Sempre gosto de começar os textos de comédias apontando o fato principal do estilo, e que é a maior obrigação de longas do gênero: fazer o público rir. Então se um filme entrega esse fator já garante 50% da nota do Coelho, e aí a partir desse ponto podemos começar a falar do restante. Digo isso, pois sempre vemos muitos longas que são classificados como comédia, mas apenas diverte o público e acaba mais enrolando o espectador do que fazendo com que ele ria e saia da sessão com prazer do que acabou de ver, e hoje posso confessar que estava com medo do que o longa nacional, "Divórcio" poderia entregar, pois o trailer parecia deveras forçado, e felizmente foi uma grata surpresa o resultado final apresentado hoje, pois o filme ficou bem característico (vemos muito do que ocorre no interior quase que diariamente, com pessoas/empresários fúteis, festas aonde quase todos se conhecem, e por aí vai entre outros exemplos), não exagera em clichês nem em cenas forçadas para o humor, fazendo com que o público se divirta e ria muito durante praticamente todo o longa, e principalmente, consegue ser uma produção grandiosa cheia de bons momentos que acaba não cansando, e mais ainda, foge bastante do tradicional novelesco das comédias nacionais! Ou seja, um pacote completo que funciona do começo ao fim, e se quiser tem bala na agulha ainda para continuações com o desfecho apresentado.
A sinopse nos conta que o casal Noeli e Júlio levava uma vida humilde, até que os dois ficam ricos depois de criar um molho de tomate que virou sucesso nacional. Com o passar dos anos os dois vão se distanciando e um incidente é a gota d'água para a separação. Enquanto vão em busca do melhor advogado para defender o patrimônio, os dois se envolvem num processo de divórcio complicado.
Estamos tão acostumados com comédias novelescas que quando surge algo diferenciado ficamos até surpresos, e aqui o roteiro de Paulo Cursino embasado no argumento do produtor LG Tubaldini Jr. é tão bem pontuado, com nuances que não ficam devendo em nada para as grandes comédias americanas, trabalhando (claro que com devidos exageros artísticos para aumentar a comicidade) muito bem trejeitos e situações do interior paulista que a cada novo ato vamos reconhecendo cada momento (e quem for da região, conhecendo também os lugares), de modo que vamos nos conectando aos personagens e até torcendo para cada um de certa forma, mas claro que como estamos em uma comédia queremos rir, então torcemos pro pior para cada lado, pois fica mais divertido ver isso. Além desse ótimo detalhamento da história, a composição foi muito bem orquestrada pelo diretor Pedro Amorim, que conseguiu ter um primeiro ato agitado, um segundo divertidíssimo, e um terceiro mais calmo para dar o fechamento coerente e tradicional, de modo que o filme fluiu e agradou mesmo que com pequenos defeitos, ou seja, mostrou que sabe fazer uma comédia com padrões altos, sem precisar recair para o estilo de novelas, com muitos personagens, e/ou esquetes cômicas para cada ator/comediante, e sendo assim seu filme diverte sozinho, e embora tenha forçado um pouco nos sotaques no início (característica mais da origem de fazendas dos protagonistas, mas que hoje nem tanto é visto pela cidade) com o andar da trama fica mais leve e coerente, pontuando na medida certa.
Outro medo muito evidente era o de ver dois atores não usuais de comédia (embora Camila venha aparecendo bastante em longas do estilo) que fizessem o público rir sem forçar, ainda mais que convenhamos Murilo Benício é daqueles atores que praticamente vemos um filme seu já sabendo as expressões que vai fazer, ou seja, tudo poderia dar errado aqui, e muito pelo contrário, pois o acerto, embora tenha leves gags exageradas como tombos desnecessários, risadas e outros detalhes que ficaram evidentes para chamar atenção, é muito bem feito por todos do elenco. Para começar Murilo Benício entregou um Júlio bobo, mas disposto a tudo, e com muita dinâmica de olhares e funcionalidades bem encaixadas para que seu personagem fosse diferenciado acabou encontrando um estilo próprio e divertido de ver, de modo que vemos muitos Júlios espalhados pelo Brasil afora, que sobem na vida e só lembram do amor após perder tudo, ou seja, funcionou bem. Camila Morgado (que é muito mais linda pessoalmente do que no vídeo!) trabalhou muito bem, empunhou armas com maestria e se aventurou para entregar uma Noeli de várias nuances, conseguindo chamar atenção sem cair do salto (ou melhor, caindo algumas vezes!) de tal maneira que é até difícil torcer para alguém em um divórcio, mas sua mira na cena final poderia estar mais acertada, pois foi perfeita no longa! Dentre os muitos coadjuvantes temos de falar com toda certeza que todos se enquadraram muito bem nos seus devidos papeis, conseguindo não atrapalhar a frente dos protagonistas e ainda adicionar muito para a produção, e desde Thelmo Fernandes com seu Milton (aquele amigo que apoia o outro, mas foge de uma confusão), passando pelos advogados completamente malucos e tradicionais de divórcios interpretados com maestria por André Mattos e Angela Dip, até chegarmos nas participações bem colocadas de Paulinho Serra, Robson Nunes e Luciana Paes, ou seja, um elenco de peso que agradou bastante.
Sobre o contexto visual, para quem é do interior tudo irá funcionar bem, e certamente irá se conectar com praticamente tudo, o que talvez não funcione nas capitais por não estarem tão acostumados com o estilo, mas certamente a produção junto com a direção de arte foi precisa nas escolhas de locações, trabalhando cada ato com muitos elementos cênicos para dar uma representatividade maior e conforme o crescente da trama ia fluindo foram mostrando mais e mais momentos bem colocados que foram bem pesquisados na região para chamar atenção, construindo um longa complexo, com muitos (e bons) efeitos especiais para que além de uma boa comédia a trama encaixasse bem no gênero de ação, e com isso o resultado acabou indo além do tradicional, mostrando bem o gasto do orçamento completamente usado na tela. Por ser um longa com muita ação e poucos momentos com cenas paradas, a fotografia foi mais ampla, sem trabalhar tons medianos, deixando sempre que a ótima luz natural da região sobressaísse e deixasse a comicidade num nível maior, de modo que até temos alguns leves momentos de conflito, mas que com o andar da fotografia acabam passando bem despercebidos.
Enfim, fui realmente preparado para reclamar de muitas coisas, pois não foi um trailer que acabou me conquistando, aparentando ser forçado do começo ao fim, mas que acabou me surpreendendo tanto, funcionando tanto na comicidade quanto na produção em si, que mais do que recomendo a trama para todos que gostem de uma boa comédia com ação, que certamente irá fazer o público rir na maior parte do tempo, e sendo assim como disse no começo, entregando com perfeição o que se exige de um longa do estilo. Portanto fica a dica para conferir a partir da próxima quinta (21/09) nos cinemas de todo o Brasil. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas já volto amanhã com o texto de mais uma pré, afinal essa semana vem bem recheada de estreias, então abraços e até logo mais.
PS: Como disse, funcionou bem a comicidade já teve metade da nota, uma produção na medida mais alguns coelhos, bom roteiro mais um coelho, boa atuação mais um, porém alguns momentos forçados fizeram com que não ficasse com a nota máxima, mas me fez rir muito, e valeu demais a diversão, ficando com essa soma de nota.
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