Já refleti diversas vezes aqui sobre a leveza cômica que alguns longas franceses conseguem ter, e digo mais, a maioria sabe como fazer um longa romântico ficar muito gostoso de assistir. Digo isso mais uma vez para "Um Perfil Para Dois" que brinca muito com a ideia dos relacionamentos pela internet, mas felizmente só usa isso para a base inicial, depois deixando que a brincadeira completa ficasse a cargo de conversas duplas, que servem tanto para um lado como para o outro, e é inegável a quantidade de risos que ele consegue tirar do público do começo ao fim, tendo um ou dois momentos que dá uma leve desligada, para no final conseguir surpreender num nível máximo de uma reviravolta tão incrível que a vontade que temos é de levantar e aplaudir (bati palmas contido, meio que escondido, mas bati!), pois é algo que o filme vai nos levando para um lado, e muda completamente, tanto que na sessão aonde assisti, algumas pessoas já estavam levantando para sair (sem nem começar os créditos - achei muito estranho!) e voltaram para sair da sessão mais encantados ainda. Ou seja, é raro o ano que temos muitos filmes praticamente perfeitos no Varilux, mas esse ano posso citar 4 grandes nomes, e esse estará entre eles.
A sinopse do longa nos conta que Pierre é um viúvo e aposentado que não sai de casa há muitos anos, e que descobre as
alegrias da internet graças a Alex, um jovem contratado por sua filha para lhe ensinar o
básico de computadores. Em um site de namoro, uma mulher jovem e bela, que usa o
codinome flora63, é seduzida pelo romantismo de Pierre e o propõe um primeiro encontro.
Apaixonado, Pierre volta a viver feliz, mas em seu perfil ele colocou a foto de Alex e não a
sua. Pierre deve agora convencer o jovem Alex de encontrar Flora em seu lugar.
O mais incrível da trama, é que se observarmos bem o trabalho do diretor e roteirista Stéphane Robelin veremos que o longa não possui nada de mais, é bem simples, e ao trabalhar toda a situação com uma desenvoltura bem singela ele acaba conseguindo envolver cada um com um trabalho preciso, cheio de boas sacadas e que funciona, pois a trama poderia ser vista por alguns como boba demais, cansativa pela forma que Yaniss Lespert entrega seu Alex, e até mesmo floreada demais, mas conforme vamos nos afeiçoando com tudo, e entrando na grande brincadeira ousada que acabam propondo, de tudo parecer que vai dar muito errado e se vira da forma mais incrível possível, principalmente pela ótima atuação de Pierre Richard, o resultado vai numa crescente que não parece acabar. Claro que no miolo essa crescente dá uma bela desabada, pois o ângulo volta a recair em Yaniss, e friso, um ator melhor ali seria perfeito para o longa, mas a virada final (que não vou dar spoiler) muda tudo e faz com que você saia maravilhado com o que lhe foi entregue, ou seja, um longa incrivelmente agradável e muito gostoso de conferir.
Podemos colocar Pierre Richard como o melhor ator do Varilux desse ano né? Pois foi perfeito nos dois melhores filmes do Festival, primeiro no "Perdidos em Paris", e agora demonstrando um carisma incrível com seu Pierre, trabalhando olhares apaixonados, olhares de voyeur, entre muitos outros trejeitos que conseguiu eximir, e sempre com uma fala bem colocada, agradável e uma personificação ímpar da proposta que lhe foi entregue, não teve como falhar, agradando num nível pra lá de ótimo. Em compensação, mesmo personagem Alex sendo alguém deprimente e sem muitas expectativas durante praticamente todo o filme, o ator Yaniss Lespert poderia ter dado uma desenvoltura melhor para o papel, pois nos momentos que a trama acabou dependendo dele, o resultado despencava, e sendo assim, volto a pontuar que talvez tenha sido uma escolha bem errada para o papel, felizmente não conseguiu estragar o longa, pois é notável a quantidade de cenas suas que foram eliminadas, senão seria uma pena o estrago no resultado final. Fanny Valete foi bem doce e interessante com sua Flora, trabalhando bem induzida ao estilo necessitada emotiva, com uma desenvoltura agradável e serena de ver, o que acaba agradando bastante. A interação entre Stéphanie Crayencour e Stéphane Bissot com suas Juliette e Sylvie para com os protagonistas é algo que também merece muito destaque, pois mostra bem uma realidade do jeito que algumas mulheres tratam homens e velhos, não acreditando em seus potenciais, desdenhando e até mesmo debochando, o que acaba soando divertido dentro da proposta, e mostra o quanto as duas também são boas atrizes.
Quanto do visual do longa, o destaque é claro fica para o apartamento de Pierre, com muitas "velharias", mas tudo com um simbolismo incrível que foi colocado com toda certeza em minúcias pela equipe de arte, desde pequenos vasos, quadros, fotos, passando pelo estilo dos móveis antigos, das roupas, chegando até ao ponto de um projetor de película muito bem encaixado para remeter ótimas lembranças num granulado incrível para remeter o velho do cinema funcionando bem encaixado com o novo, ou seja, tudo muito bem pensado, agradando na medida certa, depois passando para o estilo da casa de Sylvie, com muita modernidade, mas fios para todos os lados, sem que ninguém nem soubesse como usar, ou seja, muitas contraposições que a equipe de arte trabalhou muito bem, usando claro da mesma síntese do longa inteiro de palavras/objetos/sintaxes duplas que agradaram demais, inclusive na conotação de elementos em mandarim, que ninguém entende, mas que estão lá para mostrar uma cultura nova que está adentrando em todos os lugares. No conceito fotográfico a trama colocou tons mais escuros no início para mostrar o protagonista angustiado, sem vida, sem muitas expectativas, e conforme vai empolgando, se apaixonando e tudo mais, as cores vão ficando mais vibrantes e claras, até brincar com isso em alguns momentos para dar choques de tom sobre tom, o que é muito agradável e interessante de ver por parte de uma direção de arte teoricamente cômica, ou seja, um luxo raro de se ver.
Enfim, é um filme incrível, que mais do que recomendo para todos os gostos possíveis, que vai agradar, divertir e emocionar com muita simplicidade, e que só não foi perfeito pelo personagem coadjuvante ter ficado com um ator tão fraco, pois senão seria daqueles longas que mereceriam prêmios e mais prêmios em todos os tipos de Festivais. Pena que quem não conferiu ele no Festival Varilux terá de esperar até 28/09, mas se aparecer em sua cidade não perca de forma alguma, pois lhe garanto que a diversão vai valer muito a pena. E assim acaba minha cobertura de quase todos os longas do Festival Varilux (perdi apenas 1 pela corrida entre dois cinemas não encaixar com o tempo da bilheteria lenta do Cinemark, mas vou torcer para que apareça pelo interior para conferir mais para frente), desde já agradeço ao pessoal do Cinema de Arte e do Cinépolis Santa Úrsula pelo apoio no Festival, e amanhã já volto com novos textos da primeira estreia dessa nova semana, então abraços e até breve.
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