Alguns verão o longa "Coração e Alma" como algo triste, afinal mostra o fim da vida para alguém, poréns outros dirão que foi completamente motivador com a ideia de o fim da vida de alguém ser o recomeço da vida para outro alguém com a doação de um coração, mas principalmente, o que o longa acaba passando é uma mensagem de que independente das consequências, viva sua vida e doe-se para o outro, pois a sua alma vai sim passear mundo afora após sua morte, mas não poderá viver novamente sua vida. O longa é bem trabalhado em referências visuais, lirismo dos médicos com suas vidas e gostos, dinâmica de vidas dos protagonistas, e com isso consegue trabalhar bem tudo para que o público escolha sua forma de assisti-lo, porém com tanta coisa para poder ser vista, ele acaba alongado demais com coisas que não precisariam ser mostradas, e assim sendo talvez 20 minutos a menos de projeção resultaria num longa tão incrível quanto esse, e que empolgaria até mais, mantendo a mesma essência.
O longa nos mostra que três jovens saem para pegar umas ondas e ver o nascer do sol. No caminho de volta, eles sofrem um grave acidente. Um deles, Simon, é internado em estado grave. Depois de um período, sua morte cerebral é declarada e sua família decide que irá doar seus órgãos. Inicia-se, então, a jornada contra o tempo para transplantar o coração de Simon para uma moça em um hospital de Paris.
A diretora e roteirista Katell Quillévéré sempre opta por trabalhar temas mais contemporâneos e colocar pitadas de utilidade pública em seus longas, e aqui não foi diferente trabalhando com a ideia de que devemos discutir a doação de nossos órgãos enquanto vivos com familiares e amigos (no Brasil inclusive você pode pedir para colocar impresso no seu RG a sua opção), e de certa maneira ela não fez nada muito além disso, pois mesmo seu longa sendo bem bonito e trabalhando bem as emoções com o público, ela não investiu tanto nem nos garotos, nem nos médicos e muito menos na mulher do final com sua família, deixando que tudo tivesse um pouco de tela e que mesmo fluindo acabasse até enrolando um pouco para trabalhar a subjetividade de cada um, mostrando a paixão do garoto, a vida separada da família do garoto, os gostos e desencontros dos médicos do hospital, as mentiras da família da moça entre eles próprios, e até mesmo a leve paixão dela que soa bonita, mas jogada demais na trama, ou seja, faltou um pouco de tudo para que o longa engrenasse realmente, e esse erro se dá principalmente pelo corte da diretora, que acabou deixando na tela um bom tempo até da operação de transplante (para que muitos conhecessem como é o procedimento), mas que também deixou tempo demais de músicas e cenas desnecessárias, aonde poderia ter desenvolvido outras coisas.
Como disse acima, o tempo de tela não foi muito desenvolvido para cada personagem, e sendo assim é até difícil falar as qualidades de cada um, mas temos de pontuar a boa desenvoltura de Tahar Rahim como o médico coordenador de transplantesThomas, que se expressou bem de forma séria e interessante. Temos de falar também sobre o esforço bem demonstrado de Anne Dorval com sua Claire, que trabalhou bem o amor dos filhos e da amiga de longa data com uma beleza clássica no olhar. Emmanuelle Seigner teve a empatia e a dor de mãe mostrada com muita serenidade na personalidade de sua Marianne, mas confesso que poderiam ter trabalhado mais com ela. Kool Shen demonstrou bem o estilo de seu Vincent principalmente nas cenas dentro de seu serviço que colocou em pauta a falta de conexão familiar que já havia naquela casa. E claro que temos de falar dos bons momentos de Gabin Verdet com seu Simon, ao mostrar como conquistou sua namorada, seus momentos felizes e até mesmo ali estático fez bem suas cenas, mas nada de muito especial.
No conceito visual da trama, foi muito estiloso as filmagens no mar, as cenas de estrada que funcionam muito bem como um alerta para pessoas que nadam/fazem esportes e depois resolvem dirigir, as diversas cenas dos hospitais bem trabalhadas em detalhes para mostrar o dia a dia ali (quase sendo um episódio de "Greys Anatomy"), e arrumaram uma casa que assim como a protagonista disse parecia um set de filme pornô (ainda não entendi aonde desejavam chegar com essa escolha), mas tudo bem trabalhado e colocado em pauta para mostrar os momentos precisos, ou seja, se olharmos a fundo vamos chegar a muitas conclusões sobre cada momento do filme, e entender até mais a ótica da diretora, mas aí teríamos de partir para uma análise detalhada, e isso ninguém faz.
A música de Alexandre Desplat é linda sempre, mas aqui ficou melódica demais para causar comoção e acaba até cansando em determinados momentos, de modo que poderiam utilizar sim em alguns momentos para ditar o ritmo, mas não forçar para o excesso como acabou ocorrendo.
Enfim, é um filme interessante que como disse nos vários parágrafos acaba funcionando como diversos alertas e dicas, mas que como filme realmente acaba ficando bonito, mas não funcional, e nesse conceito o erro acaba sendo maior do que a emoção passada. Não digo em momento algum que é algo ruim de assistir, pois a trama é bem feita e agradável, mas volto a frisar, com menos tempo de duração, e maior pontuação aonde deveria atingir em cheio o resultado seria um longa tão incrível quando imaginavam. Portanto vá, reflita sobre tudo o que é mostrado e use em sua vida, pois essa é a dica do material passado pelo longa. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas tenho mais dois longas do Festival Varilux nessa noite, então abraços e até breve.
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