Sinceramente fico pensando o que leva o público ao cinema: entretenimento ou questões filosóficas? Pois antes de ir conferir "O Círculo" só ouvia pessoas falando de suspense raso, que não adentra muito às situações propostas, que falha em mostrar os conflitos em questões amplas, e por aí vai, tanto que fiquei até receoso do que veria na tela do cinema. Mas hoje ao conferir, acabei curtindo tanto a proposta, que "ataca" a essência de mídias que querem cada vez mais o público saindo do privado/particular e exponha toda sua vida, o que deseja fazer, o que está fazendo, em quem votou, como votou, e sendo obrigatório usar a rede para tudo (pagar contas, votar, escolher leis, etc), ou seja, algo que já vimos alguns dos peixões da internet (Google e Facebook, entre outros) tentarem fazer, de modo que ou o pessoal da crítica anda meio maluco e se perdeu na ideia completa querendo algo mais explícito e forçado, ou os peixões andam pagando alguns por aí e ainda não chegou dinheiro aqui no bolso do Coelho, pois o filme é muito interessante e bem trabalhado, claro que de modo fictício e utópico demais, e que talvez não necessitasse alguns excessos e a deixa para um segundo filme, mas de resto é algo incrível de ver e imaginar se fosse realmente real tudo da forma mostrada nele.
O longa nos mostra que "The Circle" é uma das empresas mais poderosas do planeta. Atuando no ramo da Internet, é responsável por conectar os e-mails dos usuários com suas atividades diárias, suas compras e outros detalhes de suas vidas privadas. Ao ser contratada, Mae Holland fica muito empolgada com possibilidade de estar perto das pessoas mais poderosas do mundo, mas logo ela percebe que seu papel lá dentro é muito diferente do que imaginava.
Talvez o pessoal tenha lido o livro e lá contenha um aprofundamento maior na ideologia da trama, e assim sendo esperavam bem mais do longa, mas posso dizer que o trabalho do diretor e roteirista James Ponsoldt foi algo inteligente e que consegue fluir bem, claro que ele poderia ter atacado muito mais essa moda que temos de compartilhar tudo de nossa vida e estar sumindo com o lado mais privado de tudo, acusado mais as empresas grandiosas que procuram saber de tudo e mais um pouco sobre seus usuários, mas para isso ele acabaria caindo em ataques de patrocinadores, o que sabemos que não é algo nada saudável, ou seja, de modo geral temos um filme que vai bem, é bem dirigido e cria uma leve "franquia" no molde de outras que trabalham um pouco com o modo de vida das pessoas. Claro que o livro de Dave Eggers é apenas um, mas o desfecho da trama aqui moldou uma possibilidade para o público ver muito mais num segundo filme, que aí sim seria algo bem perigoso de se mostrar, e aí veríamos se o diretor é realmente ousado e corajoso de atacar, mas isso só veremos se der bilheteria, pois se depender da crítica especializada, o longa vai ser bem esquecido, e como já frisei, é uma besteira imensa, pois quem for disposto a acreditar (e já conhecer um pouco do que ocorre no mundo das mídias sociais de conteúdo) vai ficar bem indignado com tudo o que fazem para saber e influenciar cada vez mais o público comum. Se posso apontar um defeito técnico, que nem é bem um defeito, seria algo que já vimos em outros filmes que é de traduzir textos que aparecem na tela, pois costuma ficar bem legal, claro que aqui quiseram mostrar que haviam diversas línguas falando com a protagonista, mas quem não souber um pouco de inglês (ao menos) perderá muita coisa bacana visual que aparece na tela.
