sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Feito Na América em Imax (American Made)

É engraçado como alguns longas baseados em fatos reais conseguem ser tão malucos e bizarros que ficamos pensando como alguém fez tudo aquilo (sei que muita coisa é inventada para dar algo a mais, mas aqui se percebe o nível que as coisas eram!). Digo isso, pois quem for conferir "Feito Na América" vai achar muita coisa ali ser impossível de ocorrer, e o tom sereno de como tudo foi ocorrendo é algo pior ainda de se imaginar, pois como dito no topo do pôster, Barry Seal trabalhou ao mesmo tempo para todos, "sem enganar" ninguém, e ganhando muito de todos os lados (claro que de Pablo Escobar os números giravam na mesma velocidade de seus aviões, enquanto do lado da CIA/Casa Branca vinham em pacotes bem menores, ou seja, porque não trabalhar para todos!!) o que certamente ninguém poderia pensar em fazer nos anos 70/80, pois é bem mostrado no filme, não tínhamos celular (no máximo pagers!) e se necessitava orelhões para falar com todos, bancos eram minúsculos para guardar tanta grana, e principalmente estava rolando grandes guerras pelo mundo, ou seja, a polícia marcava em cima, mas ainda assim, esse homem maluco fez, e melhor gravou tudo em diversas fitas cassete, para que mais para frente contassem sua história (o motivo de estar gravando, embora vamos descobrir bem para frente da história e não vale aqui um spoiler, é algo que hoje ainda muito usado, mas se não foi uma ideia de gênio para ser usada, pelo menos serviu para um fazerem um bom filme). Não digo que seja o melhor filme do estilo, aliás a história dele já foi contada em um outro longa de 1991, "A Vida Por Um Fio - Entre a Lei e o Crime", mas é tão divertido ver tudo o que ele fez que acabamos curtindo bastante o que vemos na telona, e claro que embora não tenha sido filmado em Imax, a conversão para a telona foi bem encorpada e agrada principalmente nas cenas de voo.

O longa nos mostra que nos anos 1980 o piloto Barry Seal decide se arriscar ao contrabandear drogas e armas para a CIA e também para o cartel de Medellín, na Colômbia, que conta como um dos líderes o traficante Pablo Escobar. É no aeroporto de Mena, no Arkansas, que Barry encontra o lugar ideal para realizar seus negócios ilícitos, facilitados por figurões do alto escalão como o então governador Bill Clinton.

O diretor Doug Liman costumeiramente faz filmes acelerados, cheios de ação, aonde quase não vemos narrações e histórias para serem contadas, mas aqui seu longa não chega a ser lento, mas possui tudo bem orquestrado, alguns leves recortes acelerados e dinâmicos, e com o protagonismo de Cruise, ficamos até perplexos de ver o ator gordinho e sem sair socando todo mundo, ou pulando de paraquedas em abismos (claro que dispensou os dublês/pilotos e comandou seus próprios voos), e sendo assim, inicialmente essa proposta parece até ousada e calma demais, mas vamos nos divertindo com cada ato, conhecendo as maluquices que o piloto fez durante sua vida bem cheia de riscos, e ao final já estamos tão bem colocados com a proposta que o diretor e o ator vem nos entregando que acaba sendo mais uma curtição completa bem historiada e menos dinâmica com ousadias e loucuras. Ou seja, cada ato histórico foi bem trabalhado e montado para que tudo parecesse o mais verossímil possível, e assim sendo o resultado funciona tanto de forma dramática como cômica, o que é bacana e gostoso de ver. Claro que poderia ser bem mais fantasioso/ficcional e menos narrado, mas aí sairia da proposta dos vídeos gravados pelo personagem original contando sua história.

Sobre as atuações, sei que muitos odeiam Tom Cruise pela forma exagerada que entrega seus personagens, e aqui seu Barry Seal é a estampa pura desse estilo que ele tanto gosta, pois é difícil pensar que alguém fez tudo o que é mostrado, mas Tom foi certeiro em não forçar a barra, ganhando peso para se parecer com o original sem precisar de enchimentos e não apelou para algo caricato, fazendo bem diversos momentos e agradando com sintonia e muita loucura, mas certamente conhecendo seu potencial poderia ter ido além. É engraçado que aparecem tantos personagens na produção, alguns com muitos momentos, mas o filme é tanto sobre o protagonista que acabamos nem nos conectando tanto com os demais, e sendo assim é fato que Domhnall Gleeson se saiu muito bem nos seus momentos de Schafer, Sarah Wright deu um certo drama para sua Lucy sem ser marcante nem ousada, e principalmente o trio Mauricio Mejía como Pablo Escobar, Benito Martinez como James Rangel e Alejandro Edda como Jorge Ochoa trabalharam perfeitamente como os traficantes mais divertidos do planeta, de modo que não temos erro, mas também nada relativamente chamativo para ficarmos grudados em seus personagens. Mas se temos de pontuar algo extremamente negativo, isso ficou a cargo de Caleb Landry Jones com seu JB, pois de cara sabemos que ele vai ser o erro da produção, da vida de Seal, e tudo mais, e suas caras e bocas exageradas ficaram demasiadamente forçadas para tentar causar, o que acabou sendo falho demais, e por bem pouco não atrapalhou toda a produção. Outros que foram fracos demais foram os policiais, que não fizeram nada para parecer que realmente desejavam pegar o personagem principal, todos soando sonsos demais.

Dentro do contexto cênico podemos dizer com toda certeza que tentaram muito recriar a época com figurinos, locações, e principalmente com objetos, mas certamente poderia ter ficado muito melhor alguns momentos e se não precisassem tanto do artifício da coloração amarelada que é algo já tradicional demais para dar contexto visual de época. Dito isso, arrumaram carros eloquentes do momento, muitos telefones públicos incríveis com suas fichas, pager(bip) algo que nem lembrava de ser bizarro o barulho, e claro muito (mas muitoooooooo mesmo) dinheiro, de modo que nem em filmes de assaltos a banco víamos tanto dinheiro espalhado em bolsas, em caixas e por todo lado, isso sem falar nos figurinos ridículos que esses anos mantinham (destaque bizarro para JB e os outros aviadores da equipe). Já falei do artifício usado na fotografia deixando o longa amarelado demais, mas souberam dosar bem alguns tons para que o filme não ficasse monótono, e com uma boa dinâmica de contrastes, deixando divertido os momentos certos, mas também criando clima para os momentos mais densos e dramáticos, a equipe de fotografia trabalhou para que cada cena fosse grandiosa, não economizando em ângulos e nem em câmeras para colocar sempre o público mais próximo do protagonista.

Enfim, é um filme gostoso, divertido e que passa bem rápido, mas que ficou um pouco documental/biográfico demais (e mesmo sabendo que muita coisa foi inventada para dar um charme a mais na produção), quase toda hora entrando a narração do protagonista na forma quase que uma delação, as diversas pequenas quebras com letreiros representando as fitas, acabaram cansando um pouco a rotina de algo que poderia ser mostrado integralmente. Ou seja, vale a diversão com toda certeza, mas que poderia ser muito mais, portanto quem gostar desse estilo pode ir conferir que não irá se decepcionar, mas quem gosta de algo menos forçado talvez se incomode um pouco. Bem é isso pessoal, esse foi apenas o primeiro dessa semana lotada de estreias, então abraços e até breve.

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