Já ouviram aquela frase que dizem em bingo quando alguém ganha um prêmio bom na cinquina e depois ganha na cartela cheia e daí falam que a pessoa não merece ganhar os dois prêmios? Ou então quando alguém que a família possui muito dinheiro mas entra em uma faculdade por sistema de cotas e também dizem que não poderia acontecer? Pois bem, posso estar um pouco equivocado (e com um pouco de raiva também) em estar usando essas duas teorias para representar o prêmio de "Moonlight - Sob a Luz do Luar" como melhor filme do Oscar 2017, pois não vejo outra opção, já que sim o filme é bonito, possui uma temática bem trabalhada, os atores até se saem bem, mas é um filme tão esquecível, que certamente ninguém nem vai lembrar de ter assistido ele em minutos após sair da sessão, pois é um filme singelo demais que vai atingir somente quem já sofreu qualquer tipo de discriminação mostrado no filme, e assim se identificar com o jovem em suas fases, pois os demais vão ver e será totalmente impossível qualquer conexão. Volto a frisar que não é um filme ruim, ou que possua erros para crucificar suas indicações, mas no máximo melhor roteiro adaptado e olhá lá para não deixar o filme sem nenhuma premiação, pois qualquer outro, volto ao que falei no começo do texto e não vai ter quem tire isso da minha cabeça. Ou seja, vá conferir pela curiosidade de saber o que é o filme ganhador de tantos prêmios, mas leve junto um café, ou compre uma pipoca boa para comer durante toda a projeção, pois sem isso, a chance de uma leve dormida é alta.
A sinopse do filme é tão simples quanto ele e nos fala que o longa mostra três momentos da vida de Chiron, um jovem negro morador de uma comunidade pobre de Miami. Do bullying na infância, passando pela crise de identidade da adolescência e a tentação do universo do crime e das drogas, este é um poético estudo de personagem.
Desabafo feito sobre as premiações, vamos à analise do filme sem pensarmos no que aconteceu, pois o trabalho feito por Barry Jenkins é algo que vale a pena ser analisado, afinal como a sinopse finaliza, a trama é um estudo poético que quem gosta desse estilo poderá aproveitar bem para diversas análises do ser humano como um todo, do estilo de preconceitos que ocorrem no mundo moderno, e da descoberta das coisas pelos jovens. Claro que para isso ser feito, mais do que assistir ao filme, a pessoa necessitará estudar mais ambientes e se conectar melhor com a proposta, pois quem não se enquadrar em qualquer uma das fases mostradas no longa, vai acreditar estar vendo somente mais algo comum sendo mostrado, pois tudo o que vemos no filme ocorre aos montes por aí e alguns vão ligar, se incomodar com o que vê, enquanto outros vão apenas mudar de canal ou de rua ou até mesmo passar do lado e fingir que nem estão vendo o que está acontecendo, ou seja, é algo que até impacta de certa forma por fazer com que quem esteja vendo o filme se ligue mais em todas essas vertentes, mas com isso a trama acaba soando forçada (quase uma obrigação ficar vendo tudo o que é passado, não fluindo como algo trabalhado para mostrar) e cansa quem não for pronto para querer ver tudo aquilo, e assim sendo, o resultado soa morno demais dentro da proposta fictícia. O roteiro que é adaptado de uma peça, foi bem desenvolvido, mas tenho certeza convicta que na peça cada momento é visceral, o que aqui foi apenas enrolado.
