O estilo de filmes de crescimento pessoal para passar por algum transtorno aprendendo a lidar com ele e mudando sua personalidade é daqueles que ou você gosta, ou o diretor precisa ter uma mão incrível para conseguir derrubar o espectador e fazer com que ele adentre à toda simbologia do filme e consiga refletir ao mesmo tempo que assiste. Digo isso não por "Sete Minutos Depois Da Meia-Noite" ser um longa difícil, mas a pegada da trama é densa e bem mais profunda do que um simples filmezinho de sessão da tarde que trabalha monstros, animações e um drama duro, mas tradicional, e que quem ver o pôster talvez pode até falar que não vai trazer nada para refletir um longa desse estilo, ou seja, ledo engano completo, pois o diretor trabalhou tanto as perspectivas da trama que em cada uma das quatro histórias que temos, podemos refletir junto com o garoto não só a sina dele, mas sim a nossa do dia a dia conforme desejamos (ou ansiamos) por mudanças ao nosso redor sem mudarmos antes nós mesmos, ou seja, um filme que bem trabalhado pode ser incrível numa sessão mais reflexiva, e que só pecou em um detalhe, a falta de uma comoção maior, pois se ele apelasse para as lágrimas, o longa seria devastador e incrível, mas mesmo com essa falta, ainda vale muito uma conferida.
A sinopse do longa nos conta que Conor é um garoto de 13 anos de idade, com muitos problemas na vida. Seu pai é muito ausente, a mãe sofre um um câncer em fase terminal, a avó é uma megera, e ele é maltratado na escola pelos colegas. No entanto, todas as noites Conor tem o mesmo sonho, com uma gigantesca árvore que decide contar histórias para ele, em troca de escutar as histórias do garoto. Embora as conversas com a árvore tenham consequências negativas na vida real, elas ajudam Conor a escapar das dificuldades através do mundo da fantasia.
É fato que o diretor J.A. Bayona tem um estilo próprio de pegar dramas e esmiuçar eles de forma que fiquem bem duros, mas se em "O Impossível", ele apelou para algo mais crível e seco, fazendo com que o público se desesperasse com cada cena, aqui ele deixou que o público ficasse mais reflexivo com as situações deixando um âmbito mais aberto e leve para que cada situação fosse determinante e não condizente com uma verdade absoluta, tanto que ao final do longa você poderá tirar diversas conclusões do que ou quem era a árvore, como que ele chegou àquele ponto, ou até mesmo da sinestesia da dor pessoal, e mesmo que o filme não seja tão leve, o resultado acaba soando bem mágico com o trabalho artístico que acabou desenvolvendo em cima do roteiro de Patrick Ness (que inclusive é o autor do livro de mesmo nome), pois ele poderia facilmente ter trabalhado com uma computação gráfica impressionante, mas ousou ao colocar muitas cenas em stop-motion, detalhar os personagens fictícios e tudo mais, o que acabou criando um clima mais denso para a produção, mesmo que o tom original seja infantilizado. Não digo que ele tenha errado ao fazer essas escolhas, pois o filme ficou bem colocado dentro da proposta, mas ele poderia ter atirado mais para um dos dois vértices, pois se infantilizasse de vez, o longa trabalharia toda a mensagem e seria bonitinho, enquanto se colocasse a faca nos olhos do público, a dor completa da trama faria com que todos lavassem os cinemas, enquanto ficando em cima do muro não ousou em nada.
