O cinema nacional tem tentado entrar com unhas e dentes dentro do gênero teen, e na maioria das vezes tem errado demais tanto em não acertar o gosto do público quanto na forma de transmitir uma boa mensagem de amadurecimento. E ao contrário do que se vê nas novelas teen e até mesmo nos filmes teen, na internet esse público anda se apaixonando cada vez mais e se conectando com as ideias de diversos tipos de influenciadores digitais, então porque não fazer um filme sobre um dos maiores influenciadores digitais do país, que tem mais de 7 milhões de seguidores (a maioria adolescente) e que já publicou três livros contando um pouco de sua vida? Pois bem, alguém teve essa ideia, e o resultado estreou na última quinta, intitulado pelo mesmo nome do livro, do canal e de tudo mais que Christian Figueiredo tem trabalhado na internet e fora dela, e "Eu Fico Loko" por mais incrível que possa ser, ao contar a biografia de vida de um jovem de apenas 20 e poucos anos, não vai deixar você louco de raiva ao sair da sessão, muito pelo contrário, o longa diverte como poucos conseguiram fazer nesse mar de comédias forçadas do cinema nacional que vemos toda semana, e com uma história bacana e interessante de um jovem perdedor que acabou ficando famoso, que tanto vemos no cinema americano funcionar, aqui também acabou funcionando.
O longa nos mostra que Christian é um adolescente pouco popular na escola, que também não tem vida fácil em casa. Enquanto sofre bullying dos colegas e busca sua própria identidade, ele se preocupa com o primeiro beijo e a primeira noite com uma garota. Christian também é um cinéfilo que grava paródias de filmes para colocar na Internet. Aos poucos, ele decide usar as redes sociais para contar as suas histórias de vida.
Após muito trabalho como assistente de direção de grandes nomes do nosso cinema nacional, Bruno Garotti estreia como diretor de seu primeiro longa, e certamente irá ser lembrado como o diretor do filme do Christian, afinal se só metade dos seguidores do jovem assistir ao filme, ele já terá feito muito mais sucesso que muitos longas nacionais sequer pensaram em chegar perto. E felizmente esse sucesso que ele pode alcançar com os seguidores/fãs de Christian não será apenas por o personagem ser "muito" conhecido (eu particularmente nem sabia quem era Christian Figueiredo antes de conferir o longa) e sim por ter feito um filme simples e eficiente sobre a juventude tradicional, com muitos clichês sim, mas bem trabalhado no contexto da adequação nos diversos grupos/rótulos, das dificuldades que alguns jovem tem nos primeiros encontros e por aí vai, que feito com um humor bem pautado e colocado na medida certa acabou agradando. Há erros sim, isso é um fato, pois o exagero do personagem invadir diversas vezes o filme para falar seus pensamentos, com quebras constantes da linearidade, acaba soando chato e desnecessário, mas como andei dando uma pesquisada, esse é o estilo de seus vídeos, então como costumo dizer, cada filme é feito para um público efetivo, e se desejavam atingir esse público, certamente fizeram bem ao trabalhar isso, mas para nós comuns amantes de filmes, talvez vá soar bem estranho.
Sobre as interpretações, podemos dizer que o estilo que Felipe Bragança escolheu para interpretar o jovem Christian ficou bem interessante, pois mostrou um bom trabalho de olhares, e um carisma comum de vermos em losers que o público acaba se afeiçoando, e sendo singelo sem abusar muito de expressões manjadas, o ator acabou tendo bem mais acertos do que erros em tudo o que fez. Isabella Moreira fez a tradicional mocinha que faz o público se apaixonar da mesma forma que o protagonista, mas que acabamos sempre ficando bravos quando está com outro, e sua Alice caiu bem no estilo da atriz, pois soube dosar ternura e estilo próprio em um único tom. Giovana Grigio fez uma Gabriela bem apimentada e interessante de acompanhar, mas que acabou exagerando um pouco na dose expressiva e por diversas vezes acabou saindo de uma expressão correta para outra meio largada demais sem mesmo demonstrar atitude no meio do caminho, o que é algo estranho de ver na tela. Já a escolha de Wellington "Ceará" Muniz como pai da garota foi um acerto para mostrar como piadas ruins mesmo sem graça acabam tendo graça nas expressões das pessoas. Outro bom acerto ficou a cargo de José Victor Pires no papel de Yan, que com olhares bem encaixados e uma expressão completa de amigos bem parceiros, acaba agradando nas tramas e cenas bem determinadas com o protagonista. Agora estou com dó de Suely Franco, em menos de um mês já mataram a pobre duas vezes no cinema, sei que a atriz está doente, mas só estão lhe dando papeis para morrer, e aqui a vó do garoto é tão determinante para a personalidade que ele adquire para os vídeos futuros, que a atriz mostrou muita postura e agradou demais em tudo o que fez. Os demais fizeram bem seus papeis e encaixaram bastante nas cenas, só acredito que usaram pouco demais Alessandra Negrini que é uma tremenda atriz e não merecia ficar jogada apenas em duas ou três cenas.
Visualmente escolheram bem as locações, montando uma casa simples aonde o jovem cria boa parte de seus vídeos no quarto, mostrando bem redes sociais antigas e câmeras simples que o pessoal vlogger usava e ainda usa em seus vídeos, algumas casas bem interessantes de Gabriela, colégios bem colocados para dar um ar interessante e tudo simples, mas usado com cautela para não abusar da energia, e claro economizar nos gastos, afinal o orçamento não foi nada gigantesco, mas certamente trará um lucro imenso. No conceito da fotografia, a equipe optou por não utilizar tantos filtros, mas fez bons sombreamentos e agradou num conceito geral.
Enfim, fui pronto para apedrejar o filme, e acabei gostando bem mais do que esperava, e assim mesmo não conhecendo nada de Christian, o longa acabou sendo mais interessante pela boa perspectiva jovem e que acaba igualando bem o Brasil no conceito de longas teen. Ou seja, se você gosta de uma boa trama leve e divertida sobre jovens perdedores que com um pouco de sorte e muita garra conseguem crescer na vida, esse é um bom exemplo para curtir nos cinemas. Mas vá preparado para as sessões cheias de adolescentes, afinal o público alvo da trama são eles. Sendo assim, recomendo o longa com poucas ressalvas, pois o resultado foi bem melhor do que qualquer um poderia esperar. Bem é isso pessoal, encerro aqui minha semana cinematográfica, mas volto na próxima quinta com novos textos, então abraços e até lá.
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