Sobre as interpretações, podemos dizer que Emma Watson está cada vez mais próxima de ser presença confirmada na maioria das produções, pois depois de fugir um pouco dos cinemas para esquecermos sua Hermione, agora andamos vendo ela fazendo todo tipo de personagem possível, e aqui sua Mae é alguém bem intrigante e cheia de nuances expressivas, porém um pouco ingênua demais em alguns momentos, apática demais em outros, e exagerada em outros, oscilando demais de personalidade para um único papel, e talvez isso pudesse ser melhor trabalhado com uma direção mais efetiva de elenco. Digo isso de problemas de direção de atores, pois Tom Hanks que não costuma falhar, fez excessos de caras e bocas também com seu Bailey, e se talvez tivesse aparecido mais no longa iria soar até estranho, não digo que o que ele fez seja algo ruim, mas parecia um personagem inferior fronte a toda sua potência, tanto que em sua melhor cena de apresentação (no melhor estilo Bill Gates de ser) chega a arrepiar, mas depois fica morno demais. John Boyega foi quase um fantasma no longa com seu Ty, aparecendo e sumindo das cenas misteriosamente (isso é explicado por ele mesmo em determinada cena), e caso haja um segundo filme certamente será muito importante sua participação maior, pois o ator como bem sabemos é muito bom, e precisa aparecer mais para explodir. Diria que a personagem Annie de Karen Gillan é a que mais oscilou de personalidade na trama, parecendo ser dirigida em dois momentos completamente diferentes, no começo com uma empolgação completamente insana (mesmo demonstrando dormir pouco e sob efeito de muito energético), e depois numa apatia tão icônica que chega a ser desesperador de ver, nem parecendo ser a mesma pessoa interpretando, e embora seja plausível dentro da trama isso, ficou estranho por não parecer a mesma atriz fazendo os dois momentos. Ellar Coltrane finalmente pode esquecer seu personagem de 12 anos filmando "Boyhood", e o mais engraçado é que seu personagem Mercer tem aversão de câmeras, foge de redes sociais e tudo mais, numa grandiosa ironia frente a alguém que passou muitos anos tendo sua "vida" fictícia filmada por um único diretor, mas ainda precisa melhorar muito para agradar de trejeitos, pois estava duro demais nos momentos "não" romantizados. Em seu último filme gravado (já que morreu em Fevereiro/2017 após complicações em uma cirurgia cardíaca) Bill Paxton teve até que uma boa homenagem se mostrando (mesmo que não como desejava) que pessoas doentes (aqui com esclerose múltipla) também se divertem entre quatro paredes, de modo que seu Vinnie (ou pai da protagonista) acaba sendo interessante e poderia até ter sido trabalhado um pouco mais em cima disso na trama.
O visual do longa é um pouco bagunçado, pois ao mesmo tempo que mostramos um lugar maravilhoso como central da empresa Círculo (remetendo muito as centrais maravilhosas do Google e do Facebook) com festas, pessoas trabalhando e se divertindo e tudo mais, com uma cenografia incrível, computadores e celulares da marca própria da empresa e por aí vai, tivemos uma lagoa/mar completamente sujo e estranho (poderiam ter optado filmar em algum lugar mais interessante) que depois fica completamente diferente na cena seguinte (embora explicado o motivo de estar tão prateado) e acaba resultando em algo destoado, parecendo assim como disse nas atuações, sendo feito em dois momentos completamente diferentes. Porém de modo geral, tudo acaba bem ousado e divertido de acompanhar se formos conectando as grandes empresas que já citei aos montes. Quanto do conceito fotográfico, tivemos boas cenas bem iluminadas dentro da empresa, nas apresentações com luzes de celulares ficando como parte da iluminação, mas as cenas na lagoa necessitariam ser melhores pensadas, pois no escuro completo não quiseram fazer uma iluminação falsa e ficou escuro demais, estragando a ideia que a protagonista conta de sua visão, ou seja, com problemas técnicos para serem pensados numa continuação.
Enfim, é um filme bem interessante de se acompanhar, e que de uma maneira bem utópica se não levado como entretenimento fictício pode mostrar muito de que o mundo está tomando um rumo problemático com tanta invasão de privacidade alheia que vemos por aí. Claro que volto a frisar que a ideia do filme não é acusar nada nem ninguém, mas dá para se refletir bastante divertindo com a proposta completa e assim funcionando como deveria. Friso que como disse na maior parte do texto temos diversos defeitinhos, e aparências de ser filmado de duas maneiras completamente diferentes em épocas diferentes o que causou uma leve estranheza, mas nada que atrapalhe a experiência e diversão propostas. Portanto se você gosta de um filme interessante que vai trabalhar seus pensamentos, sem exigir que você se aprofunde no assunto, esse vai ser seu filme, e certamente gostará muito do que verá, mas se você gosta de algo mais elaborado, que realmente possa servir de base para mostrar problemas da sociedade atual, o resultado aqui vai ser decepcionante. Bem é isso pessoal, deixo assim minha recomendação para qual tipo de público o longa foi feito, e veremos se vão ter culhões para uma continuação mais ousada, ou se vamos ficar apenas com a ideia em nossa mente do que foi mostrado no final do longa. Encerro aqui esse texto, mas volto em breve com a última estreia da semana, então abraços e até logo mais.
PS: Fiquei tentado a dar nota 8, mas como pontuei tantos defeitinhos, achei melhor ficar com 7, mas é um bom filme para quem não reparar tanto em erros técnicos.
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