Quado temos um filme com pegada clássica, que mostra dinâmicas e construções bem trabalhadas, e que ainda demonstra um alto grau romântico por trás, o que sempre esperamos é sairmos da sessão apaixonados com tudo, e mesmo que haja algo impactante, ainda assim sairemos suspirando. Porém se algo dá errado no miolo, ou dão um jeito de corrigir, ou o filme vai para o ralo, e infelizmente o que aconteceu (felizmente bem próximo do final!) com "Marguerite & Julien: Um Amor Proibido" foi algo que não teve perdão e por bem pouco não me estragou o longa inteiro, pois somente ficamos pensando em que época tudo aconteceu, se seria uma adaptação maluca da pessoa que está contando a história para as crianças, ou se realmente o erro foi algo implícito na trama, e mesmo sendo um spoiler, digo logo de cara o que tanto atrapalhou minha ótima experiência com o longa: um helicóptero captura a mocinha do filme em pleno ano 1603!!! Ou seja, temos um ótimo filme, que algo bizarro acabou atrapalhando um fechamento clássico, mas que ainda assim por ser apenas no momento final da trama, o resultado acaba sendo interessante de ver.
O longa nos mostra que desde pequenos os irmãos Marguerite e Julien são inseparáveis. Os dois formaram um elo forte e não conseguem esconder a paixão que sentem um pelo outro, despertando o repúdio da família e da sociedade aristocrática. E para viver esse amor, Marguerite e Julien fogem.
Apesar do erro que falei no parágrafo inicial, o trabalho da diretora e roteirista Valérie Donzeli acaba sendo bem mostrado em três vertentes que aparentemente não soaram bem coerentes: primeiro pelo modo bonito e fantasioso que é mostrada a infância dos protagonistas, depois vemos a história sendo contada para crianças de uma maneira ingênua e que até poderia ser estranha, afinal estamos falando de incesto, o que não é muito comum de se contar para crianças, e para finalizar já temos toda a vertente de fuga do casal e toda a revolução mostrada, esquecendo completamente as outras vertentes, o que acaba sendo bem incoerente, pois poderiam ter trabalhado todos os lados, mas não aconteceu. E por mais que o erro que citei tenha raspado a trave de destruir tudo, o longa é interessante, primeiro por termos bem poucos longas que ainda mantém o ar clássico, que fale de incesto como uma coisa que era proibida, mas bem comum naquela época, e principalmente por ser um roteiro que Truffaut rejeitou nos anos 70 por achar bem modinha, ou seja, vamos apagar de ter visto aquele helicóptero (tipo pensar que assim como aparecem relógios em filmes de mitologia, ou aviões passando em longas de dinossauros, esse foi um erro que deixaram aparecer por um tempo maior) e ficar feliz que o restante foi muito bem feito (de um modo geral ao menos).
Sobre as atuações o que posso falar de cara é que o ar amoroso do casal permeia bem o ar, mas o conceito expressivo e interpretativo de todos ficou bem a desejar, parecendo que não estavam empolgados com o que estavam fazendo em cena, tudo sendo artificial demais. Anaïs Demoustier até soou interessante no começo com o ar blasé que deu para sua Marguerite, mas foi ficando dura e cheia de rancor no desenrolar da trama que até mesmo ao lado de seu amor tudo estava acontecendo por acontecer, e isso num romance é falha gravíssima, mas na cena das estrelas ao menos voltou a agradar. Jérémie Elkain fez um Julien bem fajuto diriam as mulheres da época, pois com todo o estudo que fez em suas viagens, acabou sendo simplório em cortejos e aparentou inocência demais para agradar na vivência adquirida, claro que isso é um modo de pensar, mas analisando a fundo o ator poderia ter tido uma postura melhor. Agora decepcionante mesmo ficou a interpretação de Raoul Fernandez com seu Lefebvre, pois nem que fosse o maior cobrador de impostos do reino e não recebesse uma moeda para si ficaria com um tom tão rancoroso e irritante que o ator acabou incorporando, fazendo tudo parecer ruim e chato de ver, e isso é um erro gritante. Quanto dos pais dos jovens, Frédéric Pierrot que tanto já vimos em diversos longas franceses até soou bem colocado, mas teve tão pouco tempo para se desenvolver que acabou apagado demais, e Aurélia Petit trabalhou bem, e agradou mais na cena do tapa que em todo o restante choramingado.
No contexto visual ficou muito agradável de ver os castelos franceses do passado, os figurinos pomposos e até bregas em alguns momentos, toda uma direção de arte bem elaborada para ter requinte de uma família de classe com todos os estilos e regras que acabam ocorrendo, mas aí veio o problema gigante e até o filme pareceu sentir um baque imenso, pois mostra um júri simplório, um conselheiro jogado em uma única cadeira, uma cena final de morte bem fraquinha, e um fechamento tão abstrato que certamente não existia no roteiro original e acabaram inventando para conseguir fechar, ou seja, a equipe se perdeu. No conceito fotográfico como sempre o trabalho de velas em cenas escuras é algo lindo de se ver, mas tivemos alguns momentos que tinha tanta iluminação nas cenas noturnas que ficamos pensando com o que imaginaram aquela luz toda, e isso também flui como um erro.
Enfim, é um filme que estava indo numa linha muito boa e interessante de se ver, mas que virou razoável após o erro, e que durante minha escrita acabei lembrando de tantos defeitos que nem tenho mais certeza de querer recomendar ele para alguém, mas ainda vale a pena pelo estilo clássico de reinados que sempre é algo bacana de ver, mas vá preparado para o susto agora que já soltei o spoiler. Então fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto da Mostra Internacional, fiquem com meus abraços e até breve.
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