Já disse algumas vezes que ver filmes mais que uma vez é algo ruim, pois geralmente vemos mais defeitos do que qualidade, e posso incluir nisso as famosas refilmagens, pois na época que vi o mexicano "Não Aceitamos Devoluções" não gostei do longa inteiro e me surpreendi com o final chocante, enquanto hoje ao assistir "Uma Família de Dois", o longa inteiro me comoveu pela forma mais forte e expressiva do protagonista, mas como já sabia o final, acabei não desabando com o resultado, e certamente é notável que aqui mudaram diversas situações, trabalharam bem a dinâmica de uma forma melhor, e até tivemos muita coisa semelhante, mas a nuance e a ideia completa ficou evidente no ponto de virada, combinando de uma maneira mais arbitrária e bonita pelo lado francês, só que acredito que certamente quem não viu o mexicano se emocionou bem mais com a surpresa final do que quem já sabia o que estava acontecendo ali. Em hipótese alguma vou falar que o filme foi ruim, pois muito pelo contrário é algo comovente, gostoso de assistir e brilhantemente interpretado por todos, mas que talvez pudessem ter mudado o final para que derrubassem novamente o queixo desse Coelho que adora algo sofrido.
O longa nos mostra que Samuel nunca foi de ter muitas responsabilidades. Levando uma vida tranquila ao lado das pessoas que ama no litoral sul da França, ele vê tudo mudar com a chegada inesperada de uma bebê de poucos meses chamada Glória, sua filha. Incapaz de cuidar da criança, ele corre para Londres a fim de encontrar a mãe biológica, mas, sem sucesso, decide criá-la sozinho. Oito anos depois, quando Samuel e Glória se tornam inseparáveis, a mãe retorna para recuperar a menina.
Se em 2014 o diretor e roteirista foi o protagonista também do mexicano "Não Aceitamos Devoluções", que adorei, fui surpreendido e você pode ler meu texto aqui, dessa vez Hugo Gélin apenas se baseou no texto de Eugenio Derbez e deixou que bons atores fizessem o trabalho expressivo, porém o fato que fica claro é que Gélin não foi nem um pouco criativo mudando apenas nomes, endereços e poucas situações do original, deixando até mesmo cenografias extremamente semelhantes, mas como não gosto de ficar preso a comparações, vamos falar do que ficou realmente bom de se ver nessa versão, pois o grande dom artístico aqui ficou pela dinâmica que o diretor acabou criando junto dos protagonistas, tanto que chega a parecer que Omar Sy é realmente pai de Gloria Colston de tanta conectividade e parceria que ambos tiveram, e com mais estilo o diretor pode comover mais pelo emoção passada durante a trama, ou seja, cada ato feito foi bem trabalhado dentro do roteiro e juntamente com cenas filmadas rápidas tudo fluiu bem.
Já que comecei a falar dos protagonistas, já havíamos nos apaixonado pelo estilo de Omar Sy lá longe em "Intocáveis" e aqui seu Samuel é um "bon vivant" no mesmo estilão que ele tanto gosta de fazer nos seus longas franceses (vimos novamente em "Samba" e em "Chocolate"), mas com a diferença de que aqui o lado família predomina, e o ator soube dosar expressões fortes com clareza incorporando bem cada momento, mas sem sair da base, ou seja, acaba agradando, mas não chega ao ponto de impacto como poderia. Clémence Poésy apareceu bem pouco com sua Kristin, mas assim como aconteceu no original mexicano, ficamos com raiva da personagem que abandona a filha e depois quer ser a mãe maravilhosa levando embora, porém poderia ter ficado menos apática e trabalhado mais nuances, pois a atriz é boa e demonstrou isso em expressões, porém parecia ter caído de paraquedas na produção. A garotinha Gloria Colston mostrou muita disposição para as cenas, se divertindo e agradando como a personagem principal do embate, e claro que sem fazer muitas expressões consegue chamar a atenção por ser dinâmica, mas talvez um pouco mais de emoção nas cenas chaves agradaria ainda mais. Para finalizar não podemos deixar de falar de Antoine Bertrand com seu gracioso Bernie, que funcionou bem como um amigo do protagonista, como mãe da garotinha em diversos momentos e principalmente divertiu como um bom produtor faria (ou não!), mas o que mais importa que mesmo fazendo um homossexual bem clichê dos filmes, ele não desandou e acabou ficando bacana de acompanhar, e isso mostra a qualidade do ator.
Sobre o conceito visual a trama trabalhou bem com locações bem decoradas, cenários grandiosos para as cenas do protagonista como dublê e colocando bem elementos chaves para dar o tom da vivência mentirosa que o protagonista acaba criando para que a garotinha tenha uma mãe mesmo que fictícia, mas foram bem singelos sem nada para criar nuances, o que é uma pena, pois o filme teve um tom gostoso de ver, e poderia ser melhorado visualmente talvez com locações mais fortes na França mesmo, e não tanto copiando mesmo o mexicano, mas no geral o resultado visual agrada.
Enfim, é um filme comovente e que agradou bastante, até mais quem ver ele primeiro que o mexicano, e claro que recomendo, pois mostra bem a ideia de que família é aquela que cria, não quem dá à luz, e assim sendo a vivência da trama consegue segurar do começo ao fim o público com muito carisma. Portanto vá conferir assim que lançado ou ainda no Festival Varilux que passará o longa várias vezes em muitas cidades. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas logo mais a noite confiro outros dois longas do Festival, então abraços e até amanhã com mais textos.
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