Cotidiano, essa pode ser a palavra que mais aproxima o estilo demonstrado pelo filme "Corpo Elétrico". E isso não é algo ruim, pois vemos tantos filmes de temática homossexual, aonde tudo soa pejorativo ou forçado, e aqui vemos uma realidade comum, aonde vemos a convivência dos protagonistas com seus colegas de fábrica e de shows, vemos suas ambições aflorarem, e claro seus relacionamentos de uma maneira bem sutil e simples, ou seja, o dia a dia deles, e já que falei que isso não é algo ruim, também não é algo tão bom de se ver num filme, pois geralmente acabamos esperando algum conflito e/ou algo que faça o público esperar por algo, e aqui apenas acompanhamos sua vida e nada mais. Portanto é um filme artístico que até funciona pela simplicidade e pela coerência dos fatos mostrados, mas poderiam ter aprofundado mais em algo (queira fosse nos preconceitos que eles sofrem, ou em qualquer outra coisa, mas saísse do óbvio).
O longa nos mostra que Elias é o jovem criador de uma fábrica de confecção roupas no centro de São Paulo. Ele mantém pouco contato com a família na Paraíba, e passa seus dias entre o trabalho e os encontros com outros homens. Enquanto reflete sobre as possibilidades de futuro, começa a ficar cada vez mais próximo dos colegas da fábrica, e vê os amigos seguirem caminhos diferentes dos seus.
Podemos dizer que o diretor Marcelo Caetano aprendeu muito nas produções que trabalhou para compor seu estilo e fazer aqui em sua primeira direção de longa algo bem eloquente, pois vemos nuances de "Tatuagem", "Boi Neon" e até de "Mãe Só Há Uma", nas perspectivas que ele nos entrega e tenta passar com sua história aqui, mas faltou a força que vimos em todos esses filmes para que o seu também atingisse em cheio um público maior. Sei que o público alvo vai ver, se emocionar e até se enxergar como o protagonista, pois sabemos que a vida dos homossexuais não é feita somente de preconceitos e coisas ruins que outros longas acabam retratando, porém ao deixar o longa singelo demais, o resultado parece não chegar em momento algum, e ao finalizar completamente aberto (ou como outra sinopse preferiu ser colocada mostrando o prisma de emoções que é o protagonista, catalisando um pouco de cada um) ele acaba parecendo algo inacabado, que veríamos mais algo depois, e não, o filme é apenas isso, o cotidiano, o dia a dia, e nada além.
Outro grande detalhe do filme foi trabalhar com novos atores do mercado, e com isso conseguir que as reações fossem as mais realistas possíveis, de modo que mesmo praticamente todos estreando na frente das câmeras, suas expressões foram bem colocadas e agradaram bastante no resultado final. Kelner Macêdo foi bem colocado como o protagonista Elias e demonstrou além de carisma um senso bem próximo do crível para com seu personagem, trabalhando cada momento os semblantes corretos e sem empregar didatismo voluntário agradou no que fez. Lucas Andrade também foi bem com seu Wellington, mas de forma mais despojada colocou alegria e disposição no filme, fazendo algo menos morno do que o protagonista, e talvez se a história ficasse mais no seu eixo seria algo mais agitado. Dentre os demais, vemos tudo bem colocado, mas sem muita aferição de deixar a responsabilidade com alguém, de modo que todos se saem bem, mas não atingem algo que valha destacar, porém temos de ser bem sinceros, também não atrapalham em nada, e principalmente acertam no tom para que o filme flua bem agradável.
No conceito visual, escolheram bem a fábrica, os apartamentos e casas para dar uma vivência cênica casual, mas que não firma muito dentro de algo amplo, pois o contexto em si se passa em São Paulo, mas certamente poderia ser em qualquer outra cidade que veríamos o mesmo ambiente, e os mesmos personagens, e isso é bacana de ver, mas talvez algo próprio chamaria mais atenção. Com uma fotografia dinâmica, o longa acabou não trabalhando muitos tons dramáticos, nem cômicos, deixando o casual funcionar, e assim o resultado acabou linear demais.
Enfim, como disse é um longa bem simples que infelizmente não atinge um âmbito maior que aparentava, talvez com um clímax maior ou algum ponto de virada conseguiria algo mais forte e assim resultaria em um filme fora do cotidiano, mas se esse era o objetivo, conseguiram fazer assim. Portanto, se você gosta de filmes com mais dinâmica, pontos de virada e que entre realmente em algo ficcional, talvez esse longa não seja o mais acertado para conferir, embora sendo bem técnico, o resultado acabe sendo bonito de ver, e sendo assim recomendo ele mais como um filme de nicho, aonde alguns talvez se enxergue no protagonista, outros vejam um mundo mais aberto, mas como costumo falar, faltou cinema realmente na proposta. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até breve.
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