Se tem uma coisa que me diverte nos cinemas é ver o estilo de cada diretor, e como geralmente a cultura de cinema do país desenvolve suas tramas, pois o cinema grego é ao mesmo tempo místico e leve, de tal forma a moldar sempre algo que poderia ser trabalhado de maneira dura e forte, como um filme gostoso de acompanhar, mesmo que tudo seja completamente previsível, até mesmo nas cenas mais rápidas. E sendo assim, algo fácil de descobrir, em "Mundos Opostos" acabamos descobrindo logo de cara o que vai acontecer a cada nova cena, já de relance pegamos como será o clímax, em alguns minutos imaginamos (e acertamos) como irá se fechar a trama e por aí vai, pois tudo é muito pontual na trama, e mesmo o diretor subdividindo a trama em 3 subtramas (Bumerangue, Loseft 50mg e Segunda Chance), o resultado final para quem já acompanhou qualquer novela saberá os rumos e irá se conectar com toda a simbologia, amando o que verá ou odiando totalmente. Felizmente gostei mais do que odiei, e acredito que isso se deve pela direção consistente de Papakaliatis.
O longa nos mostra que numa Grécia assolada pela terrível crise socioeconômica, mas ainda conectada aos seus deuses, em especial Eros, a universitária Daphne é salva de um estupro pelo imigrante ilegal sírio Farris, o executivo Giorgios encara a dissolução da empresa em que trabalha ao mesmo tempo em que se envolve mais do que o esperado com uma consultora estrangeira, e o historiador Sebastian tenta se comunicar com uma senhora no mercado.
Costumo ser completamente contra diretores que resolvem atuar nos próprios filmes (não ligo para os que fazem apenas participações, mas ser protagonista é muita apelação de ego), e aqui Christopher Papakaliatis trabalhou muito bem na escolha dos planos, afinal também foi o roteirista da produção e já sabia como desejava mostrar sua história na telona. A opção de dividir a trama em partes menores, que claro, se juntam mais para o fim é um tanto quanto óbvia, mas é interessante para que conectássemos melhor a cada personagem e com isso passássemos a gostar mais de cada elemento, o que não impede também de desgostar de algo. Mas o grande acerto sem dúvida do diretor/roteirista, foi desenvolver uma história envolvendo economia, política, misticismo, religião e ainda romance, ou seja, tudo que se qualquer pessoa pensar em misturar num liquidificador irá com toda certeza imaginar virar qualquer coisa menos um filme bem elaborado, e o resultado mesmo que totalmente fácil de descobrir, agrada bastante (ao menos para quem gosta de uma trama levinha e digamos adocicada).
É fato que ao misturar atores de diversos países, o filme teve um desenvolvimento até mais interessante, pois pode trabalhar linguagens corporais mistas com claro o idioma universal, mas também brincando com o adivinhar de palavras e significados em outras línguas, e sendo assim todos tiveram bons trejeitos e até formas delicadas para agradar na desenvoltura de seus personagens. Para começar o israelense Tawfeek Barhom deu um ar bem singelo para o seu Farris, e soube dosar delicadeza para com seu estilo, misturando claro o medo e o desespero por estar jogado às margens da sociedade grega, claro que seu relacionamento amoroso em velocidade acelerada soou um pouco forçado, e totalmente novelesco, mas ainda assim foi gostoso de ver a forma de trabalho do ator. Junto de Barhom está a grega Niki Vakali, que até fez bons trejeitos para com sua Daphne, mas soou bobinha demais e quase muda para com o momento, e geralmente estudantes de política falam bem mais do que a jovem garota, então poderia ter se expressado mais ao invés de cair como vítima da sociedade. Não diria que Minas Hatzisavvas é protagonista em momento algum, mas foi o único que ganhou prêmio de melhor coadjuvante nas premiações do longa, pois seu Antonis é forte e impactante, e soou perfeito na comparação do que realmente anda acontecendo no mundo, com cada vez mais pessoas resolvendo fazer justiça com as próprias mãos, e claro que o ator foi expressivo, forte e bem colocado na trama. No segmento seguinte é a vez do diretor Christopher Papakaliatis aparecer com seu Giorgios, e com muita sagacidade, o ator dosou bem suas expressões, foi preciso nas emoções e claro, foi pra cama com a atriz mais bonita da trama, o que mostrou uma boa versatilidade para se dirigir numa cena bem trabalhada, e além disso foi simples e objetivo nas cenas com o garotinho, para mostrar como é a vida de adulto. A húngara Andrea Osvárt mostrou bem o papel que líderes e consultores fazem nas empresas com sua Elise, que é destruir cargos sem arrependimento e principalmente adorar somente quem lhe pajear, ou seja, algo que já deveria nem ter existido na vida real, mas que a atriz fez muito bem com sua interpretação. E para fechar o último vértice temos o ganhador do Oscar J.K. Simmons mostrando um lado seu tão amoroso e dócil que nem lembrava que existia, pois o ator que ultimamente só vinha fazendo personagens fortes foi tão doce e interessante de ver com seu Sebastian que acabamos nos envolvendo até demais com o que ele faz, e claro que isso acaba sendo um show, mesmo que não flua muito sua história. E Maria Kavoyianni foi certeira nas expressões, mostrando o pouco entendimento do inglês de Simmons e falando como uma boa grega bem rapidamente para que quase ninguém a entenda, ou seja, deu show também com sua leveza.
No conceito visual da trama, todas as cenas foram bem simples, em locações colocadas para representar a economia do país, mas sem dúvida alguma as melhores cenas ocorreram pela simbologia presente, pois seja no aeroporto desativado ocupado por imigrantes ilegais, ou no apartamento barulhento pela hospitalidade grega com um cinema ao ar livre na varanda da casa ao lado, ou até mesmo pelos passeios dentro de um mercado aonde você não consegue mais comprar nada pelos altos preços, mas que adoraria passear sem ser julgado. E assim com essas boas simbologias, mas sem precisar dizer muito em cena, a equipe artística foi bem pontual e acertou bastante nas escolhas e composições cênicas, agradando na medida. Só achei um pouco exagerado a procissão em todas as cenas, pois ok mostrar o lado religioso do país, mas acabaram forçando demais a barra. E claro que trabalhando bem sombras e nuances, cada cena foi fotografada em bons ângulos e contrastando cada paisagem bem escolhida com os personagens, para que o longa tivesse um tom dramático, mas sem muito peso, claro que excluindo as cenas de fascismo/extermínio aonde o preto dominava.
Enfim, um filme interessante e gostoso de assistir, que até poderia ter ido mais longe na forma crítica, mas que ao optar pela leveza discreta e opinativa, acaba atraindo mais público para os problemas do país sem apelar e assim agradando de maneira simples e bem pontual. Ou seja, um filme para todos os públicos, que vai emocionar e agradar sem necessitar ficar pensando ou filosofando sobre tudo o que querem nos mostrar. Portanto recomendo ele com certeza, mesmo com os defeitos de teor novelesco, de exageros expressivos, e até do diretor sendo mais ator do que maestro, pois o resultado final apaga bem esses erros. E assim, fico por aqui hoje, mas essa semana teremos posts todos os dias, então abraços e até breve galera.
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