Cálculos, tecnologia, preconceito... não necessariamente nessa ordem e em quantidade de caracteres podemos falar sobre "Estrelas Além do Tempo", que nos transborda de orgulho ao mostrar que mesmo sofrendo muito por estarem num lugar dominado pela segregação racial, numa época completamente polêmica, três grandes mulheres conseguiram transpassar as barreiras e com muita Matemática e força de vontade atingir o espaço, levando grandes homens para fora do nosso planeta. Ou seja, temos um filme bem primoroso e interessante de se ver por trabalhar bem todo o contexto histórico, e ainda empolgar com uma boa dose de energia que as protagonistas conseguiram colocar no longa, e tirando leves defeitos de exageros de impacto, o longa consegue ser tão incrível quanto parece, agradando demais do começo ao fim.
O longa nos situa em 1961. Em plena Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética disputam a supremacia na corrida espacial ao mesmo tempo em que a sociedade norte-americana lida com uma profunda cisão racial, entre brancos e negros. Tal situação é refletida também na NASA, onde um grupo de funcionárias negras é obrigada a trabalhar a parte. É lá que estão Katherine Johnson, Dorothy Vaughn e Mary Jackson, grandes amigas que, além de provar sua competência dia após dia, precisam lidar com o preconceito arraigado para que consigam ascender na hierarquia da NASA.
Já havia falado bem do primeiro trabalho que o diretor Theodore Melfi fez em "Um Santo Vizinho", mas agora nesse seu segundo longa como diretor ele trabalhou uma pegada mais encaixada, deixando as nuances certas nos momentos certos, sendo tão preciso que até utilizou alguns momentos mais descontraídos para que seu longa não ficasse tão pesado e ainda mostrasse um pouco da vida que as mulheres levavam além do trabalho também. Ao mesmo tempo que o diretor contou uma boa história, ele manteve a linearidade usando um bom corte dinâmico que não deixou o filme cansativo mesmo tendo 127 minutos, e assim sendo a trama flui bem gostosa e vai trabalhando cada uma das personagens sem precisar exagerar em nada e ainda mostrando um pouco de tudo. Outro detalhe que temos de pontuar foi a boa mistura de cenas filmadas com material de arquivo para dar uma realidade mais forte, e usando recursos interessantes na fotografia, o resultado acabou deixando as imagens quase no mesmo tom o que é algo muito bem feito. Talvez quem tentar entender termos técnicos demais da Matemática usada, e não tiver feito nenhuma matéria mais elaborada de Ciências Exatas vai ficar um pouco confuso com tudo o que falam no filme, mas nada que atrapalhe a ideia da trama e cause algum desconforto maior. Ou seja, um bom roteiro, mais uma boa direção e uma boa edição, não tinha como ficar ruim se colocado junto com boas atrizes, e foi assim que ocorreu, pois, as três protagonistas deram um show.
E falando mais delas, Taraji P. Henson foi perfeita em seus momentos de Katherine, criando uma protagonista bem focada, mas que acabou sendo deixada em segundo plano pelo elenco de maior peso, pois sua história sim é incrível, mas merecia um foco mais denso e/ou uma atriz de maior renome para que a dramaticidade em si falasse sozinha, mas em momento algum diremos que ela não se saiu bem, pois fez boas expressões e arrasou no seu momento de desabafo. Já pelo contrário, Octavia Spencer trabalhou olhares de sua Dorothy, e mantendo suas próprias características acabou sendo incisiva na atitude e não deixando o olhar para baixo para que sua personagem fluísse muito bem. Janelle Monáe fez poucas cenas, mas caiu bem na trama e claro na demonstração de muitas quebras de primeira mulher em diversas coisas, o que acabou fazendo de sua Mary Jackson uma personagem na história americana, e a atriz saiu-se muito bem caindo elegante no papel além de colaborar bastante nas canções junto do produtor do filme Pharrell Williams. Kevin Costner não anda mais sendo aquele ator que aparecia em todos os filmes quando era galã, mas aqui seu Al foi tão bem colocado, fazendo boas dinâmicas e chamando a responsabilidade para si em diversos momentos que acabou mostrando a atitude tão ímpar que só vemos em grandes atores. Jim Parsons foi bem diferente do que estamos acostumados a ver em TBBT, fazendo sim um bom cientista com seu Stafford, mas exageradamente sério e claro preconceituoso demais, não que isso seja ruim de ver, pois realmente aconteceu, mas poderiam ter trabalhado melhor suas expressões. Glen Powell colocou em suma o carisma que o astronauta John Glenn teve, e mesmo aparecendo pouco conseguiu mostrar, afinal como a história real mostrou, que ele foi alguém muito amado nos EUA. Quando lembramos que Kirsten Dunst foi Mary Jane nos primeiros "Homem-Aranha" ficamos assustados com a personalidade mais velha que assume aqui como Sra. Mitchell e a atriz com muita desenvoltura mostra que papeis mais sérios também caem bem para rostos bonitos, trabalhando sua dinâmica de uma forma bem encorajadora e interessante de ver. E para finalizar, temos de apenas pontuar a rápida participação de Mahershala Ali que assim como Janelle também entra nas competições torcendo por dois filmes, já que aqui faz o Coronel Jim Johnson e em "Moonlight" está como Juan.
A equipe de arte foi perfeita nas escolhas de boas locações para junto de muita criação ficarem incríveis para mostrar tanto as áreas separadas para cada tipo de cor, quanto os lugares aonde faziam as naves com quase tecnologia nenhuma, numa grande engenharia física, quase sem nenhum aparato tecnológico. Além disso também tivemos os ótimos elementos cênicos para representar bem a segregação racial, como a cafeteira, as salas diferenciadas, e até mesmo o figurino foi bem trabalhado dentro de condições que objetivassem o racismo que as mulheres negras sofriam na época. Como disse no começo, a boa conexão das filmagens com as imagens reais ficaram incríveis de ver, pois a equipe usou um tom de sépia bem trabalhado que ao ir mudando as nuances íamos do real para a ficção em questão de segundos, criando um filme bem condensado, mas cheio de representatividade.
No conceito musical da trama juntar um cantor pop, que é produtor do filme e que claro faria de tudo para seu filme ficar perfeito, com um dos astros das trilhas sonoras de filmes não tinha como dar errado, e não deu, pois Pharrell Williams e Hans Zimmer criaram novas canções, usaram antigas, incorporaram boa sonoridade e o resultado flui delicioso de escutar, caindo certo como uma luva, e claro que deixo aqui o link para todos ouvirem.
Enfim, um filme que mostra situações duras, mas que acabou fluindo bem leve pelas mãos de um diretor jovem e que gosta de trabalhar de forma clara, ou seja, um longa que pode ser recomendado para todos, e deve agradar, emocionar e servir para discutir diversos assuntos polêmicos. Sendo assim, mais do que indico ele para todos, pois com 3 indicações ao Oscar, acaba sendo quase algo que todos querem ver e devem. Fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até breve.
PS: Só não dou uma nota melhor pelo filme exagerar em algumas situações que sabemos que existiu de racismo e tudo mais, mas que poderiam ser menos polemizadas, ao menos nesse filme.
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