico demais e que vai cansar quem não for realmente fã de biografias e gostar do estilo quebra de informações, porém volto a falar que o filme não é ruim, apenas feito para outro tipo de gosto, e que caso a nova versão da história que já estão fazendo seja mais dinâmica e pontual, certamente nos fará esquecer dessa obra. Portanto fica a recomendação dele somente para esses casos. Bem é isso pessoal, esse foi apenas o primeiro post dessa semana que vieram até uma boa quantidade de estreias, então abraços e até breve.
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