O que acontece quando um diretor francês resolve fazer um filme usando o estilo uruguaio de dramas como base? Se você nunca imaginou essa situação, procure conferir "O Filho Uruguaio" o quanto antes, pois podemos certamente incluir esse longa como um dos melhores do Festival Varilux desse ano, pois trabalhou tensão, trabalhou um tema extremamente polêmico e principalmente prendeu o espectador com o coração na mão a cada nova desenrolada da situação toda, afinal já ouvimos tantas histórias parecidas em jornais, já imaginamos as situações que poderiam acontecer com qualquer um dos possíveis desfechos, e tudo o que acaba acontecendo vai num desenrolar tão bem encaixado que não conseguimos nem piscar, pois o filme é incrível, possui um estilo único que poucos longas conseguiram passar e quem tiver filhos certamente irá pensar muito mais sobre cada momento da trama, isso é evidente, mas quem não tiver também irá refletir muito, ou seja, perfeito!
O longa nos conta que é no Uruguai que Sylvie finalmente encontra a pista sobre o paradeiro de seu filho,
sequestrado há quatro anos pelo ex marido. Com a ajuda preciosa de Mehdi, ela vai
recuperá-lo, mas ao chegar lá, nada acontece como previsto: a criança, criada por sua avó e
sua tia, parece feliz e radiante. Sylvie percebe que Felipe cresceu sem ela e que agora sua
vida é em outro lugar.
Chega a ser interessante pensar como o diretor e roteirista Olivier Peyon chegou até essa história para contar, pois já tivemos diversos casos desse estilo sendo mostrados nos noticiários, e até hoje não havia visto nenhum filme trabalhar bem com a situação, pois a trama em si poderia virar um dramão pesado, poderia virar um terror/suspense fortíssimo, mas aqui a situação foi trabalhada de uma maneira tão leve pelo diretor (claro que ainda assim tencione todos os espectadores) que vamos entrando na mesma toada que o protagonista e quase já não sabemos o que fomos fazer ali, se seguimos o rumo inicial, se damos algum jeito de mudar tudo, e assim sendo a trama se desenrola de uma maneira bem bonita e interessante de acompanhar, o que digo ser a famosa arte da escola uruguaia de cinema de drama, que leva o público para uma área, prepara ele, e o faz mudar de opinião num leve piscar de olhos, que junto do lado tocante do cinema francês que o diretor tão bem conhece resultou em algo gigantesco e interessante demais de ser acompanhado.
Inicialmente pensamos que a protagonista da história seria Isabelle Carré com sua Sylvie, mas embora a atriz esteja ótima, principalmente nas cenas finais, ela abre o filme, some um bom tanto no miolo, e volta a ficar bem encaixada no final, o que não é ruim, mas deixou um pouco a desejar tanto pelas cenas desesperadas, quanto pela falta de um olhar mais terno, pois sei que muitas mulheres ficariam desesperadas na mesma situação que ela, mas a adrenalina tende a descer e funcionaria bem mais um choro do que gritaria como maluca. Agora sem dúvida alguma o show ficou por conta de Ramzy Bedia como Mehdi que trabalhou tão bem colocado, dosando o estilo interpretativo para que seu personagem não se revelasse de cara, sendo o boa praça, encantando aonde deveria, para ao final ser singelo para com seus sentimentos, só não foi melhor no momento exato de revelar para Norma, pois ali ficou sério demais para tudo o que já havia mostrado, mas do restante mostrou ser um grande ator de renome. María Dupláa também conseguiu chamar bastante atenção com sua Maria, desinibida nas cenas iniciais, e quase uma onça ao descobrir tudo, sua cena após a descoberta juntamente com a da polícia chegando é de cortar o coração, mostrando trejeitos muito clássicos e bem escolhidos. Virginia Méndez trouxe para sua Norma todo o sentimento de culpa enraizado com uma destreza perfeita, mas expressou tudo isso mais corporalmente, faltando trabalhar mais os olhares, o que seria a perfeição completa. Agora se o garotinho Dylan Cortes continuar estudando interpretação, mantendo essa expressão gostosa e viva que fez com seu Felipe, certamente daqui alguns anos veremos um nome certo nas premiações, pois que simpatia, que destreza para com as câmeras, fazendo tudo tão bem colocado que muitos profissionais com anos de renome não conseguiriam fazer o que ele fez em cena. Agora o maior ponto negativo da trama foi a escolha da produção nas cidades, pois certamente arrumaram uma vila com pouquíssimo movimento, aonde todo o barulho de produção fez com que o público ao redor ficasse olhando para as câmeras, não sabendo para onde se mover e por aí vai, e isso aconteceu não só na cidade de Florida, como também na capital Montevidéu, deixando um lado amador demais no quesito figurativo, e não digo que todos os momentos cheguem a atrapalhar, mas na maioria que possui qualquer pessoa próxima da cena, o resultado fica estranho de ver.
Quanto do visual do longa, a trama foi bem singela de elementos cênicos, não ousando muito para também não soar falso, mas o grande destaque ficou por conta da caminhonete velha sem porta, das locações simples e bem colocadas para remeter diversos sentimentos (destaque para o cemitério com roubo de flores, e o túmulo da mãe), e assim sendo, a equipe mais orquestrou a dinâmica cênica (como o tradicional churrasco de pós-comunhão na praça) do que precisou criar algo mais visceral mesmo com objetos e tudo mais, deixando isso mais para o primeiro ato aonde vamos aprendendo com tudo o que o protagonista terá em mãos para achar o paradeiro do garotinho. A equipe de fotografia também ousou pouco, pois como a maioria das cenas são externas, tiveram mais que se preocupar com a iluminação natural para ter um contexto real interessante, do que com sombras e densidades, e não digo que isso seja algo ruim, mas talvez mais cenas como a da mãe no final passeando pela casa simples, com um tom abaixo durante outras cenas também, faria o público desabar.
Enfim, é um filme muito bonito, totalmente bem colocado com muitas realidades que vemos mundo afora, e que sem dúvida alguma recomendo, afinal esse pode ser colocado entre os três melhores do Festival Varilux, devido ao conjunto completo da obra, ou seja, não sei se em sua cidade ainda haverá sessões dele nos próximos 3 dias de Festival, mas se não já comece a cobrar os gerentes dos cinemas, pois esse é um dos que ainda não possui data de estreia no Brasil pela Bonfilm. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto do Festival Varilux, então abraços e até breve.
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