Dentro das atuações podemos dizer logo de cara que o garotinho Lewis MacDougall sabe interpretar bem o texto, e foi bem dirigido para que seu Conor tivesse o tom certo de agressividade na dinâmica vocal, mas expressivamente seus olhares, caras e bocas e tudo mais não condiziam com o que estava fazendo em cena, ficando estranho demais diversas vezes, não digo que tenha falhado, pois num trabalho de conjunto o resultado soa bem feito, mas certamente um ator mais expressivo agradaria bem mais no papel. Já somente se expressando por captura de movimentos faciais, e dando sua voz imponente Liam Neeson chegou com tudo como o Monstro, botando imposições fortes que a equipe de efeitos soube dosar e criar com muita perspectiva cada movimento da árvore, obtendo o melhor resultado possível em cada cena. Felicity Jones é daquelas atrizes que sabem se expressar com exatidão, e em todas as poucas cenas como a mãe, a atriz foi precisa e criou situações, o que é raro de se ver em papeis "secundários", digo isso, pois o papel da mãe é algo de apoio apenas no longa, não tendo cenas para a atriz declamar seus diálogos e dar nuances para a personagem, e o que fez foi tão bom que merecia até mais cenas. Sigourney Weaver também quase faz uma participação especial no longa como a avó, pois aparece somente em três a quatro cenas e não mostra nem um décimo de seu potencial expressivo, o que é uma pena, pois a atriz só na última cena, já mostrou que daria um baile no garotinho se estivesse em mais momentos. Agora se falei que as duas atrizes não fizeram quase nada, nem posso falar que Toby Kebbell esteve no longa como o pai do garoto, pois enfeite cênico apareceu mais que o ator com toda certeza, sendo apenas um nome caro na produção. Embora apareça pouco, a estreia de James Melville ficou interessante de ser vista como Harry, pois o ator soube se impor nas cenas e mostrar força expressiva maior até que a do protagonista, claro que pudesse soar até estranho demais o estilo de olhares entre eles, caindo para algo que não estava dentro da perspectiva da trama, mas de certo modo agradou mais do que errou.
A equipe de arte pode ser parabenizada sem precedentes, pois o ar de fantasia que a trama conseguiu ter sem perder o ar dramático tenso é algo que poucos longas conseguem trabalhar, ainda mais se levarmos em consideração todo o trabalho de se utilizar três ou quatro estilos de filmagens em um único filme. Destaque claro para os diversos momentos em stop-motion com o monstro, que aliado claro à boas técnicas computacionais, acabaram criando vertentes incríveis junto do live-action, ou seja, um trabalho minucioso e bem chato de se fazer, que acabou resultando em algo bem pautado e cheio de detalhes que certamente emocionou a equipe quando viu o resultado final. Junte a isso, um trabalho imenso de detalhes em objetos cênicos na casa da avó, e até mesmo na casa do protagonista, colocando muitos desenhos a mão para serem feitos e detalhados. Incorpore ainda as animações 2D com misto em rotoscopia que ficaram estranhas a princípio, mas que depois vão criando vertentes e ficando muito bem colocadas no longa. Ou seja, um trabalho que merecia ter sido mais premiado, pois ficou muito bem feito, e que junto de uma direção de fotografia primorosa em detalhes escuros, unindo cenas em chuva, sombras para todo lado e muito detalhamento artístico, fizeram com que o âmbito visual do longa incorporasse até mais do que a história em si.
Enfim, um filme muito bem trabalhado em detalhes, que talvez com uma melhor atuação e uma direção mais decisiva resultasse num filme que seria aplaudido em todas as premiações possíveis e ainda marcaria a vida de muitos, mas que por pecar nesses pontos mínimos, acaba sendo apenas um filme bem bacana que vale a pena ser visto mais como algo para se refletir apenas. Claro que recomendo ele mesmo assim, pois como disse vale o ingresso, mas esperava algo bem maior dele. Bem é isso pessoal, finalizo minha semana cinematográfica aqui, mas volto na próxima sexta com mais estreias, então abraços e até lá.
2 comentários:
O enredo tem por metodologia o uso de uma fantasia para tratar da tristeza. Eu chorei com 7 Minutos Depois da Meia Noite filme, é um dos melhores do gênero de drama que estreou o ano passado. É impossível não se deixar levar pelo ritmo da historia. Adorei saber sobre o grande elenco do filme, quem fez possível a empatia com os seus personagens em cada uma das situações. Sem dúvida a veria novamente.
Olá Emma, é interessante né como um filme consegue mexer com os sentimentos das pessoas, e aqui esse é daqueles que se a pessoa estiver um pouquinho triste desaba, como vi na sala. Sem dúvida o elenco é incrível e poderiam ter usado até mais da Sigourney para o filme ficar ainda melhor!! Abraços!
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