É em animações que vemos a maior mensagem de superação, de seguirmos sempre nossos sonhos e que com muito trabalho sempre conseguiremos atingir nossos desejos, e claro que quando se trata de uma animação franco-canadense, não seria diferente, afinal nesses países o lema de batalhar muito para conseguir superar obstáculos é algo que predomina, porém quando entra em jogo alguns dos produtores que mais emocionaram no cinema nos últimos anos com o filme "Intocáveis", não se esperava menos do que mostrar que não basta treinar muito e ter determinação para conseguir atingir o ápice, mas sim paixão pelo que faz, e assim o filme "A Bailarina" flui com um desenho e história bem simples, mas objetivo na mensagem e impactante no contexto geral, ou seja, um filme que não vai cativar tanto as crianças com personagens bobinhos, mesmo que tenha algumas gafes nesse sentido, mas que dará grandes lições e emoções para quem refletir bem tudo o que é dito na trama, fazendo valer todos os momentos passados na telona.
A sinopse nos mostra que em 1869, uma menina órfã é tomada pelo sonho de ser um dia uma grande bailarina. Obstinada, a garotinha foge para Paris com o desejo de alcançar o que quer, fingindo ser outra pessoa e assim conseguir uma vaga no Grand Opera.
Embora não seja de um estúdio que estejamos acostumados a ver animações por aqui, a equipe responsável pelo filme mostrou que de técnica eles entendem bastante para que o filme não ficasse apenas bonito de mensagens, mas sim que funcionasse como uma obra completa, bem desenhada e com nuances clássicas envolvendo animação tradicional e computação gráfica bem alocada. Claro que por termos dois diretores estreantes em animação, Eric Summer e Éric Warin não mostraram muita ousadia com texturas e ambientações que utilizasse efeitos tridimensionais de uma forma mais criativa, mas o resultado da arte criando uma Paris clássica do século XIX, mostrando a construção das duas obras mais conhecidas do mundo (Torre Eiffel e Estátua da Liberdade) e brincando bem com a temática de que com muito treino se atinge o ápice, mas que o detalhe da obra será a paixão, acabaram acertando bem e empolgando bastante com um filme leve e gostoso de acompanhar.
Porém sendo bem crítico, precisavam ter criado personagens mais dinâmicos e pontuais, pois os protagonistas são bem colocados e trabalham bem as mensagens, mas não chamaram o carisma nem a responsabilidade para que o filme focasse neles, soando dispersos de tal forma, que mesmo sendo um filme bonito de se ver, é capaz que muito em breve nem lembraremos de ter assistido ele, e de certa maneira também acabaram não conectando tanto as crianças, faltando algo mais colorido e vivo para amarrar as pontas de mensagem séria dos treinadores com as ideias inventivas divertidas do garotinho.
Falando um pouco mais dos personagens e pontuando um pouco sobre a dublagem nacional, Mel Maia mostrou que assim com tem demonstrado um estilo de atuação próprio e bem marcante, na forma de dublar a protagonista Félicie conseguiu incorporar bons trejeitos e deixar a jovem bailarina com um tom interessante e bem jovial, talvez marcando até infantil em alguns momentos, mas nada que atrapalhasse, muito pelo contrário, agradando bastante nesse sentido, pois a própria personagem se mostra dentro desse perfil da mudança de criança para adolescente, e o acerto acabou conectando bem. O garotinho Victor merecia um pouco mais de destaque, mesmo o filme sendo sobre a bailarina, pois assim como somos apresentados do nada os dois protagonistas, o jovem garotinho acaba caindo meio que no limbo do filme, aparecendo espaçadamente mostrando algo e sumindo novamente, o que acaba causando uma falta de conexão para que o público torcesse pelo relacionamento dos dois, e isso não é algo comum de ver em animações "românticas". Outro pequeno defeito de percurso é o fato de apenas falarem do acidente que Odete sofreu quando era bailarina (o que todos já sabiam logo na primeira cena sua), pois em outros tempos acabariam mostrando mesmo que de relance (talvez até usando uma animação 2D mais simples) como foi que aconteceu para que ela desistisse do seu sonho, mas ainda assim a conexão dela com a protagonista soa bem bonita. A personagem "malvada" do filme, Régine Le Haut, ficou digamos que artificial demais, e poderia causar mais impacto nas suas cenas fortes, mas aí sairia do tema infantil, porém ainda fez bem suas cenas arrogantes, e a frase do filme ficou a cargo da filha da vilã, Camille, ao dizer o motivo pelo qual dança, que é o que vemos muito por aí nas academias de dança, com garotinhas se matando para fazer algo que nem gostam de fazer, deixando uma boa dica para as mamães que forem ver o filme.
Como disse acima o contexto visual da trama foi bem desenhado, mostrando bons elementos do século XIX e um tom amarelado bem interessante na iluminação do filme, quase deixando a trama iluminada demais, e nesse contexto, entramos em outro ponto ruim do filme, o 3D, pois muito amarelo acaba estragando qualquer tentativa de efeito tridimensional, deixando o longa quase chapado 2D, e assim sendo, faltou imersão e classe para que o filme tivesse bons elementos saltando para fora da tela, e/ou uma profundidade convincente, funcionando a tecnologia apenas para que os personagens tivessem formas mais humanas e nada além disso, ou seja, algo que já tinham feito só com as boas sombras dos traços clássicos que usaram. Então quem quiser dar uma economizada, pode ver 2D tranquilamente o longa.
Como é de praxe em boas animações atualmente, temos uma trilha sonora de primeira linha, com músicas que remeteram ritmo à produção e claro diversão para os bons ouvidos com as temáticas escolhidas para desenvolvimento dos personagens, e claro que não deixaria vocês sem o link das músicas.
Enfim, é um filme bem bonitinho, que agrada pela boa mensagem e pelo desenho bem trabalhado de arte, mas que faltou muitos detalhes para ser perfeito daqueles que saímos emocionados da sala comentando sobre tudo o que vimos, e principalmente, que lembraríamos de ter visto quando nos perguntado daqui alguns meses. Sendo assim recomendo ele com as ressalvas que fiz, mas que vai agradar bastante as crianças que gostam de dança, e os pais/adultos que estiverem bem dispostos à escutar boas mensagens. Bem é isso pessoal, hoje ainda confiro mais um longa dos muitos que estrearam nessa semana cinematográfica, e amanhã cedo coloco o texto no site, então abraços e até breve.
2 comentários:
Norman McLaren afirmava que o cinema de animação não era a arte dos desenhos em movimento, mas a arte do movimento que é desenhado. A Bailarina é um filme de texturas luxuosas e grandiloquentes movimentos da câmera virtual, criados para realçar a grandiosidade dos cenários. O enredo possui alguns detalhes inesperados que passam por certa amoralidade nas ações de sua heroína, capaz de fingir ser outra pessoa para atingir os objetivos que ela acha que são negados por pura questão de classe. As profundas debilidades do filme aparecem quando os personagens se movem e, especialmente, quando dançam, sujeitos a movimentos que pouco lembram a leveza graciosa dos corpos na dança clássica e que, em vez disso, mostram as limitações de certa animação digital quando amarra às cadeias do algoritmo a liberdade do traço do artista artesão.
Obrigado pelo comentário Soy Sofia, nossa você foi bem fundo no conceito de misturar arte e algoritmos da computação gráfica que realmente me fez pensar nessa mistura da dança. Abraços!
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Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...