Não digo que o filme "It: A Coisa" seja o longa mais aterrorizador que já vi, mas possui tantos elementos bons em sua composição, criando tensão, bons alívios cômicos para respiradas, naturalidade nas cenas com as crianças, uma fotografia impecável em meio à cenografias perfeitas de época, e uma história tão bem adaptada, que certamente iremos lembrar muito do resultado desse filme (e digo mais, são raras as obras que superam um clássico, e acredito sim na superação dessa obra à de 1990, mesmo lembrando pouquíssimo dela). E sendo assim, podemos dizer que o hall de bons filmes desse ano já tem mais um exemplar, afinal com tantos bons fatores (e elogios que temos de tecer à cada um deles!), é inegável que a obra conseguiu seu maior tiro certeiro, que é fazer com que o público se desespere ansiosamente pela continuação que nem começaram a filmar. Ou seja, um filmaço que certamente muitos não vão ficar com medo após conferir, pois somente se você tiver medo de algo que o palhaço se transforma no longa (afinal ele é um catalisador de medos, se transformando no seu pior pesadelo para se alimentar disso), talvez acabará se conectando e ficará assustado com algo, mas senão o resultado mais frequente é apenas alguns momentos de tensão, pois os atores fizeram expressões perfeitas para todos os momentos, e aí sim é que o longa funciona muito bem.
O longa nos mostra que quando crianças começam a desaparecer misteriosamente na pequena cidade de Derry, no estado de Maine, um grupo de jovens é obrigado a enfrentar seus maiores medos ao desafiar um palhaço maligno chamado Pennywise, que há séculos deixa um rastro de morte e violência.
Com poucos trabalhos em seu currículo, mas agora contando dois longas de terror perfeitos, "Mama"(2013) e "It"(2017), o diretor Andy Muschietti pode certamente entrar para nossa cadernetinha de diretores que precisamos prestar atenção no que faz, pois já disse algumas vezes que adaptar um livro é algo que ou dá muito certo ou vira algo que 99% das pessoas irá reclamar, e a obra de Stephen King ultimamente só tem levado bordoada, deixando claro para alguns que não deveriam mais remexer em seus livros, e o que vimos agora foi algo que sobressaiu completamente qualquer expectativa que tivéssemos sobre o filme criando um âmbito de tempo tão bem colocado, com personagens bem desenvolvidos e interpretados, tensões certeiras sem precisar ficar criando sustos gratuitos (embora exista muitas cenas que nos pegam desprevenidos, mas que funcionam para o contexto do longa), e principalmente analisando a sua direção: ângulos perfeitamente escolhidos para que a história fluísse sozinha, pois poderíamos ter visto um longa bem mais simples e que assustaria, mas aqui ele optou por contar uma história e causar o medo exatamente onde deveria causar, que é nos personagens, e assim sendo sentimos o medo dos protagonistas, vemos suas angústias, e acabamos torcendo por eles, de modo que sem um olhar preciso de um bom diretor, quem ficaria com medo pulando da poltrona seria nós, e o filme apenas seria mais um batido. Ou seja, com uma direção brilhante e bem ousada digamos por não entregar tudo de uma vez, não querendo nos contar quem (ou o que) foi o palhaço no passado (apesar que isso não é algo importante para o momento), não necessitando explicações para cada ato, e ainda assim não deixar o público na mão, o resultado do trabalho do diretor, e claro, do trio de roteiristas Chase Palmer, Cary Fukunaga e Gary Dauberman, é algo expressivo, e que vamos ainda ouvir grandes discussões, pois foi perfeito.
