Amor.com

6/02/2017 12:43:00 AM |

É interessante quando as produtoras nacionais decidem fazer um filme romanceado sem a necessidade de transformar em uma novela, pois pelo trailer de "Amor.com" já era esperado um filme com tom meloso, e que praticamente todo já tinha sido mostrado ali, mas ao conferir na sala do cinema, o resultado acaba agradável e gostoso de acompanhar, com boas nuances sobre o mundo blogger e também funcionando como um romance moderno bem colocado. Claro que possui alguns defeitinhos tradicionais, mas está bem longe de ser daqueles longas que a hora não passa e incomoda só de pensar na próxima cena, ou seja, é um filme feito tanto para quem gosta de bons romances quanto para quem trabalha na área de mídias sociais, pois as lições passadas pelo longa são bem mais voltadas para nós do que para qualquer outra pessoa comum da internet. Portanto é um filme nacional que vale a pena recomendar, mesmo que fuja completamente da proposta que muitos gostam de ver, que é a comédia nacional mais forçada.

O longa nos conta que Katrina é uma famosa blogueira de modas que dita tendências no mercado brasileiro através de seus populares vídeos na internet. Fernando, por sua vez, é um vlogueiro de um canal de videogames que ainda não é muito famoso, mas que já está fazendo certo sucesso. Quando os dois se conhecem, em uma situação complicada, acabam se apaixonando e o romance dos dois vira "febre" na internet, uma febre que eles vão precisar controlar, equilibrando o mundo real e o virtual.

Em sua estreia a frente da direção, Anita Barbosa mostra que aprendeu muito com os demais diretores que trabalhou como assistente, pois vemos nuances de praticamente todos os ótimos filmes que trabalhou ("Se Eu Fosse Você", "Divã", "S.O.S. Mulheres ao Mar", "Chico Xavier", "Assalto ao Banco Central", entre outros), seja na velocidade de uma ou outra cena, no posicionamento de câmeras, na grande sacada de não colocar trejeitos novelescos, ou até mesmo na forma comportamental dos coadjuvantes, pois estamos muito acostumados com romances/comédias românticas nacionais aonde trabalham tanto os personagens secundários com histórias paralelas que quando vemos um longa focado em poucos atores, aonde a dinâmica realmente ocorre entre eles, chega a ser impactante. Não digo também que tudo seja perfeito, pois temos momentos dispensáveis, uma ou outra cena aonde os protagonistas acabam exagerando em trejeitos, e também costumes usuais demais do mundo blogger que quem não for do meio pode até estranhar um pouco, mas nada disso acaba atrapalhando o principal ponto da trama, que é o ritmo, pois a trama rola tão rápida e fluída que impressiona de conteúdo passado, e mesmo que o trailer alongado mostre muito do filme (até demais se é que podemos opinar), ainda somos surpreendidos com outras boas cenas. Ou seja, um acerto grande tanto da direção pelo estilo escolhido, quanto do roteiro moderno e bem trabalhado nas situações usuais que vemos tanto por aí: blogueiros se vendendo por qualquer coisa e esquecendo de mostrar realmente sua opinião (aliás como não fui chamado para a pré do filme para blogueiros da cidade, o motivo pode ser esse que citei, ou não, mas acho que deveria abaixar a nota por isso... o que acham???).

Sobre as atuações, é fato que Isis Valverde é uma atriz carismática e que se adapta bem ao estilo de cada personagem, tanto que sua Katrina tanto em atitude quanto no jeito de falar, vestir, andar e tudo mais que vemos em praticamente todas as blogueiras de moda, de modo que nem sei se ela precisou fazer treinamento com qualquer uma, ou se apenas copiou as diversas da internet, mas é algo impressionante não lembrar de qualquer blogueira conhecida, porém se tenho de apontar um grande defeito dela, é que não deve ser colocada nunca para chorar, pois seu choro é falso e barulhento demais, chegando a incomodar, porém tirando esse detalhe, o restante foi bem divertido de ver. Gil Coelho é um ator da nova leva que vem chamando a atenção por ser dinâmico, ter um perfil que se enquadra em diversas produções e sabe dosar trejeitos cômicos, fazendo com que seu Fernando caísse como uma luva no formato que o longa precisava, ou seja, preciso e bem colocado, agradando do começo ao fim. Dos personagens secundários, somente temos de dar leves destaques para Carol Portes como a irmã Roberta que praticamente não chama atenção alguma, João Cortês com seu Panda cheio de ideias, mas que também não é quase utilizado e Joaquim Lopes como o dono da marca chique Guido que utiliza os serviços da blogueira, mas também tem poucas cenas para marcar. E como destaque negativo, fica o excessivo Marcos Mion como agente de blogueiros, que até sabemos que existem muitos desse estilo, mas não pelo feitio do personagem e sim por estar estranho como ator, parecendo meio jogado na produção.

Dentro do conceito visual a trama mostrou bem as locações do meio (claro que fora da internet), colocando festas badaladas de modelos, lançamentos de lojas, festas geek, barzinhos gourmet, casas clean/conceituais, quartos de nerds cheio de colecionáveis e videogames, ou seja, tudo bem trabalhado para mostrar bem a realidade, além claro de a equipe computacional editar o longa usando muitos símbolos do meio como curtidas, comentários, hackeamentos, etc, ou seja, um longa bem moderno visualmente que agrada e mostra uma equipe de arte antenada. Na fotografia, tentaram ousar criando um longa mais frio de iluminações, mostrando um pouco os "poucos" recursos que muitos blogueiros tem, tirando o super-aparato que a protagonista usa para filmar seus vídeos, e com isso o longa ficou um tom abaixo do que poderia ser para ganhar um tom mais divertido, ficando quase caído para drama, mas que não chega a ser errado também.

Enfim, é um bom longa, que agrada e passa boas mensagens, tem uma boa dinâmica e com um ritmo agradável acaba divertindo e passando de uma forma bem leve. Talvez pudesse ser mais puxado para o lado cômico, que sem apelações acabaria genial, mas mesmo trabalhando mais um lado "dramático" acaba bem desenvolvido e acerta no estilo que desejava. Como disse e pontuei alguns defeitos o longa acaba ficando bem longe da perfeição, mas ainda assim dá para recomendar para todos, principalmente por ser um exemplar nacional diferenciado sem apelos costumeiros do nosso estilo. Portanto, vá, curta e tire suas próprias conclusões, pois não é uma obra prima, mas também está bem longe de ser algo ruim. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas amanhã estou de volta com mais uma estreia, então abraços e até mais.

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