Por mais incrível que possa parecer, prefiro mil vezes os longas cômicos franceses do que os dramas deles, pois geralmente optam ou por algo extremamente trágico, ou acabam levando tudo com tanta sutileza e subjetividade que acabamos ficando indecisos de aonde o diretor deseja nos levar. Digo isso, pois usando da simbologia do nome original do longa "sage femme", se colocado hífen é o nome da profissão parteira, e sem mostra a ideia de uma mulher reservada, e o longa "O Reencontro" como está sendo lançado no Brasil é exatamente o significado da palavra, mostrando as nuances da protagonista sendo parteira (ou melhor obstetriz como hoje é chamada) e como ela é reservada, ou seja, trabalha apenas a ideia mostrando esse comportamento da protagonista, demonstrando a possibilidade do perdão por algo do passado, e como essa influência pode mudar ou não sua forma de viver. É um longa bonito, bem feito, mas poderiam ter ousado mais para incomodar realmente como um drama deve ser, e não ficar tão leve e sem uma opinião mais impactante.
O longa nos mostra que a parteira Claire sempre vive alegrias na sua profissão. Pessoalmente é uma mulher muito fechada. Mas quando Beatrice (Catherine Deneuve), antiga amante de seu falecido pai reaparece, Claire começa a ver a vida de forma mais despretensiosa e uma grande amizade entre elas surge a partir daí.
O diretor Martin Provost foi singelo em praticamente tudo, desde os movimentos de câmera até a forma de trabalhar o roteiro, mas soube ousar principalmente em trabalhar o câncer em si como algo que vai acontecer e que as pessoas podem ter escolhas, claro que não foi tão fundo nisso, mas colocou ao menos sua opinião quanto a esse conceito. Porém no que deveria opinar mais forte que era o rancor entre o passado e a forma de viver da protagonista, que sim mostra uma melhora ao conhecer um pouco mais do estilo da "amiga", ele acabou deixando a vida levar, e sua câmera também, de modo que o filho acaba sendo um enfeite no meio do caminho, o amigo/namorado também é apenas usado para dar nuances, e tudo acaba rolando de maneira calma demais, não que isso não seja algo bonito de ver, mas quando um longa artístico fica calmo demais, a beleza acaba predominando e a história acaba flutuando, e não é isso que gostamos de ver na tela. Portanto, o trabalho do diretor até flui, mas não para onde poderia, nem com a força que deveria trabalhar, pois certamente a história tinha florescimento para muitos lados, fossem eles duros ou até mais suaves, mas que sairiam ao menos de cima do muro.
Quanto das interpretações, é fácil ver como o longa dependeu demais de Catherine Frot, pois se contarmos o longa inteiro, temos no máximo três cenas sem sua Claire em cena, e com a expressão facial completamente fechada em quase 80% do longa, a trama chega a ficar engessada em diversos momentos sem muita fluidez, ou seja, se queriam tanto mostrar sua seriedade acertaram em cheio, mas o longa, ao menos no que tenta se passar, desejava ir além, e mesmo a atriz sendo ótima no seu estilo próprio, chega a ser difícil se conectar com ela e gostar do que faz, ou seja, precisariam ter dramatizado mais suas cenas. Já a despojada Catherine Deneuve fez de sua Beatrice uma mulher que curtiu até o último segundo de sua vida e que mesmo estando doente não vai desprezar uma boa carne, uma batata frita e um bom vinho, e talvez se o longa mostrasse mais a desenvoltura dela e sua disposição em refazer de uma forma melhor seu passado, mesmo aos trancos e barrancos, a trama talvez atingiria um ápice melhor, e mais interessante, pois volto a frisar que o resultado inteiro não é ruim, mas merecia algo a mais, e aqui estava a chave do sucesso, pois todas suas cenas além de dar um tom cômico para a trama, envolveram mais. Olivier Gourmet trabalhou o seu Paul de uma maneira singela e bem colocada para o que foi proposto na trama, ou seja, aquele que dá seu carinho sem esperar nada em troca, que pode animar uma pessoa e ter sua vida funcionando de forma completamente separada, ou seja, não foi incorporado fortemente à trama, mas agradou. Quentin Dolmaire apareceu pouco com seu Simon, mas deu algumas nuances para as protagonistas de modo a mostrar que devemos seguir o que achamos melhor, mesmo que no meio do percurso resolvamos mudar tudo, mas funciona mais o personagem do que o ator em si, afinal qualquer um faria suas três ou quatro cenas, até de forma melhor.
No conceito visual, o longa foi bem bonito, escolhido de forma certeira nas locações para mostrar um lado interiorano da França, não muito longe dos centros comerciais, que mostra que as mudanças tecnológicas estão presentes, mas que muitos vão ainda optar pela simplicidade, ou seja, a equipe de arte não precisou trabalhar muito com elementos cênicos fortes, mas sim colocar os ambientes de forma conceitual bem colocados, e agradar com isso, tanto que o jardim remete à fuga da protagonista daquele mundinho fechado e decadente de apartamentos pequenos e hospitais em fechamento, e com isso a beleza ali está disposta a florescer mais que em qualquer outro lugar. A fotografia optou bem por uma iluminação natural, mesmo que para isso alguns momentos ficassem até escuros demais, mas dessa forma as nuances tiveram um resultado melhor de se ver.
Enfim, é um bom filme que poderia ser imensamente melhor, mas que de forma singela acaba se desenvolvendo e soando gostoso de acompanhar pelas boas conotações, ou seja, aquele filme que achamos bonito de ver, mas que vamos esquecer amanhã. Portanto, mesmo sendo bacana e bem feito, não é o melhor para se conferir no Festival Varilux, afinal temos outros 16 filmes para conferir, e esse é apenas bonitinho. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto amanhã com mais dois longas, então abraços e até breve.
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