É engraçado ver como alguns países tratam da temática juventude, pois sempre existiu a mítica festa dos 15 anos, mas são poucos os filmes que tratam de uma mudança da mulher nessa fase, e quando conseguem transparecer bem geralmente agradam. Em "O Sonho de Greta" temos uma mistura de filmes tão grande e variada, que vemos que a diretora em seu longa de estreia bebeu da fonte de diversos diretores e estilos, criando algo bem trabalhado e cheio de nuances que acabou divertindo de uma forma gostosa, mesmo que soe bizarro e bem maluco, mas claro que de uma boa forma.
O longa nos mostra que a adolescente Greta Driscoll reluta em aceitar que está virando uma mulher. Na escola ela tem apenas um amigo e tem pavor das meninas populares. Quando ela celebra seus 15 anos, uma caixinha de música a leva para um universo paralelo, onde precisa sobreviver às agruras dessa nova fase de sua vida.
Logo de cara vemos plaquinhas, elementos alegóricos com escritos e diversidades mil para retratar cada uma das partes de apresentação do longa, e isso soa um pouco estranho de forma a ficarmos pensando algum motivo lógico que a diretora Rosemary Myers tenha colocado isso no filme, logo em seguida vemos fotos em movimento e pensamos que a imaginação fértil poderia ter acabado, daí logo na sequência somos apresentados a personagens circenses mas de tal maneira que lembramos um pouco de "Onde Vivem Os Monstros", e pensamos mais um pouco, será que ela vai conseguir deixar mais maluco tudo isso, sim, ela consegue, inserindo um estilo de "Scott Pilgrim" no miolo. Ou seja, a diretora brincou com muitos elementos, e trabalhou bem a história para que mesmo cheia de referências ficasse algo seu com propriedade, e ao dimensionar o roteiro de uma forma leve e casual, a trama ganhou uma vida bem colorida e interessante de acompanhar. Não digo que seja a melhor forma de se tratar as mudanças na personalidade feminina, ou até mesmo a forma de encarar a vida "adulta" sem perder a inocência, mas são tantas dinâmicas exibidas que acabamos gostando bastante do que vemos e adentramos a esse mundo fantasioso que nos é entregue para curtir.
Trabalhar com jovens atores é um mártir para qualquer diretor, pois muitas vezes os jovens soam dispersos, em algumas cenas trabalham com um tipo de entonação e na seguinte já fazem completamente diferente, mas quem souber dosar bem a energia deles acaba tirando ótimos resultados, e aqui não foi diferente, pois Bethany Whitmore já possuía muita experiência antes dessa produção e colocou para sua Greta uma forma bem singular de expressão que bem dosada acabou sendo gostoso de ver e sentir bem com seus grandes momentos. Harrison Feldman aparentava timidez demais fronte as câmeras, mas quando se soltou acabou fluindo tão bem que acabamos também amigos de seu Elliot. A personalidade de Conrad é bem mais importante do que a atuação de Mathew Whittet, pois funcionou bem tanto como aquele pai brincalhão, protetor e até nojento pela forma de se vestir, que no sonho acabou fluindo de uma forma tão vivencial que acabamos nos impressionando com tudo ao analisarmos o contexto maior. O mesmo flui para Eamon Farren com seu Adam e depois como o sedutor cantor, e por aí vai com cada um que aparece duas vezes, de tal maneira que a história acaba ficando com dois vértices, mas bem mais elaborado no sonho do que na vida real, e isso é lindo de ver.
Sobre o conceito visual, como sempre obras australianas trabalham em demasia com conceitos abstratos e multi-coloridos, que acabam sendo bem representativos, e aqui ao misturar elementos dos anos 60/70 com um ar moderno e conceitual de histórias fantasiosas, cada cena passou a ter um valor ímpar que mesmo ao trabalhar os "capítulos" da história fluindo dentro do contexto da cena o resultado não fica piegas nem cult demais, e isso é o que chamamos de acerto de arte. Sobre a fotografia, com muitas cores poderiam ter trabalhado mais dentro do sonho, mas optaram por brincar com movimentos estranhos e algumas alegorias com filtros, o que não é errado, mas também acaba não agradando tanto.
Enfim, é um filme bonito, divertido e bem gostoso de ver, mas que poderia ser imensamente melhorado. Vale a pena ver em qualquer idade, mas certamente os pais que assistirem irão tirar melhores conclusões de como lidar com as filhas, e claro as filhas com todos ao seu redor, e assim acabamos tendo uma boa lição para aprender com o longa. Bem é isso pessoal, encerro aqui minha participação na Itinerância da Mostra, acabei perdendo alguns filmes por motivos de trabalho, mas irei torcer para que apareçam em outras oportunidades para ver. Fico por aqui hoje, mas volto em breve já com algumas prés dos longas da próxima semana, então abraços e até mais.
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