Quando falamos de um cinema mais introspectivo temos de pontuar também a loucura, e muitos roteiristas optam por essa decisão. Com "Eu, Olga Hepnarová" o resultado é um filme que mostra bem a opção que muitos "injustiçados" que acabam também ficando malucos, e claro que possuem também já algum tipo de doença acabam fazendo, e para justificar tudo o que faz e como faz acabaram optando por um longa sem cor, sem vida, que acaba harmonioso, mas também bastante cansativo. Não diria que é um filme que possamos acreditar nas vertentes que mostra, mas sim num conceito artístico da loucura, mostrado através de uma personalidade bem peculiar. Ou seja, algo bem difícil de acompanhar e que poucos acabarão gostando do que irão ver.
O longa nos mostra que Olga Hepnarová era uma jovem, lésbica e solitária de uma família emocionalmente distante, e que não conseguiu desempenhar o papel que a sociedade desejava dela. Seu comportamento paranoico e sua incapacidade de se conectar a outras pessoas levaram-na ao limite quando ela tinha apenas 22 anos de idade.
O maior acerto dos diretores/roteiristas Tomás Weinreb e Petr Kazda foi optar por fazer um longa em preto e branco, pois assim como mostram que a garota não possui entusiasmo nem objetivos em sua vida, é como se não tivesse cor para expressar seus sentimentos, e isso sim pode ser uma referência interessante de ser sentida no longa. Porém tirando esse detalhe o resultado que optaram por mostrar, deixando sem ir a fundo se a jovem possui problemas realmente ou apenas é uma exilada do mundo e por isso que faz as coisas, acabou ficando bem superficial, com longas pausas cênicas, diversas cenas de sexo sem sentido, ambientações desconexas que mostravam todos (ao menos familiares e amigos) sendo sempre bons com ela, e ela menosprezando tudo, ou seja, não acertaram na determinação e acabaram criando um filme que ficamos o tempo todo apenas esperando um final completamente previsível do pior, pois a tentativa deles do meio justificar o fim não foi alcançado.
Sobre as atuações, basicamente temos de falar somente de Michalina Olszanska que trabalhou muito bem sua Olga, fazendo semblantes bem crus e cheios de inflexões, o que acabou deixando sempre um ar misterioso do que a jovem realmente poderia fazer com sua vida, e toda essa dinâmica que acabou fazendo foi satisfatória dentro de um ato maior que é o seu fim premeditado desde a primeira cena, mas sem dúvida alguma a jovem trabalhou bem mais para entender aonde os diretores desejavam chegar do que para fazer a personalidade de sua Olga. Para não dizer que não falei de mais ninguém no filme, tenho de pontuar levemente as caras de desgosto da mãe de Olga, interpretada por Klára Melisková, que sempre com o mesmo estilo acabou sendo simplória no que fazia, mas como uma médica ajudou bastante a filha em algumas cenas.
Visualmente o longa possui algumas cenas bem interessantes de serem vistas por trabalhar o estilo soviético de trabalho, mas a equipe artística optou por ter poucos elementos cênicos na maioria das cenas, deixando o ar vivencial da protagonista em um ambiente com poucas coisas, para mostrar que sua solidão era inclusiva dentro da sua própria casa, e com isso não tivemos grandes detalhes para impressionar dentro da história. Já por outro lado, filmes em preto e branco costumam ser bem trabalhados para que sombras destaquem ângulos e criem uma certa magia noir, e aqui o resultado ficou incrível afinal com muita fumaça dos cigarros, de um clima frio e com pouco sol batendo nas lentes, o resultado chega a ser impressionante visualmente, mas poderiam ter trabalhado menos com filtros e mais filmando realmente já na qualidade PB, pois é fácil notar várias gramaturas de cores por trás das filmagens, o que não ocorreria normalmente.
Enfim, um filme que poderia ser um clássico do estilo loucura juvenil, como tivemos outros que até concorreram em grandes premiações, mas foram subjetivos demais na concepção e inativos demais na execução, e assim o resultado é um longa que vai do nada a lugar algum, o que acaba não agradando quem estiver esperando um filme mais forte, ou quem sabe algo mais sutil. Sendo assim não recomendo o filme para quase ninguém, mas isso não será muito problemático, afinal o longa dificilmente aparecerá em muitos lugares. Bem é isso, fico por aqui agora, mas já irei conferir outro longa na Mostra hoje, então abraços e até daqui a pouco.
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