Se no filme de 2014 acabamos não conhecendo muito a história de Annabelle, de onde veio aquela boneca feia, e ainda assim assustamos muito com as pegadas desprevenidas do diretor, agora em "Annabelle 2 - A Criação do Mal" o resultado é completamente outro, pois em momento algum o novo diretor quis passar essa mesma essência de sustos desnecessários, mas sim criar tensão do começo ao fim e contar muita história para que nós, juntamente com as crianças do longa (e aí é que volto na minha tese de como não assustar as jovens atrizes, para que tenham uma vida sadia depois desse filme!!!) ficássemos tensos pela situação em si, e fôssemos desenvolvendo uma certa conexão com cada personagem, para que ao final já estivéssemos torcendo e prontos para cada momento certeiro. Além disso, conseguiram não ser apenas um capítulo isolado da franquia, ao fazer um prequel da trama, mas sim juntar com coisas que vimos na franquia original "Invocação do Mal", coisas que veremos no longa "A Freira", insinuações de outros clássicos, e felizmente o fechamento com o que esperávamos unindo o longa de 2014, ou seja, algo completo dentro da franquia, que fez com que esse certamente fosse melhor que o anterior, e mesmo com leves erros agradasse como um excelente exemplar de terror nesse ano que ainda não assustou efetivamente (apesar que apenas estamos começando a época do horror de 2017).
O longa nos mostra que anos após a trágica morte de sua filha, um habilidoso artesão de bonecas e sua esposa decidem, por caridade, acolher em sua casa uma freira e dezenas de meninas desalojadas de um orfanato. Atormentado pelas lembranças traumáticas, o casal ainda precisa lidar com um amedrontador demônio do passado.
O maior acerto desse segundo filme (que se passa anos antes do primeiro filme) foi a troca da cadeira de direção, pois se David F. Sandberg já tinha entregue um excelente primeiro filme ("Quando As Luzes Se Apagam") com algo bem simples, aqui com um orçamento bem melhor, uma franquia já consolidada para trabalhar, e um roteiro mais ousado de histórias para desenvolver não tínhamos dúvida de que arrasaria e entregaria algo que não apenas assustasse, mas sim causasse algo a mais no público que fosse conferir, e assim sendo, se a boneca pareceu apenas um adereço macabro no longa de 2014, aqui vemos o motivo de ser assim, como originou e para onde a franquia vai seguir, pois como bem sabemos, mesmo aqui que o orçamento foi melhorado, todos os longas foram bem baratos comparados ao tanto que tem arrecadado, e dessa forma, teremos muitos spin-offs, muitas sequências, até onde puderem explorar. A grande sagacidade de Sandberg foi não se preocupar em necessitar fazer um filme escuro, pois aqui temos muitas cenas acontecendo à luz do sol (e apavorando tanto quanto uma cena 100% escura), em fazer algo desprevenido que pegasse e apenas fizesse o público pular, trabalhando mais com coisas macabras e que fizessem sim arrepiar em diversos momentos (alguns até bem forte), e assim, mostrar que esse sim pode ser um daqueles diretores que temos de ficar de olho, pois dois longas e dois acertos, a chance de vermos novos clássicos em suas mãos está bem perto de acontecer.
