Posso dizer que "Tour de France" é o longa mais contemporâneo do Festival Varilux, pois ele permeia bem todo o racismo que tanto se aflora na Europa, de árabes, argelinos, etc. e une a ideia do novo com o velho, do jovem cantor de rap franco-árabe com o pintor branco, da modernidade que usa fones caros com a pintura do século XVIII feita com espátulas, ou seja, várias misturas que certamente pensaríamos que nunca daria certo, mas acaba ficando tão incrível que entramos na sintonia perfeita do estilo musical do longa e quando vemos não queremos mais parar de acompanhar a saga do garoto e do velho, da experiência e da novidade, do passado com o presente, ou seja, de tudo o que se possa combinar para envolver numa trama muito bem encaixada com o momento, e que mais do que recomendar, todos deveriam assistir o longa para abrir suas mentes e se adequar à tudo o que anda acontecendo no mundo.
O longa nos apresenta Far’Hook, um jovem rapper de 20 anos. Após um acerto de contas, ele é obrigado a sair de
Paris por algum tempo. Seu produtor, Bilal, propõe a ele que o substitua e acompanhe seu
pai Serge numa volta pelos portos da França, seguindo os passos do pintor Joseph Vernet.
Apesar do choque de gerações e culturas, uma amizade improvável surgirá entre o rapper
promissor e esse pedreiro do norte da França durante um périplo que os levará a Marselha
para um show final, o da reconciliação.
Chega a ser tão belo o trabalho deito pelo diretor e roteirista Rachid Djaidani que o filme acaba tendo uma fluidez tão grandiosa que vai além do esperado, pois os momentos vão oscilando em nossa mente com a determinação do pedreiro/pintor que vai cumprindo sua promessa de pintar todos os portos da França e com isso junto da sina do jovem em ser seu motorista também vai aprendendo a gostar dele, e da mesma forma o jovem músico vai refletindo seus erros durante a viagem, se conhecendo mais e adquirindo também experiência junto de uma pessoa completamente oposta a ele, ou seja, uma brincadeira genial de nuances que nos faz refletir até quanto conhecemos de nós mesmos, ou até onde iríamos para encontrar a paz e defender alguém que nem conhecemos direito e é de outra religião/raça/estilo de vida. Com essas possibilidades de permear a mente, o diretor conseguiu envolver num longa ao mesmo tempo duro pela realidade, mas singelo pela beleza que consegue transmitir, ou seja, algo que dificilmente veríamos acontecer em um longa de qualquer outro país, pois mesmo a França sofrendo com ataques, racismos e tudo mais, é lá que eles apontam o dedo para si mesmos e conseguem num único filme dar uma lição no mundo e para eles próprios ouvirem e mudarem.
Sobre as atuações, temos de ser sinceros e dizer que Gérard Depardieu é um mestre e quem cair em suas mãos não tem como dar errado, pois mesmo fazendo um papel mais duro com seu Serge, ele praticamente colocava a bola nos pés do rapper Sadek para que ele apenas chutasse para o gol, e assim sendo entregou um personagem incrível de ver, que de cara não nos afeiçoamos, mas que com o andar da trama vamos na mesma linha do rapper, conhecendo mais sua personalidade e se conectando com muita desenvoltura para o ótimo fechamento. Como primeiro trabalho interpretativo do cantor Sadek, podemos dizer que foi muito bem encaixado, trabalhou expressões de diversos estilos, e principalmente, se deixou levar pelo conceito que a trama desejava para seu Far'Hook, demonstrando um carisma próprio e que leva muito jeito para as câmeras (tanto filmando com seu celular, quanto ao interpretar). Mabô Kouyate colocou uma personalidade até irritante demais para com seu Sphynx, mas sabemos que brigas de rappers geralmente tem essa mesma levada, então com um certo estudo ele acabou se saindo bem no que fez. Louise Grinberg entrou na reta final com sua Maude, e demonstrou uma boa simpatia, e um estilo gostoso que poderia ter acompanhado mais partes da viagem, pois a jovem traria uma dinâmica interessante para o filme e claro muita beleza. Nicolas Marétheu apareceu pouco em cena como Bilal, mas demonstrou ter uma dinâmica de olhares bem interessante e que valeria ter investido um pouco mais no personagem dele na trama.
Como é de praxe, uma tour envolve quase que um road-movie, e nessa pegada, a equipe artística teve um belo trabalho de arrumar boas locações para as paradas nos portos temáticos da França (principalmente no século XVIII) e criar as diversas situações sendo com alimentos, com policiais, com motos, e tudo mais, para que o objeto cênico fosse a paisagem em si, junto dos elementos para pintura do protagonista, o velho caminhão e claro os telefones e fones do protagonista mais jovem, e com isso, o longa conseguiu se desenvolver sozinho incorporando bons momentos e boas cenas visuais. É claro que para uma boa pintura, é necessário uma boa fotografia, e com road-movies sempre estão dispostos à intempéries climáticas, e o longa brincou bastante com a iluminação natural que deu diversas nuances para que o filme fluísse muito bem.
Não sou o maior fã de rap, mas a toada da batida do longa inteiro foi tão agradável de escutar, que ajudou muito a dar um ritmo propício para que o filme se desenvolvesse bem, e claro que o fechamento cantado com uma canção misturando tudo o que o protagonista viu em sua viagem, resumindo a trama completa foi o show máximo.
Enfim, não diria que é o filme mais técnico do Festival Varilux, mas é o que mais fez refletir e envolver numa única tacada, agradando demais. E sendo assim coloco ele por enquanto no top filmes do Festival, recomendando com toda certeza para todos verem, e sentirem (quem não conseguir ver no Varilux, ele já estreia dia 29/06, só resta saber em quais cidades aparecerá!). Por enquanto fico por aqui, mas volto amanhã com mais um texto de alguma das estreias da semana, afinal os longas do Festival Varilux desse sábado já conferi todos, então abraços e até breve.
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