É engraçado falarmos sobre as atuações do longa, pois esse ano as indicações à prêmios se basearam quase que em participações, pois quando vi a quantidade de prêmios que Mahershala Ali levou como coadjuvante, certamente esperava ver algo memorável seu na tela, e praticamente temos quatro cenas sua numa toada até que paternal de seu Juan para com Chiron, que até é bonita de se ver, o ator fez bons trejeitos rápidos, mas nada de mais para surpreender, e como o protagonista na fase adulta até lembra um pouco ele (numa tentativa de mostrar a influência que teve para com o garoto), até pensei que tivessem usado o mesmo ator duas vezes, mas não, é outro ator, ou seja, se ele apareceu em tela 20 minutos no total foi muito para que valesse tantos prêmios, mas nesse tempo a essência foi bem passada pelo ator, então vamos torcer para que com os prêmios ele ganhe papeis melhores. O protagonista Chiron foi interpretado por três bons atores, e todos mantiveram demais a essência de falar o mínimo necessário, olhares profundos e claro se desenvolver bem introspectivamente, mas infelizmente nenhum chamou a responsabilidade de destaque para si, e todas as cenas ficaram tão semelhantes que sempre ficamos na torcida de algo a mais surgir dentre eles, acredito também que pelo longa ser baseado em uma peça, no teatro quem fez certamente destruiu com o personagem, e aqui todos ficaram tentando chegar em algo próximo, sendo assim, Alex Hibbert, Ashton Sanders e Trevant Rhodes apenas ficaram no quase. Naomie Harris foi muito bem como Paula, a mãe do garoto, e a cada nova cena sua transvertia interpretações fortes e bem conectadas tanto do desespero pelo vício quanto pela loucura em si, mostrando uma desestabilização tão boa que a fez merecer demais a indicação aos prêmios. Kevin também foi interpretado por três atores, mas sem dúvida alguma o destaque completo ficou a cargo de André Holland em suas cenas finais, por mostrar bem o sentido da vida que o protagonista tanto busca, e seu amigo conseguiu encontrar nas coisas simples, mas no trabalho de olhares, a versão jovem feita por Jharrel Jerome teve bons momentos. Como Janelle Monáe anda gostando de atuar, e sua Teresa embora apareça pouco (acredito que na peça e até mesmo no longa tenha sido gravado mais cenas suas), conseguiu chamar atenção pela boa dinâmica e até poderia ter feito mais para tudo o que é apenas falado dela, mas como o longa não era sobre sua personagem, até que mostrou um bom serviço.
Sobre o contexto visual da trama, é fato a velha frase que do habitat surgem as oportunidades da vida e que dificilmente você consegue sair 100% dele, tanto que o ambiente marginalizado que o jovem vive, vai dizer quais rumos tomar, mesmo que em determinados momentos até vemos uma pontinha de fuga, mas não rola, e o diretor de arte trabalhou as locações simples de forma a dar um certo brilho interessante de forma que cada ato não fosse tão necessário o contexto em si, mas não tem jeito, e volto a frisar, é um filme embasado em uma peça, então os diálogos e interpretações vão sempre sobrepor qualquer tentativa de termos um ambiente mais trabalhado, então apenas denotações do figurino acabam chamando um pouco da atenção. Sobre a fotografia que também acabou sendo indicada, o resultado de sombras bem colocadas com um ar noturno bem encaixado foi simples, mas mostrado com eficiência, não diria que é algo perfeito e que poderia muito ser melhorado, mas agrada.
Enfim, é um filme bem feito e interessante, mas que parece ter muito mais que os 111 minutos, é alongado e cansa quem não estiver bem disposto ao estilo que mostra, e posso até estar pegando muito no pé do longa, mas está longe demais de ser o melhor filme. Portanto, sei que a curiosidade vai atiçar todos pelas indicações e prêmios, mas vá sabendo que é um longa diferente e bem mais artístico do que comercial, então se você não gosta de filmes com nuances mais pensativas, fuja, mas senão vá e confira, pois daqui a pouco esqueceremos até que o longa passou, só sendo lembrado quando chega a época das premiações e vemos quem ganhou em anos anteriores. Bem é isso pessoal, fico por aqui encerrando a semana cinematográfica, que até teve mais essa boa surpresa que apareceu do nada no interior, e volto na próxima quinta, então abraços e até lá.
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