Como vemos muitos filmes, sempre somos colocados à prova por algum que sequer vimos o trailer e nem lemos sua sinopse antes de ir ao cinema, e geralmente a surpresa por conta disso é grande quando vemos um filme com um teor tão usual no Brasil acontecendo de forma igual (ao menos de modo fictício) fora daqui, pois aqui estamos acostumados com "vai lá na loja do primo do meu amigo, e fala que você é conhecido da irmã da dona Maria, que certamente vão lhe dar um brinde", ou melhor dizendo, o famoso QI (quem indicou), e não ouvimos falar tanto disso lá fora, ainda mais no meio de negócios mais politizados, e sendo assim, quando um diretor nos permeia com a ideia de "Norman: Confie em Mim", ou como o título original diz, "Norman, A Ascensão Moderada e a Trágica Queda de um Estrategista Nova Iorquino" ficamos até assustados um pouco com a forma que tudo flui, trabalhando bem as ligações, e quase se perdendo com quem vai dar o que para quem, ou quem está sendo usado por quem, de tal maneira que tudo acaba se embolando. Porém no meio dessa bagunça, o resultado todo é bem positivo tanto para a atuação/interpretação de Richard Gere, quanto para o estilo proposto pela trama, pois poderia recair tanto para o dramalhão, quanto ficar como uma comédia abstrata, e ao trabalhar bem dentro do campo de negócios, ficamos apenas como um exercício dialogado, aonde a estética poderia ser de qualquer diretor amalucado, e a interpretação também, mas ao final sabemos para onde tudo vai se resultar e é fechado como se nada fosse mais do que um filmes simples. Você que leu até aqui deve achar que o Coelho ficou maluco, mas a onda que o filme entrega é bem maluca mesmo, mas certamente quem for do meio de negócios irá se conectar bem com o que é passado, e mais do que isso, de uma forma completamente artística que poucos longas se arriscaram a trabalhar, ou seja, algo divertido e que vale o ingresso.
O longa nos mostra que Norman Oppenheimer é o dono de um pequeno negócio. Ele faz amizade com um jovem político em um período complicado da vida. Porém, três anos depois, o político torna-se um influente líder mundial, transformando drasticamente a vida de Norman tanto positivamente quanto negativamente.
O trabalho que o diretor e roteirista Joseph Cedar fez é algo que pode ser visto sob diversas nuances, pois podemos analisar a forma de contato de rede que o protagonista tanto mostra, incorporando sob uma ótica de consultorias (o que geralmente acontece hoje nas empresas, aonde um cara vai só para ir interligando sua grandiosas rede de contatos), mas também podemos usar do afinco usar alguém para crescer e lucrar em cima, e dessa forma com duas óticas diferentes, o longa também acaba sendo diferenciado, pois muitos podem gostar tanto do que Gere faz quanto o que Ashkenazi, ou até mesmo não torcer por nenhum dos vértices e ver no que dá, mas confesso que será algo bem difícil, pois a todo momento o diretor nos joga propensos para um dos lados, o que é bem interessante para se pensar, pois são raros os filmes que trabalham os dois vértices e acabam balançando o barco para os dois lados para o público fluir junto, afinal sempre escolhemos um e vamos com ele até o fim, mas aqui o trabalho é tão poetizado e desenvolvido que sequer conseguimos afeiçoar a nenhum, e ficando até com raiva disso. Ou seja, o diretor acabou brincando o tempo inteiro nessa mensagem dúbia e acertando em cheio quem costuma ficar na dúvida de que lado seguir em uma trama, não fluindo nem tanto para o lado cômico, nem apelando para o drama mais duro, e assim o resultado desse entremeio acaba chegando em forma de arte bem feita, que muitos até vão reclamar, mas certamente após entrar dentro da ideia completa irá gostar bastante.
Dentro das atuações, o fato marcante é o estilo clássico de Richard Gere dando um show básico com muita serenidade no olhar e pontuações claras na fala de seu Norman, de maneira que inicialmente achamos até um pouco forçado, mas conforme ele vai trabalhando o personagem, tudo acaba com um olhar tão crítico e sincero que não tem como não incorporar seus trejeitos e sair contente com o que nos é apresentado, ou seja, o ator mostrou que muito mais do que sua fama de galã que tantos falam por aí, ainda tem muita bala na agulha para queimar no estilo dominar a cena e chamar a responsabilidade para si, agradando do começo ao fim, sempre num tom sereno e bem determinado. Lior Ashkenazi não é um ator tão conhecido no molde hollywoodiano, mas trabalhou tão bem as nuances de seu Micha que não sentimos diferença alguma se fosse qualquer outro grande ator de renome, pois o jovem ator soube dosar a serenidade amistosa, com a sacanagem política por trás de trejeitos simples, e isso estamos tão bem acostumados a ver, que avaliamos o resultado em mais do que satisfatório. Dos demais personagens, a maioria está na trama para as diversas conexões, e tirando um ou outro defeitinho pontual, todos acabam agradando bem no que faz, de modo que é até um pouco estranho vermos Steve Buscemi e Hank Azaria fazendo papeis sérios, Michael Sheen apenas pontuando e por aí vai, mas como disse, ninguém atrapalha ao menos, mesmo soando estranho.
Dentro do contexto cênico, a produção foi gravada numa época bem fria em todos os capítulos (não comentei dentro do contexto do roteiro, mas ficar quebrando o longa por capítulos só serve para mostrar falta de conteúdo, e necessidade de explicação! Mas vou relevar aqui, pois até que foi feito de forma agradável!) e com isso todos os personagens usam roupas fortes e compridas, o que deixou o longa um pouco mais denso do que deveria, não estou dizendo que é errado, mas certamente teríamos um filme mais cômico caso trabalhassem menos um ar rígido que tiveram com o figurino. Além disso, escolheram cenários propícios para reuniões de grandes homens de negócios, presidentes e ministros, criando um contexto luxuoso para uma trama de baixo orçamento, o que resultou em um ar simples e com muitas câmeras fechadas para não ampliar muito algo que poderia dar erros de continuísmo, e assim sendo o ambiente cenográfico junto com os diversos elementos acabaram bem trabalhados, agradando dentro da medida possível, mas volto a frisar que poderiam ir muito além, pois o longa aceitaria. A fotografia da trama também soou bem leve, com tons mais frios para não adicionar comicidade demais, e com isso o longa em alguns momentos chega a ficar até dramático demais, o que certamente não era a intensão, porém salvo alguns errinhos de iluminação, o resultado agrada bastante.
Enfim, é um filme que soa bem e que diverte ao mesmo tempo que polemiza dentro do que é a proposta dele, mas poderia ter pegado bem mais pesado e criticado mais, ou ter jogado tudo para o alto colocando a comicidade em primeiro lugar, ou seja, em resumo ficou em cima do muro não atirando para nenhum dos dois lados. Recomendo o longa pela proposta em si, e pelas ótimas atuações, mas que poderia ser mais de tudo, poderia com toda certeza. Bem é isso pessoal, encerro aqui essa semana cinematográfica, mas logo mais começo a próxima que vem bem recheada também de estreias, então abraços e até breve.
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