Trabalhar a fé no Cristianismo num país aonde poucos acreditam e junto com isso testar a própria fé é algo que nunca será fácil de mostrar em um longa, mas que diversos diretores irão tentar e que irão nos cansar com isso sempre acontecerá. Digo isso pois "Silêncio" é um filme muito bem feito, que prega bem a ideologia dos jesuítas de implantar sua língua e sua fé em diversos povos, mas que para isso abusou de cenas lentas e cansativas para incorporar a ideia de que Deus escreve certo por linhas tortas como diz o ditado e que nem sempre iremos escutar suas respostas para nossas perguntas, mas sim ouvindo o silêncio que ele nos deixa como mensagem teremos de tirar algo dali. Ou seja, Scorsese foi bem categórico no estilo que desejava seguir e conseguiu fazer bem o seu longa, mas para isso abusa da boa vontade dos espectadores em não dormir nas quase 3 longuíssimas horas de duração de uma trama lenta e cansativa, aonde os atores até saem muito bem, mas que não conseguem segurar toda a responsabilidade que a trama exigia.
O longa nos situa no século XVII. Dois padres jesuítas portugueses, Sebastião Rodrigues e Francisco Garupe, viajam até o Japão em uma época onde o catolicismo foi banido. À procura do mentor deles, padre Ferreira os jesuítas enfrentam a violência e perseguição de um governo que deseja expurgar todas as influências externas.
É fácil observar o estilo que o diretor e roteirista Martin Scorsese quis trabalhar com o livro de Shûsaku Endô, o qual disse ter se inspirado em "A Estrada da Vida", de Federico Fellini, para conceber a história, sobretudo no que diz respeito ao personagem Kichijiro, pois cada cena que o diretor vai trabalhando vemos boas nuances e um bom domínio da mão precisa que se necessita em filmes mais históricos, mas longe de vermos algo mais dinâmico e bem trabalhado dentro do contexto que é sua marca, aqui o diretor priorizou mais a estética, e com isso temos um filme duro de assistir, que causará muito sono nos espectadores menos devotos de alguma fé/religião e que irá precisar de paciência para aguentar todo silêncio que a trama resulta nas cenas alongadas e intrigantes que se envolvem na força do personagem de Garfield e nas diversas contradições pecaminosas que o personagem Kishijiro faz, ficando até engraçadas ao final pelo tanto de repetição. Ou seja, um filme bem marcado que vai fazer refletir, mas que poderia ser menor ou mais impactante para segurar o ânimo do espectador até o final, que é uma das características mais marcantes do cinema de Scorsese.
Quanto das atuações, chega a ser incrível o estilo que Andrew Garfield determina para seu Padre Rodrigues, pois assim como fez em "Até o Último Homem", ele jogou com sua fé, trabalhou de forma visceral nas cenas mais duras e demonstrou muita força de vontade para alcançar todas expressões marcantes em cada cena como protagonista, mostrando que vai ser daqueles atores que vão sempre mostrar serviço quando lhe entregarem bons papéis. Adam Driver aparece pouco como Padre Garupe, e faz bem seus momentos ao trabalhar uma personalidade mais dura, mas precisaria de mais tempo para impactar realmente. O mesmo posso dizer de Liam Neeson como Padre Ferreira, pois teve de perder 9 kilos para o papel e acabou aparecendo tão pouco que não conseguiu impactar como deveria, não que tenha saído ruim, mas poderia chamar muito mais atenção com toda a capacidade interpretativa que tem e com um papel que teria de tudo para chamar atenção. Tadanobu Asano saiu muito bem como Intérprete, e ao mesmo tempo que fez bons trejeitos, também acabou tocando o terror com sua forma mais rígida de falar. Yôsuke Kubozuka como Kichijiro foi bem colocado, mas precisava ser menos repetitivo nas situações para agradar mais, tanto que a cada nova aparição já sabíamos o que ele iria falar, e isso não é algo bom para um ator. Issei Ogata fez o Inquisidor Inoue com uma precisão quase cirúrgica, trabalhando vertentes bem colocadas com as dinâmicas, chamando atenção sem forçar a barra, mas se fosse ainda mais irônico agradaria mais ainda.
Quanto do visual da obra, o resultado ficou bem dramático e seguro do que desejavam mostrar, ousando pouco, mas sem deixar nada passar em branco, com cenas de decapitação, crucificação, reclusão em prisões e casebres e tudo mais que desejassem mostrar, trabalhando bem os diversos elementos cênicos da trama para que cada ato fosse representativo. Outro ponto incrível de ver ficou a cargo da equipe de fotografia, que ousando bastante com muita fumaça branca contrapondo com cenários sujos e marrons em sua maioria acabaram criando nuances incríveis de se ver que acabaram chamando atenção de detalhes que num filme mais movimentado acabariam imperceptíveis, mas aqui com toda a lentidão e bom trabalho da fotografia ficaram completamente nítidos.
Enfim, um filme muito bem trabalhado, com uma ousada historia bem contada, mas que poderia ser bem mais dinâmico para agradar mais, mas como optaram pela lentidão, o resultado até soa bem, mesmo que não agrade tantos quanto poderiam. Sendo assim até recomendo o filme para quem gosta de boas obras artísticas, mas vá sabendo que as quase 3 horas soam bem maiores na lentidão mostrada nessa trama. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto mais tarde com o outro filme que verei hoje, então abraços e até breve.
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