É estranho falar das muitas emoções que o filme "Lion - Uma Jornada Para Casa" acaba causando durante toda a exibição, pois ao trabalhar conceitos familiares, da forma de criação, de objetivos e diversas outros contextos que somos inseridos, acabamos mergulhando em pensamentos próprios que por vezes não paramos para imaginar, e o filme acaba pontuando tantas frases marcantes pelas bocas de seus protagonistas, que ficamos pensando na profundidade aonde quiseram chegar e que acabaram atingindo, ou seja, um longa que vai muito além do que é apenas mostrado na tela. Claro que a mensagem da trama vai atingir cada um de uma forma, uns vão se assimilar mais com o garotinho perdido no seu próprio país, mas que por falarem diversas línguas ninguém vai lhe entender direito, outros vão incorporar melhor a fase de adoção aonde você fica ali pensando no motivo de quererem você, ao invés de tantos outros possíveis, e terá até mesmo aqueles que vão incorporar a vida adulta do protagonista e sua busca para encontrar suas origens, quem ele é, e o que deve fazer no mundo, mesmo tendo tudo do bom e do melhor. Ou seja, muitas vertentes que inicialmente podem achar até bem enrolado por não ir diretamente ao ponto chave, mas que se analisarmos a fundo veremos como disse, que tudo teve o seu momento para ser explanado já que é baseado no livro de Saroo Brierley, onde conta a história real de sua vida, que é apenas uma das 80000 crianças que desaparecem por ano na Índia (segundo fontes do site do próprio filme, que você pode doar e concorrer a prêmios).
A sinopse nos conta que quando tinha apenas cinco anos, o indiano Saroo se perdeu do irmão numa estação de trem de Calcutá e enfrentou grandes desafios para sobreviver sozinho até de ser adotado por uma família australiana. Incapaz de superar o que aconteceu, aos 25 anos ele decide buscar uma forma de reencontrar sua família biológica.
Podemos dizer que voltamos há 9 anos atrás quando vimos em "Quem Quer Ser Um Milionário?", alguns dos problemas da Índia, e novamente trabalhando com garotinhos carismáticos, que com olhares perfeitos acabam assim como o Gato de Botas entrando na alma das pessoas para que elas fiquem com pena delas e/ou se apaixone por elas, para que depois o jovem (agora já bem mais velho) Dev Patel mostrasse seu talento em fazer semblantes trabalhados em envolvimento e dúvida. Claro que diferentemente do que ocorreu em 2008, aqui tivemos um diretor estreante em longas, e um roteirista estreante também, no caso o autor do livro, que junto acabou ajudando na adaptação, e Garth Davis soube dosar homeopaticamente cada momento para que o filme emocionasse do começo ao fim, não tendo momentos de alívio, pois tudo acalmava para na sequência aparecer algum tipo de problematização e novamente entrássemos no modo comoção por algo, até o grande clímax que não tem como arrepiar e/ou chorar com o que acontece ali, ou seja, não seja sem coração, e desabe também. Temos de pontuar também que gostaríamos de saber o investimento dos nossos amigos do Google para com o filme, pois tudo bem que o filme não seria feito sem mostrar ao menos algumas funções do Earth, mas está presente de tal forma que por bem pouco não falamos que é um longa 100% patrocinado pela companhia, e não que isso tenha atrapalhado em algo, mas apenas é muito evidente a forma como o conteúdo acabou encaixado e funcionando para com o longa, mas mais sábio foi o diretor que usou isso pró-filme ao invés de ser algo ruim de ver. Outro ponto que temos de falar muito foram as escolhas de ângulos que o diretor junto do diretor de fotografia acabaram optando, pois ao mostrar muitas cenas aéreas mixadas com closes nos protagonistas, viajamos do grande mundo a ser explorado, para um pensamento mais fechado, o que sempre acaba funcionando muito bem para desenvolver uma trama.
