Filmes que mostram relações familiares e incluem bons atores sempre funcionam bem, foi assim com "Álbum de Família" e agora com "Um Limite Entre Nós" não seria diferente. Claro que a proposta e estilo de trabalho aqui é bem diferente, mas a essência em si é bem semelhante e acaba comovendo pelo bom e tradicional diálogo. Mas aqui embora o longa seja bem interessante, temos um problema imenso, o longa é uma peça transportada para o cinema, e como sabemos num teatro não temos dinâmica de cenários e ações para acontecer, então os atores necessitam ganhar o público somente com diálogos e nada mais, mas num cinema exigimos um pouco mais do que isso para ficarmos entretidos durante 139 minutos, e o longa não nos entrega nada mais do que diálogos entre os personagens, mudando uma ou outra locação e apenas isso, de forma que acabamos até cansando no miolo da trama com o tanto que ouvimos os personagens conversarem entre si. Não digo que tenham errado na forma de adaptar o longa, mas poderiam ter criado mais dinâmicas e situações, por exemplo indo para o bar como ocorre nas últimas cenas, ou indo para a igreja, como também ocorre mais para o fim, ou até mesmo mais cenas fora das cercas, abrindo um limite maior que não fosse a casa, que aí sim teríamos um longa espetacular.
O longa nos situa nos anos 1950, aonde Troy Maxson tem 53 anos e mora com a esposa, Rose, e o filho mais novo, Cory. Ele trabalha recolhendo lixo das ruas e batalha na empresa para que consiga migrar para o posto de motorista do caminhão de lixo. Troy sente um profundo rancor por não ter conseguido se tornar jogador profissional de baseball, devido à cor de sua pele, e por causa disto não quer que o filho siga como esportista. Isto faz com que o jovem bata de frente com o pai, já que um recrutador está prestes a ser enviado para observá-lo em jogos de futebol americano.
O filme é baseado na peça escrita pelo autor americano August Wilson, e a história já havia sido interpretada no teatro pelos mesmos atores, que em 2010 ganharam o Tony Awards de Melhor Atuação. E como disse no teatro tenho certeza que a peça funcionou demais, que todos aplaudiram e se comoveram com o que viram, mas na adaptação, Denzel Washington que assina a direção precisaria ter criado algo a mais para que o filme fluísse melhor e não ficasse dependente somente das atuações deles. Não digo em momento algum que sua direção tenha sido falha, pois vemos ótimas nuances pontuais que só bons diretores de interpretação conseguem retirar de seus atores, mas faltou um diretor de cena que desejasse ver mais ambiente, e abrisse a vertente do limite não ser apenas ali fechado entre uma cerca e uma casa, num quintal pequeno que não temos quase nada para trabalhar, mas sim em uma cidade inteira, que conheceríamos Alberta, conheceríamos mais dos problemas de trabalho do protagonista, veríamos o bar funcionando a pleno vapor e tudo mais, e não apenas uma situação fechada. Mas volto a frisar, que tirando esse detalhe é um filme incrível e que empolga principalmente após Viola decidir virar a atriz que sabemos que é, e atacar com todas as forças em sua defesa como a mulher que é.
Continuando a falar das atuações, é fato que Viola Davis mereceu demais todos os prêmios que levou pelo longa, pela peça e por tudo mais, pois sua Rose é esplêndida, na medida certa para cada ato e ainda conseguiu transmitir a sensação que o filme tanto pontua, de uma mulher que é parceira sim do marido, mas que não se cala quando vai defender um filho, e muito menos quando é desapontada, ou seja, deu um show. Da mesma forma, talvez Denzel devesse ter deixado algum outro bom diretor assumir o comando completo do longa e ter feito somente seu Troy, pois ele foi fenomenal na interpretação, trabalhou bem como sempre faz e com nuances incríveis empostando voz, fazendo olhares e dinâmicas incríveis agradou demais em todos os momentos. Temos de pontuar também a ótima interpretação de Mykelti Williamson com seu perfeito Gabe, que aparece em três ou quatro cenas apenas, mas dá um show literalmente com sua forma dinâmica. Jovan Adepo também fez boas cenas como Cory, encarando a dura realidade de enfrentar de frente Denzel, e não decepcionou em momento algum, ou melhor, poderia ter feito menos cara de piedade. Outro que fez boas cenas, mas quase como um acessório de palco inicialmente foi Stephen Henderson com seu Bono, mas com bons textos e uma entonação gostosa de ouvir, o resultado acabou fluindo bem.
Volto a bater na tecla de ser uma peça, então no conceito cênico a trama ficou um pouco a desejar, mesmo que conseguiram recriar uma cidade bem característica dos anos 50, uma casa bem simples mas montada nos mínimos detalhes e um quintal bagunçado mas pronto para receber a tradicional cerca que é o nome original do filme, porém como já frisei, faltou trabalhar melhor a cenografia para que não deixasse toda responsabilidade nas mãos dos atores, não que eles não fossem capazes disso, mas como longa mesmo acabou faltando o cenário também falar mais do que o drama em si. A fotografia também ficou bem crua, deixando tudo meio sujo para dar um ar de época, e sem muitas nuances acabou ficando simples demais, tirando claro o grande fechamento, que aí sim deram um show.
Enfim, é um ótimo filme que mereceu todas as indicações e premiações que levou, mas se muitos gostam de filmes com diálogos, quem for do estilo desse Coelho que prefere uma produção mais trabalhada no desenvolvimento completo entre cenários, atores e história, acabará ficando um pouco desapontado, e talvez até o momento da reviravolta completa acabará ficando até com sono. Bem é isso pessoal, recomendo o filme com certeza, mas deixo de sobreaviso que é um filme falado demais pro meu gosto, ainda que isso mostre o poder da atuação versus grandes produções. Fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dois longas que estrearam no interior, então abraços e até mais.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...