No conceito das interpretações temos de pontuar antes de mais nada os bons momentos bem expressivos que Bill Skarsgård conseguiu fazer com seu Pennywise, pois enquanto muitos esperavam ver um ator mais completo e experiente, ao optar por um jovem de 27 anos apenas, a loucura e disposição que acabou fazendo foi algo muito bem trabalhado e que vamos talvez lembrar em alguns dias nos nossos sonhos, mesmo não sendo algo que assuste realmente (menos quem tem medo de palhaços, claro!). Agora sem dúvida alguma o elenco infantil é daqueles que você fica com muita vontade de aplaudir no final (e claro que exatamente na cena final!), portanto vamos guardar o nome de cada um para lembrar de ver se vão despontar mais para frente, só achei meio ruim a tradução de "losers" para o grupo ficando otários ao invés de perdedores como é mais comum de ver. Já havia elogiado a atuação de Jaeden Lieberher em "Um Santo Vizinho", e aqui o garotinho deu uma personalidade tão bem colocada para seu Bill, com uma gagueira interessante e bem pontuada, funcionando exatamente como nós gagos sabemos bem como é, que ao desenrolar da trama só vamos nos conectando mais na sua saga, ou seja, o garoto é completo. Jeremy Ray Taylor já fez algumas pontas, mas agora após ser o fofo gordinho que sofre à beça no filme, mas que ficamos apaixonados por tudo o que faz com seu Ben, certamente vai conseguir ótimos papeis, pois mostrou muita dinâmica, e principalmente vontade de fazer tudo acontecer. Sophia Lillis nos entregou uma Beverly única, com medos/nojos fortíssimos que sabemos ser o de toda garota, e que com olhares bem aéreos acabou dando uma linha tênue para sua personagem, e mesmo que soubéssemos seu final, torcíamos para outro. Chosen Jacobs merecia ter mais dinâmica/falas/momentos com seu Mike, pois seu medo até acaba virando sua força, mas o garoto possui uma expressão tão forte que talvez pudesse até chamar mais atenção. Finn Wolfhard e Jack Dylan Grazer com seus Richie e Eddie, apenas ficamos bravos com um se achando o garoto sexual apelativo e o outro como hipocondríaco de nível altíssimo que acabam até tendo bons momentos, mas que no fundo desejamos que ficassem calados, mas acertam nas expressões de seus personagens, e isso é o que importa. Talvez o mais fraco de expressão e que poderiam ter escolhido melhor foi Wyatt Oleff como o judeu Stanley, que até tem alguns medos bem sinistros para o filme, mas o jovem ficou muito apático na maior parte do longa. Dentre os demais adultos/jovens, todos se encaixaram bem, e chega a ser até estranho as diversas atitudes dos adultos, e isso talvez no livro seja melhor explicado, embora dê para subentender, e não vale muito destacar atores, pois a personalidade de cada um que vale a pena, como o pai da garotinha com seu teor, que foi bem feito por Stephen Bogaert, o jovem adolescente mala que atormenta todos na escola, mas que vemos depois sua cena perfeita de medo/reação muito bem encaixado por Nicholas Hamilton, e por aí vai, mas como falei no começo, será um filme para se discutir muito, e o texto já está ficando grande demais.
Chega a ser impressionante todo o trabalho cênico que a equipe de arte montou, pesquisando ao extremo figurinos, casas e objetos de época que marcaram o final dos anos 80, com bandas e detalhes tão bem encaixados para dar o teor da trama que ficamos perplexos sem saber para onde olhar e enxergar novos detalhes em cena, juntando tudo isso, temos todos as sínteses clássicas de um bom terror, como sangue para todo lado, coisas nojentas esparramadas pelos personagens, e claro um palhaço e demais personagens assustadores bem caracterizados para chamar atenção, de modo que cada ato em cena é algo que valeria ser estudado a parte para falar em detalhes o que demonstrou e o que sintetizou para causar o medo nos protagonistas e passar as sensações para o público, ou seja, perfeição em nível máximo. A fotografia da trama é outro daqueles momentos que ficamos impressionados, pois geralmente longas de terror/suspense apelam para cenas bem escuras que não vemos sequer um detalhe, e aqui tudo está em evidência, e mesmo no escuro, cada detalhe é mostrado e realçado com luzes contrárias (algumas claro bem falsas) para que o filme tenha um preenchimento visceral interessante e cause como disse acima o medo nos protagonistas, e o público consiga enxergar isso, não ficando subentendido nada, ou seja, algo que poucos conseguem fazer, de modo que vemos tons até bem coloridos em diversos momentos (coisa que é rara de ver em longas do gênero) funcionando com exatidão. Outro grande acerto da trama ficou para com os efeitos especiais, que sem muita computação gráfica (ou até nos momentos que teve um leve excesso) acabou acertando em cheio para causar o susto no público e/ou causar o medo nos protagonistas, tendo movimentos acelerados, coisas voando, luzes acendendo em tons diversos, e tudo mais que pudessem usar e ousar.
Enfim, é um filme perfeito que até pensei em tirar um ponto por alguns detalhes que citei acima de um ou outro personagem, uma ou outra coisa falsa, mas não tem jeito, vai ser nota máxima para o longa, pois conseguiu causar tensão em alguns momentos de suar as mãos, teve momentos bem divertidos e funcionais, fez com que brigássemos com os personagens por ir aonde não deveria ir, e claro funcionou como deveria funcionar: sendo um marco para o terror atual. Ou seja, se você não tem medo de palhaços vá correndo conferir o longa, pois vale muito (só veja se não entrou nenhum maluco com balões na sala para assustar a galera!!!) e certamente será um dos filmes que você irá lembrar por muito tempo. Bem é isso, fico por aqui hoje, praticamente iniciando em plena terça-feira uma nova semana cinematográfica, claro agradecendo ao pessoal da Difusora FM 91,3Mhz pela ótima pré-estreia em conjunto com o UCI Cinemas Ribeirão Preto e a Warner Pictures, em que novamente lotou a sala com ouvintes e amigos para uma sessão perfeita, e volto em breve com mais textos das outras estreias da semana, então abraços e até logo mais.
PS: Talvez um 9,6 seja a melhor nota para o filme, mas sem coelhos quebrados, vamos arredondar para cima.
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