E claro, que temos de falar dos protagonistas, ou melhor, usando a arte das jogadas de indicações a prêmios, dos coadjuvantes no caso. Dev Patel já mostrava ser um bom ator em 2008, e mesmo sendo britânico, por ter família indiana tem caído como uma luva para papéis que necessitem desse estilo de personagem, e aqui ele incorporou doses fortes de personalidade para seu Saroo, que ficamos perplexos com cada cena sua, com os olhares bem colocados para com cada momento, e que dizem muito mais do que qualquer palavra dita, e que dessa forma tem conseguido diversas indicações à prêmios, e ainda certamente vai mostrar muito serviço pela frente. Nicole Kidman também trabalha muito bem a personalidade de sua Sue, e com poucos momentos fortes se mostra mais incrível do que nunca, chamando a responsabilidade quando precisa e sendo precisa quando entra forte no papel, ou seja, não precisou de muito para mostrar a que veio, e está aí mostrando mais uma vez que sabe cair bem em papeis marcantes. Rooney Mara teve boas participações em cenas mais duras e que foram trabalhadas para vermos a bagunça da mente do protagonista, de tal forma que sua Lucy (apenas um adendo: essa mulher toma alguma coisa para se manter sempre com cara de 20 anos???) acaba usada pouco em cena, mas acaba refletindo bem os momentos fortes que foi colocada, e que com graciosidade acaba nos conquistando. Agora para falarmos dos protagonistas do filme, não precisamos de muito, apenas dizer que Priyanka Bose foi incrível como a mãe do protagonista, trabalhando tão bem o semblante seja na sua versão jovem, ou muito bem maquiada na cena final, mas colocando acima de tudo olhares, e falando de olhares, temos de pontuar mais que tudo o jovem Sunny Pawar, que começou bem sua carreira no cinema fazendo o jovem Saroo, e que com muita garra e empatia carismática conseguiu mostrar nuances tão incríveis que poucos grandes atores conseguiriam fazer, pois sem saber falar inglês no começo das filmagens, logo após ser escolhido entre mais de 200 garotos, acabou detonando tanto que vamos torcer para ver ele mais para frente como um excelente ator, e claro que temos de colocar também outro bom jovem encontrado pela produção que foi Abhishek Bharate com seu Guddu, que agradou bem mais nas cenas de memórias do que nas poucas mesmo que fez com o pequenino, pois ambos acabaram criando uma boa conexão linda de se ver. Dos demais temos de pontuar as boas cenas fortes de Divian Ladwa como Mantosh, que foi pouco usado, mas soou bem quando precisou, assim como David Wenham como John que também ajudou mais dentro da proposta do que atuando mesmo.
Outro ponto muito positivo da trama ficou a cargo da direção de arte, que se embrenhou por diversas locações sujas e bem jogadas no meio de Kolkata na Índia, trabalhando com lugares feios, misturados por muita gente, cenografias abandonadas mostrando a miséria que predomina boa parte do país e contrapondo bem uma Austrália rica com uma casa bem mobiliada, e claro tudo muito rico em detalhes cênicos para que tudo fosse digerido pelo público juntamente com a história. E claro colocando como objeto cênico nosso tradicional Google Earth (que hoje já chama mais Maps) que utilizado a todo momento pelo protagonista acaba sendo quase uma peça pronta para ser colocada pelo designer de produção. Sobre a fotografia Greig Fraser foi seguro do que desejava e como disse no começo misturou cenas amplas bem encaixadas com closes numa mistura frenética de tons que jogado no meio da multidão e das diversas locações conseguiram algo muito incrível de se ver, ou seja, um trabalho rico e que mereceu muito ser indicado também ao Oscar.
A trilha sonora do longa acabou sendo indicada também, mas pontuaria que ela é massante demais para comover, feita na medida para aquele momento melódico pontual que vai marcar cada cena, encaixando com o texto e chamando você para o lenço no bolso, e sendo assim, acertada dentro da proposta. E claro que junto dessa boa composição, a equipe acabou colocando diversas outras boas canções, que usando do tema de fechamento, caiu como uma luva a canção "Never Give Up" da Sia para com o tema, ou seja, nunca desista!
Enfim, um filme perfeito, que certamente fui ver sem esperar muito dele, e que acabou me tocando demais, fazendo claro com que esse Coelho derramasse algumas lágrimas em momentos espalhados, e sendo assim não tem como não recomendar ele logo que estrear no dia 16/02, e que já está agendado para aparecer por aqui, ao menos dentro do novo projeto que surgiu na cidade chamado Cinema de Arte do Cinépolis Santa Úrsula, que trará diversos filmes que não vieram ou não viriam para a cidade. Portanto, vá conferir, imerja na trama e com certeza você sairá da sessão pensando sobre muitas coisas. Bem é isso, esse foi um paralelo no meio das duas semanas cinematográficas, mas volto na quinta com muitos textos, afinal a próxima semana veio recheada de estreias, inclusive já com o primeiro filme desse novo projeto vindo ("Elle") por aqui, então abraços e até mais pessoal.
PS: Não dei 10 para o filme, devido mesmo tendo um bom motivo para o começo mais lento e cheio de detalhes com o garotinho, acabou sendo demorado demais para irmos para o ponto de mudança de ares, e talvez se ficasse apenas como parte das lembranças do adulto seria algo menos duro, e longo. Porém o restante é incrível e valeria certamente nota máxima
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