Um filme com múltiplos sabores, essa certamente é a melhor forma de descrever "Como Nossos Pais", pois temos ao mesmo tempo uma doçura de interações familiares e descobertas, aonde vemos muito do que estamos acostumados sendo retratados na telona, mas ao mesmo tempo que isso funciona, também sentimos o amargor do ponto de crítica que a diretora quis colocar, e por mais incrível que possa parecer, essa mistura acaba funcionando como um olhar tão bem colocado por parte da diretora, que rimos, conversamos com o filme e até nos emocionamos com tudo o que é mostrado, de modo que em momento algum ela recai para algo novelesco (e olha que isso facilmente poderia acontecer!) transformando sua obra em algo bem amplo e completamente dentro do tempo que estamos vivendo atualmente. Ou seja, um filme singelo, com pontos críticos e gostoso de conferir do começo ao fim, passando em um ritmo tão bom que nem sentimos a duração da trama.
A sinopse nos conta que Rosa é uma mulher que quer ser perfeita em todas suas obrigações: como profissional, mãe, filha, esposa e amante. Quanto mais tenta acertar, mais tem a sensação de estar errando. Filha de intelectuais dos anos 70 e mãe de duas meninas pré-adolescentes, ela se vê pressionada pelas duas gerações que exigem que ela seja engajada, moderna e onipresente, uma supermulher sem falhas nem vontades próprias. Rosa vê-se submergindo em culpa e fracassos, até que em um almoço de domingo, recebe uma notícia bombástica de sua mãe. A partir desse episódio, Rosa inicia uma redescoberta de si mesma.
Aguardamos sete anos até a diretora Laís Bodanzky nos presentear com mais uma grande obra sua, e digo dessa forma por simplesmente ter amado tudo o que foi entregue por ela aqui, afinal vemos um filme interessante, com uma dinâmica incrível e que consegue passar uma mensagem ousada da melhor maneira que se possa fazer, sem necessidades de apelos dramáticos, nem de incoerências de personalidades, apenas retratando o mundo real com pontos de viradas fortes e bem colocados, ou seja, um filme que contém uma ideologia tão tradicional que certamente poderíamos ver em alguém de nossas famílias, mas pontuado com um olhar próprio e coerente de sintonia e que impressiona pela boa direção e vontade dos protagonistas em entregar algo bonito e sensível, mas que criticasse tudo o que desejavam criticar, desde falta de auxílio por parte dos maridos, passando por brigas familiares e traições, e chegando até política e feminismo versus machismo, ou seja, algo completo de identidade. Dito isso, a trama floreia bem com cada situação e de maneira bem correta acaba fluindo como cinema realmente, pois com essa história sem uma direção eficiente, facilmente poderia virar ou um filme cotidiano sem muito volume ou algo novelesco demais, e felizmente isso não ocorreu em momento algum, o que faz valer todas as apostas que fazem sempre na diretora, pois ela sabe como conduzir bem uma trama.
Sobre as atuações, teríamos que quase que criar um parágrafo a parte para toda expressividade de Maria Ribeiro com sua Rosa, de modo que a atriz não só colocou toda sua interpretação no papel, como criou estilos, dosou caras e bocas e trabalhou completamente a dinâmica da personagem para si, fazendo com que não conseguíssemos sequer tirar os olhos dela a cada momento seu, fazendo nuances a cada virada de câmera, ou seja, não sei se o papel foi escrito para ela, mas certamente vai fazer com que ela seja lembrada sempre por ele. Outra excelente atriz que acabou saindo muito bem na produção foi Clarice Abujamra que deu um tom bem pesado para sua personagem e por pouco não forçou a barra, mas acertou o tom e o resultado foi bem colocado. Dos demais, a maioria foi participativa, e Paulinho Vilhena com seu Dado foi meio apático, mas agradável na medida do possível, Jorge Mautner trabalhou seu Homero de uma maneira bem poética e interessante, embora forçada demais, e até mesmo a participação de Herson Capri como um Ministro da Casa Civil muito acessível ficou jogada demais, de modo que só podemos valorizar um pouco a equipe secundária por parte de Felipe Rocha como Pedro, pelo estilo que trabalhou de forma interessante com a protagonista, mas que contrastou bem na cena da reunião de pais, ou seja, um filme que ficou muito dependente das protagonistas. Quanto das crianças, todas foram muito bem e soaram realmente como crianças, pois temos alguns filmes que algumas parecem ter outra idade em cena.
Dentro do conceito visual, o longa não explorou muita criatividade, focando até mesmo na simplicidade da família, colocando um apartamento, uma casa cheia de plantas, muitos livros e alguns outros lugares espalhados para dar o contexto completo da trama, de modo que ficasse bem dentro de uma realidade sem muitos enfeites de cena, ou seja, um filme mais cru do que algo que exigisse apelos visuais, e isso de certa forma é um acerto, mas poderiam ter trabalhado um pouco mais nos elementos, como fizeram nas últimas cenas, aonde o tênis foi importante, o piano foi importante, e por aí vai. A fotografia mesmo nas cenas mais densas ousou trabalhar com muita luz, criando um aspecto mais forte de instrumentos dialogados do que algo que fosse medido em tons, e isso só funciona bem quando se tem uma boa atriz, e aqui felizmente aconteceu isso dando certo, pois poderia ter dado muito errado.
Enfim, é um filme muito bonito, muito inteligente e que consegue agradar pela simplicidade cênica bem dirigida e pela excelente atuação da protagonista. Não digo que seja o melhor filme para representar o Brasil numa eventual campanha pelo Oscar como muitos andam dizendo, mas certamente é algo que vale a pena ser visto para que muitos pensem sobre o tema central: verdades. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com um texto diferente, afinal vou falar de uma série que está iniciando seus trabalhos no cinema, então abraços e até breve.
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