Existem alguns longas que conseguem manter nossa atenção mesmo quando a ideia completa é um pouco confusa, e filmes que trabalham TDI (Transtorno Dissociativo de Identidade) é daqueles que o diretor pode brincar com o que quiser que irá envolver o público com toda a situação e ainda deixar a pulga atrás da orelha para caso deseje continuar com mais filmes. E com "Fragmentado", o diretor M. Night Shyamalan volta às suas origens para trabalhar o suspense de maneira eficaz e pertinente para que sua história seja contada de forma trabalhada, sem dar muitas pistas até criar toda a tensão condizente para contar tudo o que deve ser mostrado, mas claro, sem quebrar a intensão maior e se possível deixar aberturas prontas para novos desenvolvimentos. O longa em si é complexo por não entregar facilmente as diversas personalidades de Kevin, mas se prestada a devida atenção você já lá pela metade consegue saber quem está na frente da câmera (ou no controle da luz como o filme tanto fala) e com isso até vai se conectando melhor com cada uma das personalidades, mas claro que dentro do contexto de psicopatia, sabemos que nem todos no longa sobreviverão, e só ficamos esperando para ver quem (ou se alguém) vai sobrar até o final da trama. Ou seja, um longa do melhor nível possível, que tem uma desenvoltura bem trabalhada e que certamente irá prender sua atenção, e que vale muito a pena conferir, afinal é Shyamalan voltando a ser o diretor que tanto gostamos de ver, e que mesmo tendo alguns erros leves, ou melhor, cenas desnecessárias, acaba fechando da forma mais incrível possível.
O longa nos conta que Kevin possui 23 personalidades distintas e consegue alterná-las quimicamente em seu organismo apenas com a força do pensamento. Um dia, ele sequestra três adolescentes que encontra em um estacionamento. Vivendo em cativeiro, elas passam a conhecer as diferentes facetas de Kevin e precisam encontrar algum meio de escapar.
Podemos até dizer que não é o melhor de Shyamalan nas telonas, pois ele não ficou preso somente no protagonista e suas diversas histórias (que daria só ali para fazer 23 filmes diferentes), mas sim quis incorporar um motivo para com a jovem sequestrada ter também uma personalidade estranha diferente das demais meninas (sim, o longa se perde um pouco aí), mesmo que bem contado todo o trauma que ela já viveu, mas acaba sendo digamos um pouco desnecessário com um protagonista tão bom do outro lado que dentro do roteiro poderia fazer muito mais em cena, do que ficarmos com uma leve peninha da garota. Tirando esse detalhe, o roteiro é tão incrível que faz com que o público fique inquieto tentando saber para onde o longa vai, e claro que no melhor estilo do diretor, ele vai fazendo pequenas quebras para não entregar logo de cara, e nem dar pistas fáceis de onde quer chegar, o que acaba sendo bem gostoso de acompanhar. Ou seja, um filme livre, que não força a barra para ser um terror pesado, ou daqueles suspenses que traumatizam de agonia quem for conferir, mas que consegue eximir o conjunto boa história, que bem contada acaba chamando atenção por si só, sem necessitar de efeitos, sustos, ou até mesmo apelações.
Dentro do conceito da atuação no longa não tem como não aplaudirmos de pé o trabalho de James McAvoy, pois acabamos não conhecendo muito de seu Kevin, mas sim das suas múltiplas personalidades conseguimos ver detalhes que o ator conseguiu mudar entonação, expressão, trejeitos e até as características mais básicas de uma ou outra personalidade, falando com outro ator em cena, na nossa frente sem praticamente nenhum truque, ou seja, um trabalho memorável que mostra o quanto esse jovem ator é bom e vai explodir muito em breve, isso se já não usarem essa interpretação toda para lhe dar algum prêmio, pois mereceu demais. Inicialmente achamos que Betty Buckley não seria tão importante com sua Dra. Fletcher, mas com o desenrolar da trama, vimos que ela vai nos incorporando e trabalhando tão bem no desenvolvimento das múltiplas personalidades de Kevin, que talvez sem ela não conseguiríamos aprender sobre tudo, ou seja, a atriz mais do que uma boa interpretação, fez também uma boa conexão para com o filme e os espectadores, saindo melhor do que a encomenda. Anya Taylor-Joy já havia mostrado uma expressão marcante no filme "A Bruxa", com um olhar duro e impactante, e aqui sua Casey é tão fixa que chega a incomodar, mas claro que de uma boa forma, pois a atriz não deixou o temor lhe prender (e isso é mostrado o motivo, numa trama paralela que já disse que não seria tão necessária para a trama completa) e foi a fundo se conectando com as personalidades e até desenvolvendo algumas que o protagonista pode mostrar mais, ou seja, agradou de certa forma. Pode até ser um pouco de spoiler o que vou dizer, mas acabamos torcendo para que Haley Lu Richardson e Jessica Sula tenham suas personagens Claire e Marcia mortas o mais rápido possível, pois são muito chatas, e mesmo Jessica trabalhando algumas expressões bem divertidas no jantar, o restante do tempo acaba soando a tradicional garota aflita que faz besteira em filmes de terror. Já que a trama paralela foi usada, Izzie Coffey fez uma jovem Casey muito graciosa e interessante de acompanhar, agradando na medida certa, e Brad William Henke também foi bem canalha como tio John, adequando a personalidade de tal forma que acabamos odiando ele. Dos demais atores, a maioria é mero enfeite, mas a aparição final, deixou um gostinho de quero mais para a continuação, e veremos o que irá rolar em 2020 segundo informações.
A equipe de arte foi bem singela na concepção do cativeiro/casa de Kevin para que os elementos caíssem bem no quarto das garotas, no quarto de Hedwig, na cozinha com poucos mas detalhados objetos para funcionar as personalidades do protagonista, o quartinho do computador bem simples, mas colocado para simbolizar e dar a deixa para a garota, os pequenos cubículos onde são colocadas as pessoas de mal comportamento funcionando com referência à tudo que vamos aprendendo no longa, e claro o consultório da psiquiatra cheio de referências à outros casos de múltiplas personalidades, recaindo bem cada momento e agradando em cheio com o fechamento bem colocado. A equipe de maquiagem também deve ter o seu mérito para trabalhar o figurino e os detalhes nas expressões de Kevin. E claro que a fotografia usando de luzes pontuais clássicas dos filmes de Shyamalan deram um tom incrível para que a produção ficasse tensa e bem colocada no ar misto de suspense com um leve toque de terror bem feito.
Enfim, um filme excelente que vale a pena ser conferido tanto pelos fãs de longas de suspense/terror, como para quem não gosta desse estilo, pois ele acaba funcionando bem para conquistar novos públicos para o gênero, afinal com nuances cativantes e bem colocadas, o resultado acaba chamando muita atenção para conhecimento de pessoas e só por isso já vai valer a conferida. Portanto fica a dica para conferir e se divertir vendo um bom filme do gênero mais interessante que temos atualmente. Bem é isso pessoal, fico por aqui nessa semana curta, mas volto na próxima quinta com mais estreias, então abraços e até lá.
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