Quando foi lançado em 1981, "Os Saltimbancos Trapalhões" nem nascido esse Coelho que vos digita era, mas claro que assisti na infância, só não posso afirmar que lembro de detalhes, portanto vou deixar de lado comparações. Mas o ar em cima desse novo filme ficou bem em cima do saudosismo e da nostalgia que os protagonistas puseram em cena, e isso não é algo ruim, pois muito pelo contrário, filmes com homenagens costumam funcionar bem quando tudo é bem trabalhado. Só que para uma história convencer, é necessário que a trama também convença, e aqui alguns personagens poderiam ter trabalhado melhor para que o filme não ficasse tão singelo de situações, ou que somente focassem na parte musical que seria linda de ver. Ou seja, não é um filme ruim, pois emociona sim em alguns momentos, principalmente no final, mas também está longe de ser algo maravilhoso já que poderia ser bem melhor se quisessem.
O longa nos mostra que o Grande Circo Sumatra está em meio a uma grande crise financeira desde a proibição de animais em espetáculos e Barão, dono do circo, acaba aceitando fazer leilões de gado, comícios e outros eventos alternativos no circo. Didi e Karina, artistas do circo, estão infelizes com a situação e decidem montar um novo número e, assim, tentar atrair o público novamente.
É interessante ver uma refilmagem baseada em uma peça musical que foi baseada em um filme pois a essência vai sendo passada, e transformada de acordo com o público que se deseja atingir, e certamente aqui o diretor João Daniel Tikhomiroff quis trabalhar esse ar nostálgico em cima de Renato Aragão que já está bem velhinho, mas que ainda mantém o seu carismático Didi da mesma forma íntegra que tanto conhecemos no passado. A moldagem musical que a peça teve, foi bem trabalhada para a telona, tanto que são raros os momentos que não temos personagens cantando em cena, o único problema aí é que no Brasil ainda não temos diretores de cinema com culhões suficientes para gravar um musical sem a necessidade de dublagem, gravando antes em estúdio os personagens cantando e depois em cena apenas mexendo a boca, e como bem sabemos, isso fica falso. Mas isso é um problema técnico que poucos irão se incomodar, pois são ótimas canções de Chico Buarque de Hollanda que ao ser trabalhadas com um grande coro e com todo um contexto visual acabam se tornando mágicas bem encenadas. E tirando esse detalhe e a falta de uma história mais convincente, no caso da vilania querendo tirar o circo da trupe, o filme tem um bom desenrolar, mas faltou aquele detalhe para que o roteiro flutuasse mais como deve ser um bom musical.
Quanto das atuações, podemos dizer que Renato está bem velho, e as piadas de seu Didi mais ainda, mas ao colocar ele como um grande autor de um musical foi uma sacada imensa para a grande mente criativa dele, e o ator não decepciona na sua forma criativa de composição, o que é muito bonito de ver, só poderiam ter explorado um pouco mais ele para que tudo fluísse melhor. Dedé Santana também está velho e cada vez menos aproveitado, fazendo boas cenas de parceria, mas faltou gás e personalidade para colocarem mais importância nos seus momentos. Letícia Colin vive Karina, a filha do dono do circo, e que canta boa parte do musical, fazendo isso muito bem e interpretando tudo muito bem também, apenas se queriam um ar mais romantizado dela com o galã do filme, poderiam ter trabalhado mais essas cenas, pois tudo acaba ocorrendo tão rapidamente, sem muita fluidez que ficamos assustados com o desenrolar deles. Marcos Frota como Satã não funcionou muito bem como um "vilão", e saiu mais como alguém com dor de cotovelo que desejava destruir tudo, e no seu momento que diz que vai pôr tudo no chão, até a lona, vemos facilmente na expressão do ator a dor de falar isso, pois como bem sabemos Frota é a pessoa que mais ama circo no país, tendo inclusive o seu próprio circo. Livian Aragão já vem mostrando há algum tempo, um futuro promissor dentro da carreira artística, e aqui com um ar musical soou até bem a personalidade de sua Luisa, só poderia também ter explorado um pouco mais sua situação romântica com Rafael Vitti, que foi quase um enfeite usado apenas em três cenas com seu Pedro. Alinne Moraes sempre sai forte como um mulherão e aqui com sua Tigrana acabou agradando nas vertentes que acabou seguindo, mesmo que sendo um pouco exagerada demais. Roberto Guilherme é o alvo mais engraçado de zoação que Didi sempre teve, e claro que não perderia oportunidade de fazer aqui com seu Barão, e o ator fez bons momentos, até trabalhou alguns olhares emotivos e agradou de um modo geral. Um dos pontos positivos da trama, mesmo que de forma bem paralela no longa, podemos dizer que foi Maria Clara Gueiroz com sua Zoroastra, pois teve interpretação, comicidade e até uma certa puxada de linha para essas madames espirituais, mostrando muito bem a atitude de atriz que ela tem. Agora o ponto mais negativo da trama certamente ficou a cargo do outro "vilão" da trama, o prefeito Gavião interpretado pessimamente por Nelson Freitas, que além de um sotaque totalmente "Zorra Total", mostrou que falta tino para personagens "malvados".
No contexto cênico, temos um filme bem interessante, com um circo mambembe bem caracterizado, com um picadeiro bem montado, e diversas coisas jogadas para todo lado, mostrando que as jaulas dos animais não servem mais para nada, sendo apenas armários de entulhos, e que a realidade do circo hoje sem animais tem caído mais para o lado musical, aonde tudo tem de ser conquistado pela magia do espetáculo que todos podem criar, e a equipe artística trabalhou bem para que isso fluísse dessa maneira, usando animais sim, mas de forma meio digital, meio artificial, que até soa estranha, mas que caiu bem dentro da proposta da trama. A fotografia ficou encaixada mais para dar ares lúdicos e emotivos, ou seja, trabalhando bem pontos de luzes sobre os protagonistas de cada cena, e deixando o restante meio que de participação apenas, o que agrada, mas soa um pouco falso.
Por ser um musical é claro que todas as canções são ótimas e bem cantadas, mas como disse foram previamente gravadas em estúdio e dubladas na hora da interpretação, dando um ar estranho de se ver. Mas são tão boas e que já ouvimos tantas outras vezes, que agora tirar elas da cabeça será algo bem difícil: "uma pirueta, duas piruetas, bravo, bravo".
Enfim, é um filme que vai agradar quem estiver disposto à algo mais saudosista e nostálgico mesmo, mas quem for esperando um filme mesmo com história, grandes atuações e tudo mais acabará saindo um pouco decepcionado, mesmo que com todas as músicas repetindo diversas vezes na cabeça. Ou seja, até recomendo a trama para quem gosta desse estilo musical, mas que poderia empolgar mais o resultado final, certamente poderia. Bem é isso pessoal, encerro essa semana cinematográfica curta aqui, mas volto em breve com mais estreias, afinal essa semana terei uma boa novidade para contar.
PS: Prefiro nem falar muito da cena inicial numa festa de premiação estilo o Oscar, que senão a nota vai desabar!
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