Quanto às atuações, temos antes de mais nada falar da preparação que as jovens garotas fizeram para o longa, pois é inegável a qualidade expressiva de todas para com as situações tensas que acabaram enfrentando e se mostraram perfeitas para cada momento, demonstrando medo, estranheza e até mesmo sendo sutis quando precisavam fazer nada em cena, e assim o resultado de todos foi perfeito para cada papel, digo isso das pequenas, pois ao chegarmos nos adultos o resultado não foi o melhor que poderíamos ter. Ou seja, temos de dar muitos parabéns para o que Talitha Bateman, Lulu Wilson e Samara Lee fizeram com suas Janice, Linda e Bee respectivamente, pois demonstraram um cerne expressivo tão bem colocado de modo que Bateman inicialmente aparentava meio jogada, medrosa e tudo mais, mas com o andamento da trama foi se soltando e incorporando tão bem, que ao final chegamos a pensar se realmente não trocaram a garota no meio da produção, e o mesmo podemos dizer de Wilson, que começou bobinha, ingênua e até dócil demais, mas foi ficando com tanto medo da situação, que confesso que ao final a garotinha já aparentava estar desesperada realmente, mostrando que é uma ótima atriz expressiva (ou que realmente o diretor aterrorizou realmente ela!), já Lee apareceu em cenas espaçadas, afinal seu personagem está morto desde o trailer e a segunda cena do filme, ou seja, faz aparições, mas sempre com doçura (quando não mostra o lado obscuro) e agradável de se ver. Dos adultos, infelizmente Anthony Lapaglia até tentou ser suave em algumas cenas iniciais com seu Samuel, mas depois se fechou em excesso, ficando insosso demais para a produção, de modo que até torcíamos para que morresse mais rápido no filme, pois não chamou nem a responsabilidade para si, nem deixou fluir em suas cenas, e assim sendo mais atrapalhou do que agradou. Sabemos que Miranda Otto é uma excelente atriz, mas o papel de sua Esther é quase tão apagado quanto o de Lapaglia, servindo apenas para dar algumas explicações do que aconteceu para o demônio passar a morar na casa, e acabar bem trabalhada visualmente nas cenas finais, pois de restante se apenas falassem que tinha qualquer mulher dentro do quarto deitada não faria diferença. E fechando o elenco adulto, Stephanie Sigman foi quem melhor se saiu no conceito expressivo com sua Charlotte, não que tenha sido perfeita, mas ao menos fez boas expressões de susto e trabalhou bem desde o começo, chamando a responsabilidade quando precisou. Das demais garotas, é melhor nem comentar muito, pois foram meros enfeites para algumas cenas, tendo até alguns momentos de fala, mas poderiam nem estar em cena, que não faria a menor importância.
Seguindo os moldes do "universo" (como está sendo chamado, prefiro franquia) de "Invocação do Mal", o grande charme da produção é todo o conceito artístico que elaboraram, colocando muitos elementos cênicos para tremer, sair do chão, assombrar, e tudo mais, com feições estranhas, objetos mais antigos ainda que a data que o longa se passa, figurinos de época e claro um casarão abandonado no meio do nada, afinal não queremos vizinhos atrapalhando "o mal", ou seja, uma arte impecável com muitos apetrechos prontos para serem usados em cada momento, e principalmente para conectar com os demais longas da franquia (destaque claro para o porta-retrato das freiras que logo mais veremos no longa "A Freira", e a boneca original Annabelle que está exposta no museu dos Warren), ou seja, tudo perfeito no conceito artístico. Da mesma forma, como já falei no início do texto, a grande sacada foi não brincar tanto com cenas escuras, trabalhando sim vários momentos com esse mote, mas sempre deixando boas nuances de iluminações para podermos ver tudo ao redor, e ainda assim assustar/arrepiar com o que está sendo mostrado, ou seja, um trabalho perfeito da direção de fotografia, que até ousou com câmeras em drones/aéreas invertidas para dar alguns efeitos e o resultado acaba agradando bem, além claro de trabalhar muito bem a época com filtros e iluminações incríveis. Quanto dos efeitos especiais e da maquiagem demoníaca, poderiam ter caprichado um pouco mais para não ficar algo meio bizarro, mas não atrapalhou em nada.
Enfim, é mais uma ótima produção de James Wan, o mestre do terror moderno, que seja dirigindo ou produzindo filmes de terror, não tem errado sua mão nem gastado seu dinheiro em vão, ou seja, tem seu nome, corra que vai agradar e ser sucesso de bilheteria. Como disse no texto, temos alguns leves defeitos, principalmente nas atuações, mas nada que atrapalhe a experiência temebrosa que o longa proporciona, causando muitos arrepios e agradando em demasia quem gosta desse estilo de terror, digo isso, pois tem aqueles que preferem longas com mais sangue (sim, aqui as cenas finais foram bem sangrentas também, mas nada monstruoso), outros preferem longas mais psicológicos e absurdos (embora aqui cause certos traumas também), ou seja, até podemos classificar ele como um terror de sustos, mas o diretor ousou um pouco mais, e acabou agradando demais com isso. Portanto, se você não tem medo do estilo vá conferir que certamente gostará do que vai ver, pois é um ótimo filme. Detalhe, possui duas cenas pós-crédito (uma logo que acaba a música, que vai mostrar os rumos de um possível Annabelle 3, e que finalmente a boneca realmente terá mais importância do que o demônio em si, e outra bem ao final, que mostra os rumos da franquia com seu próximo longa), ou seja, estão aprendendo com os longas de super-heróis a segurar o povo na sala para não saírem correndo após o filme acabar com medo da sala escura. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas ainda tenho mais uma estreia para conferir nessa semana, então abraços e até breve.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...