Sendo o gênero mais produzido no país, a comédia nacional oscila muito entre o ar novelesco que diverte mas precisa de suporte ou aqueles mais escrachados que não ligam para pormenores e acabam divertindo atacando tudo o que vem pela frente. Em 2013 tivemos um dos longas mais rentáveis do mercado com "Minha Mãe É Uma Peça" sendo visto por quase 5 milhões de brasileiros, e apostando no sucesso do personagem, eis que novamente Paulo Gustavo retoma sua Dona Hermínia, repaginada pelo glamour do dinheiro, mas ainda pronta para tacar a mão na cara dos filhos, parentes e quem mais atrapalhar sua vida em "Minha Mãe É Uma Peça 2". Não diria se tratar do ator na sua melhor fase, pois o filme acabou tendo uma fluidez um pouco estranha, que quase se transformou num programa de esquetes, ao invés de um longa com um roteiro elaborado, mas como a missão de uma boa comédia é fazer rir, esse mérito foi cumprido com honrarias, pois o longa diverte com uma piada melhor que a outra e muita conexão com o que vemos nas nossas casas, resultando em algo digamos dentro de um padrão aceitável para se divertir sem muito esforço.
A sinopse do longa nos mostra que Dona Hermínia está de volta, desta vez rica, pois passou a apresentar um bem-sucedido programa de TV. Porém, a personagem superprotetora vai ter que lidar com o ninho vazio, afinal Juliano e Marcelina resolvem criar asas e sair de casa. Para balancear, Garib, o primogênito, chega com o neto. E ela também vai receber uma longa visitinha da irmã Lucia Helena, a ovelha negra da família, que mora há anos em Nova York.
Talvez o maior erro do longa tenha sido a mudança de direção, pois se antes o estreante André Pellenz tinha deixado o filme descontraído, mas com uma história bem moldada (claro que roteirizada por Paulo Gustavo e Fil Braz que repetem a parceria), aqui César Rodrigues repete a ideologia de dinâmicas mais fechadas em esquetes que fez em "Vai Que Cola - O Filme", e não que isso não divirta, mas usa apenas a base de um tema, e coloca os diversos clichês e comédias pontuais ocorrendo em cima da trama toda, deixando menos fluído. Não digo que isso seja errado e que não vá divertir novamente milhões e mais milhões de pessoas, mas o personagem é muito bom, o ator é excelente, e se quisessem moldar a trama inteira como um ótimo filme conseguiriam, mas aí vai de diretor para diretor o estilo que desejam trabalhar, e Rodrigues é mais focado nesse formato, mas felizmente não recai para o ar novelesco e muito menos força a barra para divertir, fazendo uma trama gostosa de ver, que por bem pouco não ficou perfeita.
Sobre as atuações, novamente o longa é de Paulo Gustavo, que certamente seu marido deve morrer de medo dele virar uma Dona Hermínia quando ficar mais velho, pois o ator não interpreta a personagem, ele praticamente se apodera dela (que para quem não sabe ele criou o personagem baseado em sua mãe Dona Dea) e cria dinâmicas tão divertidas e bem colocadas que ficamos impressionados com seu ritmo de resposta, olhares, nuances e claro com a forma que lida com seu texto, o que acaba agradando muito. Havia reclamado no texto do primeiro filme que Rodrigo Pandolfo exagerava um pouco demais com seu Juliano (que na teoria seria a incorporação real de Paulo Gustavo), e por mais incrível que pareça, senti falta do exagero de trejeitos dele, ficando um personagem meio que vago que não conseguiu criar carisma dentro das opções que seguiu, mas ainda assim caiu bem em algumas piadas, com destaque para o celular no começo. Diria que Mariana Xavier melhorou muito nesses 3 anos, e sua Marcelina soube dosar seu estilo, fazendo ainda uso do auto-bullying para com gordinhos, mas de uma maneira mais suave e bem feita, porém ainda está longe de ser o sucesso que poderia fazer. Se no primeiro filme Suely Franco teve uma participação maior, mas menos conectada com a história com sua Tia Zélia, aqui o clima foi mais emotivo e até de homenagens demais, saindo um pouco do eixo da história, mas ficando bonito de um modo geral de ver. A responsabilidade por exageros dessa vez ficou a cargo de Patricya Travassos com sua Lucia Helena, e mesmo não ficando presente em todas as cenas, a atriz gritou muito e até foi engraçada em alguns momentos, mas poderia ser mais leve. Os demais foram usados bem pouco para conexão, e de certa forma acabaram indo até que razoavelmente bem.
Sobre o conceito visual da produção, indo do Rio para São Paulo, voltando, pegando avião, voltando novamente, mais um avião, programa na TV, apartamento chique, balada, festa, mercadão, corrida de carro, casa da tia, e peça de teatro podemos resumir bem todas as locações que a equipe de arte precisou trabalhar, e foi de certa forma um trabalho bem feito, pois tudo se encaixou e aconteceu sem que fosse preciso explicitar as locações, criando bem a dinâmica, mas volto a frisar que tudo poderia se conectar melhor para agradar de uma forma cinematográfica melhor. Assim como no primeiro filme, a caracterização de Paulo Gustavo é perfeita e não temos nem como pensar em reclamar de algo, pois a equipe de maquiagem mandou muito bem e o figurino acabou sendo melhor elaborado e caiu como uma luva. Dentro das perspectivas da fotografia a equipe organizou bem cada cena, não exagerando em tons, e isso acabou dando um tom cômico também abaixo, mas nada que seja preocupante para quem quiser apenas rir, pois ainda mantiveram um grau aceitável.
Enfim, é um filme que cumpre com o dever de divertir e fazer rir, mas que poderia ser infinitamente melhor e fazer com que o público rolasse de rir do começo ao fim, sem precisar usar de todos os apelos e clichês possíveis de uma trama cômica tradicional. Volto a frisar que não é errado usar esses artifícios, e principalmente que comparado à grande quantidade de comédias novelescas nacionais ruins que nos são apresentadas quase que semanalmente, o filme é muitíssimo melhor, então se você gosta de rir com boas piadas sobre a vida cotidiana familiar, e não liga para um filme que falta uma base de roteiro melhor, pode ir para os cinemas conferir que a diversão é garantida, mas do caso contrário, pense duas vezes antes de esperar algo a mais da produção. Como sempre tenho de agradecer aos amigos da Rádio Difusora FM 91,3MHz pela ótima pré-estreia que a cada dia fica mais lotada, e desejar um ótimo Natal para todos, afinal esse é meu último post da semana (não imaginam o tanto que estou chorando por não vir nenhum outro filme para conferir nos próximos dias). Então deixo aqui meus abraços e até a próxima Quinta antes da virada de ano.
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