quinta-feira, 15 de junho de 2017

Frantz

Filmes de traumas em guerra sempre soam bem interessantes, mas geralmente ou fazem nosso queixo desabar com algo que sequer imaginamos, ou acaba fluindo de maneira tão linear com todas as reviravoltas 100% ditadas que resulta em algo mais cansativo do que agradável, e infelizmente "Frantz" faz parte desse segundo grupo, pois quem está acompanhando todos os filmes do Festival Varilux já havia visto o trailer dele pelo menos umas 10x, e tudo o que está lá acaba acontecendo de maneira tão fácil de descoberta, que por bem pouco não faz o público dormir no ritmo mais lento possível. Não digo em hipótese alguma que é um filme ruim, pois a beleza predomina nesse longa de época, com um visual incrível de uma Alemanha pós-guerra, com homens revoltosos pela derrota para a França, um trabalho memorável da fotografia que brinca com tons em preto e branco para as tomadas mais dramáticas e tristes, e coloridas para momentos mais alegres, trabalhando a ideia de cor para vida e sem cor para morte, mas mesmo com toda essa técnica apurada, o roteiro é simples demais, triste demais, e cansativo demais para empolgar, ou para surpreender como deveria, e sendo assim o resultado soa normal demais para o longa mais esperado do Festival, que praticamente lotou a sessão, e que muito talvez esqueçamos dele muito brevemente.

A sinopse nos conta que em uma pequena cidade alemã após a Primeira Guerra Mundial, Anna chora diariamente no túmulo de seu noivo, morto em uma batalha na França. Um dia, um jovem francês, Adrien, também coloca flores no túmulo. Sua presença, logo após a derrota alemã, inflama paixões.

O fato de erro no roteiro de não surpreender é tão grande que de 11 indicações ao Cesar, o longa só conseguiu abocanhar fotografia, pois o filme tinha tudo para criar perspectivas, trabalhar a dor de ambos os protagonistas, e até mesmo semear mais a discórdia entre os países, mas o diretor e roteirista François Ozon acabou sendo singelo demais, se baseando no filme "Não Matarás" de 1932, e seguiu uma linha clássica bem tradicionalista, inovando realmente só na teoria da fotografia mesmo, que acabou tendo um sentido inteligente e bem colocado. Porém a última coisa que faz um filme clássico levar prêmios é a fotografia, e sendo assim a trama ficou faltando e muito para dizer a que veio. Posso estar sendo rude com o longa, por ser o filme que mais (ao menos depois de ver muito o trailer) estava esperando ver, pois a ousadia de trabalhar um longa quase que inteiro em preto e branco é algo que ou se acerta muito nas filmagens, com os atores trabalhando bem para não necessitarmos de essência alguma, ou se tem um filme cansativo demais, e isso é o que acabou acontecendo, pois ninguém segura a trama para si, desenvolvendo tudo num plano corrido e que dá quase para falar até o que vai acontecer antes de cada cena, o que infelizmente é um erro imenso.

Quanto das atuações, Paula Beer trabalhou muito bem sua Anna, colocando uma postura séria, centrada e claro apaixonada desde o começo do longa, intercalando sempre alegrias com tristezas/rancor e determinando bem o andamento que desejavam para a personagem, de modo que até poderia ter mostrado um pouco mais os dentes (sorrir faz bem no cinema), mas aí a personagem teria outro tipo de dinâmica. Pierre Niney é um dos novos galãs franceses, e vem despontando como grande astro do cinema francês atual, porém já vi ele fazer isso em uns dois ou três personagens, e aqui com seu Adrien ocorre novamente a tal da entrega precoce do ponto de virada, e não sei se é escolha dos diretores para seu estilo, ou se o jovem ainda não tem bala na agulha para manter o mistério de seus personagens para na hora da virada realmente derrubar o público, ou seja, não dizemos que ele chega a falhar com o personagem, mas poderia despontar muito mais, já que o ato merecia algo mais forte nas três cenas-chave (confissão para a protagonista na Alemanha, guerra, revelação na França), e ele não fez mudança expressiva em nenhum deles. Anton von Lucke faz uma breve participação como Frantz em 3 ou 4 cenas bem rápidas, e até chama de forma expressiva as nuances que o personagem pede, mas em algumas como um "fantasma" poderiam ter ousado um pouco mais, que funcionaria bem. Dos demais temos uma boa expressividade de Ernst Stötzner como Hoffmeister, uma certa doçura ingenua bonita de ver com Marie Gruber como Magda, uma persistência chata de Johann von Bülow como Kreutz, e de forma bem rápida um determinismo de Cyrielle Clair como a mãe de Adrien, ou seja, participações leves, mas bem colocadas

No conceito visual as escolhas das locações foram bem ornamentadas para retratar a simplicidade da família na Alemanha, os trens antigos, durante algumas passagens mostrar cidades devastadas pela guerra, o ar singelo do Louvre no começo do século XX que ainda assim tinha muitas obras incríveis, e até mesmo cemitérios bem ornados, mas nada que chegasse a chamar atenção sem ser os rebuscados e imensos figurinos dos personagens, para manter época (e mesmo não vendo coloridos clássicos com o PB tudo ficou bem bonito de se ver). Mas sem dúvida alguma o longa vai ser lembrado pela fotografia, que acertadamente optaram por trabalhar em preto e branco na maior parte, e mesmo deixando esse tom um pouco cansativo, as nuances de sombras bem escolhidas durante as filmagens (aparentemente não filmaram em preto e branco sendo convertido depois na pós), a ideia de tristeza e felicidade colorindo os momentos mais ternos foi uma grande sacada que convence e agrada muito, mostrando um acerto bem eloquente, que chama a atenção.

Enfim, é um belo filme, bem produzido, com muitas nuances interessantes, mas que mais cansou do que agradou, e talvez até tenha me decepcionado mais com o longa pela alta expectativa causada dos trailers, mas que ainda assim só recomendo ele como algo clássico para ser assistido, pois talvez uma história mais impactante chamasse mais atenção. Portanto quem for conferir ele no Festival Varilux vá com uma menor intensidade de expectativa que quem sabe o resultado melhore, pois senão a chance de dormir e/ou reclamar como eu fiz no texto será alta. Bem é isso pessoal, hoje(15/06) começa a segunda semana do Festival Varilux, para completarmos com os longas que não vimos, e claro com mais várias estreias na programação, então continuarei entupindo as timelines de vocês com muitos textos, e espero que todos curtam. Fiquem por enquanto com meus abraços e até logo.

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